A quarta rodada da Série A será aberta neste sábado (6) com um clássico que carrega a marca da mudança na estrutura do futebol nacional: Cruzeiro x Santos. O jogo das 16h, no Independência é a reedição da decisão da Taça Brasil de 1966, que com a unificação dos títulos brasileiros promovida pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em dezembro de 2010, fez da Raposa o primeiro clube mineiro campeão brasileiro.
Com o assunto unificação e equiparação de títulos em alta, pelo desejo do rival celeste, o Atlético, de ter o Torneio dos Campeões de 1937 reconhecido como Brasileirão, vamos recorrer ao Dossiê da Unificação dos Títulos Brasileiros a partir de 1959, de autoria de José Carlos Peres e Odir Cunha, para contar a história da final entre cruzeirenses e santistas em 1966.
As trajetórias dos 6 a 2 na partida de ida, no Mineirão, e dos 3 a 2, de virada, na volta, no Pacaembu, após o Cruzeiro perder o primeiro tempo por 2 a0, são bem conhecidos. Mas há dois pontos importantes que são destacados pelo livro.
O título da parte que trata da decisão, após o Cruzeiro eliminar Americano-RJ, Grêmio-RS e Fluminense-RJ é: “Dois jogos que mudaram o País”.
E não há exagero dos autores, quando se percebe o que representou aquela façanha cruzeirense diante do Santos, de Pelé, que era tratado pela imprensa como o melhor time do mundo.
No Jornal dos Sports, de 9 de janeiro de 1966, a coluna de Nelson Rodrigues tem o seguinte parágrafo destacado pelo Dossiê: “Depois da vergonha e da frustração da Copa do Mundo, nenhum acontecimento teve a importância e a transcendência da vitória de anteontem. Por outro lado, não foi só a beleza da partida, ou seu dramatismo incomparável. É preciso destacar o nobre feito épico que torna inesquecível o feito do Cruzeiro. Não tenhamos medo de fazer a sóbria justiça: aí está, repito, o maior time do mundo”.
No documento, os dois autores fazem a segunda leitora da conquista celeste e o que ela representou: “O título do Cruzeiro mostrou que o futebol brasileiro não se restringia mais aos grandes times de São Paulo e Rio de Janeiro, além de uma ou outra aparição de clubes nordestinos. Minas Gerais e Rio Grande do Sul tinham estrutura, poder econômico e equipes à altura dos melhores do País. Essa constatação acabaria gerando, no ano seguinte, a primeira edição do Torneio Roberto Gomes Pedrosa ampliado, ou Robertão, que deixaria de ter apenas times de Rio e São Paulo”.
Sim, a conquista do jovem time do Cruzeiro sobre o poderoso Santos de Pelé representou esperança para o futebol brasileiro, que vinha de um fracasso na Copa da Inglaterra, mas chegaria ao tri em 1970, no México.
Além disso teve papel importante na democratização do futebol brasileiro, pois o tradicional Torneio Rio-São Paulo, que era o Roberto Gomes Pedrosa (Robertão) contou em 1967 com Atlético, Cruzeiro, Internacional, Grêmio e Ferroviário, do Paraná.
A conquista da Taça Brasil pelo Cruzeiro sobre o Santos, clássico que terá mais um capítulo neste sábado, no Independência, ganhou leituras além da façanha celeste no Dossiê da Unificação dos Títulos Brasileiros a partir de 1959.
2003
Na primeira edição do Brasileirão por pontos corridos, a briga pela taça foi entre o Cruzeiro, de Alex, e o Santos, de Robinho, que eram os dois melhores times do País na época.
O Peixe tinha vencido a última edição da Série A com a reta final em mata-matas, em 2002, e tinha sido vice-campeão da Libertadores em 2003, derrotado pelo então poderoso Boca Juniors, da Argentina, na final.
A Raposa, dirigida por Vanderlei Luxemburgo, tinha levantado na temporada as taças do Campeonato Mineiro e da Copa do Brasil.
Os dois confrontos entre Cruzeiro e Santos no Brasileirão foram espetaculares. E os cruzeirenses ficaram com a taça principalmente por terem vencido ambos. Na oitava rodada, em 10 de maio, fizeram 2 a 0 na Vila Belmiro, gols de Aristizábal e Mota.
No returno, no Mineirão, a goleada por 3 a 0, em 20 de setembro, com dois gols de Aristizábal e um de Felipe Melo, significou a arrancada cruzeirense para a taça.
O jogo deste sábado envolve equipes sem o poderia técnico que Cruzeiro e Santos tinham em 1966 ou 2003, mas a história faz do jogo do Independência um clássico marcado para sempre no Brasileirão.