Ouvindo...

Finalistas, Argentina e França perderam para árabes na Copa do Catar

Arábia Saudita e Tunísia alcançaram façanhas que já entraram para a história do futebol, assim como a campanha de Marrocos

Jogadores da Arábia Saudita comemoram vitória de virada sobre a Argentina, na primeira fase da Copa do Mundo do Catar

Um leve toque de esquerda, no contrapé do goleiro, e um chute potente para estufar as redes no ângulo, reafirmaram o poder do futebol de realizar o improvável. Foi graças a esses dois lances que Tunísia e Arábia Saudita chegaram a façanhas inacreditáveis, que já entraram para a história das Copas.

Os dois países árabes venceram uma dupla de gigantes do futebol, bicampeões mundiais, que agora se digladiam entre si para saber quem será o primeiro a colocar uma terceira estrela no peito, arrebatando o troféu mais cobiçado do planeta-bola. Tudo na primeira Copa disputada no Oriente Médio...

Para se ter uma ideia do tamanho do feito, o príncipe da Arábia Saudita declarou feriado nacional após a equipe vencer, de virada, a Argentina de Messi, por 2 a 1, na estreia das equipes na Copa do Catar. E correu até o boato de que os jogadores seriam premiados com carros novinhos em folha.

Antes da competição, a expectativa era que eles não conseguissem nenhum empate, somando mais derrotas a um histórico consolidado de reveses. Ao vencer a França por 1 a 0, a Tunísia colocou no bolso ninguém menos do que a atual detentora da taça, e se não fosse o gol da Austrália, avançava na Copa.

Parece mais do que coincidência o fato de que Argentina e França tenham sucumbido a Tunísia e Arábia Saudita na mesma edição em que o Irã bateu o País de Gales e lutou pela classificação às oitavas até a última rodada da fase de grupos e, claro, o Marrocos entrou definitivamente para os almanaques esportivos ao levar uma seleção africana pela primeira vez às semifinais, superando países como Bélgica, Espanha e Portugal.

Em comum, a origem árabe. O barulho que essas torcidas provocaram fora de campo no Catar, nas arquibancadas, estava em perfeita sintonia com o desempenho nos gramados. Elas se sentiam literalmente em casa. A Copa do Mundo disputada em território árabe, com todos os problemas relacionados a violências institucionalizadas, permitiu que uma outra cultura se abrisse ao futebol, e trouxe a sensação de que manter esses países isolados tende a reforçar tendências autoritárias.

É na convivência e no contraditório que viceja a tolerância. Além da oportunidade de reconhecer, na diferença diante do outro, inúmeras semelhanças. Como, por exemplo, a paixão por esse esporte mágico que permite a vitória dos mais fracos. Nada disso impede a denúncia aos reais interesses da Fifa na situação, relacionados aos ganhos financeiros, e não propriamente a benefícios culturais.

Argentina e França duelam pela taça. Mas já há vencedores entre os árabes.