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Lojas Americanas anuncia acordo para pagar a divída com credores

Após a descoberta da fraude contábil, a varejista entrou em recuperaçõ judicial e precisou negociar o valor das dívidas com seus acionistas

Mais de 90% dos credores da Americanas aprovaram o plano de recuperação judicial protocolado na Justiça

Os credores das Lojas Americanas aprovaram, nessa terça-feira (19), o plano de recuperação judicial da empresa, após o escândalo por inconsistências contábeis. A varejista emitiu nota oficializando o acordo.

A empresa se dispôs a negociar uma dívida estimada em R$ 43 bilhões com 16.300 credores, indicou à Justiça.

Um total 91,14% dos credores, que representam quase a integralidade da dívida, aprovaram o plano.

“A companhia acredita que o PRJ (Plano de Recuperação Judicial) aprovado atende a todas as partes interessadas de forma equilibrada e representa um importante passo no processo de reestruturação do Grupo Americanas”, acrescenta a nota.

A Americanas iniciou em janeiro de 2023 o plano de recuperação judicial, que consiste na execução de medidas para evitar a falência da empresa.

O plano de recuperação judicial tem como objetivo a reestruturação das dívidas, buscando negociar em condições mais favoráveis com os credores. Esse processo envolve a apresentação de um plano detalhado que descreve como a empresa pretende lidar com suas obrigações financeiras e se reerguer.

A proposta, agora, deve ser homologada pela 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, que tramita o processo.

O que aconteceu com as Americanas?

Fundada em 1929, a Lojas Americanas se envolveu em um escândalo, em janeiro de 2023, quando seu recém-nomeado CEO, Sérgio Rial, renunciou ao cargo após encontrar inconsistências contábeis de cerca de R$ 20 bilhões.

A fraude consistia na manipulação do balanço financeiro da empresa para inflar seus resultados e foi estimada em R$ 25,3 bilhões, número que representa mais da metade do lucro líquido da empresa em 2022.

A fraude contábil revelada nas L ojas Americanas fez o lucro líquido de R$ 544 milhões, registrado em 2021, se transformar em prejuízo de R$ 6,2 bilhões.

A descoberta causou a queda das ações da empresa na bolsa de valores e suas operações se tornaram insustentáveis, levando a empresa a aderir um plano de recuperação judicial.

Segundo a Americanas, cerca de 4.500 pessoas perderam o emprego após descoberta da fraude contábil. As demissões ocorreram em todas as áreas da empresa, incluindo lojas físicas, e-commerce e escritórios.

Em fevereiro de 2023, a Câmara dos Deputados abriu uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar os crimes. Até seu encerramento, em setembro, a investigação ouviu 48 testemunhas, incluindo executivos da Americanas, ex-auditores independentes, advogados e consultores.

Em depoimento à CPI das Lojas Americanas, o ex-CEO Miguel Gutierrez admitiu fraude na empresa e acusou os três principais acionistas da empresa (os bilionários Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles) de terem conhecimento da fraude contábil.

“Me tornei conveniente ‘bode expiatório’ para ser sacrificado em nome da proteção de figuras notórias e poderosas do capitalismo brasileiro”, afirmou Gutierrez em carta.

Os acionistas, que juntos têm uma participação de cerca de 30% na Americacas, negaram conhecer as manobras contábeis e dizem ter aumentado o capital da empresa em R$ 12 bilhões.

Em resposta, eles protocolaram três provas nos autos do processo que envolvem diretamente o ex-CEO a fraude contábil que atingiu a empresa.

O relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Americanas apontou que a fraude na empresa foi perpetrada por executivos da empresa, com o conhecimento e a participação de alguns acionistas.

Como funciona uma recuperação judicial?

O plano de recuperação judicial é uma ferramenta legal disponível para empresas que enfrentam dificuldades financeiras, mas que ainda têm a possibilidade de se reerguer financeiramente.

O objetivo do plano de recuperação judicial é oferecer uma oportunidade para as empresas superarem problemas temporários, preservando empregos, mantendo as suas operações e pagando as dívidas de maneira reestruturada.

No Brasil, o plano de recuperação judicial é regido pela Lei nº 11.101/2005, conhecida como Lei de Recuperação de Empresas e Falência (LRF), que estabelece as diretrizes para a recuperação judicial, extrajudicial e a falência de empresas.

Entenda como funciona um processo de recuperação judicial no Brasil:

  • A empresa deve protocolar um pedido de recuperação judicial junto ao Poder Judiciário, indicando a situação econômica e apresentando a documentação necessária.
  • Ao solicitar a recuperação judicial, a empresa obtém automaticamente a suspensão de ações judiciais e execuções por parte de credores, oferecendo um período de estabilidade para a elaboração do plano.
  • O juiz responsável pelo processo nomeia um administrador judicial, que atuará na supervisão do processo de recuperação, auxiliando na elaboração do plano e fiscalizando sua execução.
  • A empresa realiza uma assembleia geral de credores para apresentar o plano de recuperação. Durante a assembleia, os credores votam pela aprovação ou rejeição do plano.
  • O plano é considerado aprovado se obtiver a aprovação de credores que representem mais da metade do valor total dos créditos de cada categoria.
  • Após a aprovação pelos credores, o plano de recuperação é submetido ao juiz para homologação. Se homologado, o plano torna-se legalmente obrigatório e vincula tanto a empresa em recuperação quanto os credores envolvidos no processo.
  • A empresa passa a executar o plano de recuperação aprovado, reestruturando suas atividades, negociando dívidas e buscando a superação das dificuldades financeiras.
  • O processo de recuperação judicial é monitorado pelo juiz e pelo administrador judicial, que asseguram o cumprimento das obrigações estabelecidas no plano.
  • Caso o plano de recuperação judicial não seja aprovado ou não seja possível sua execução, a empresa pode eventualmente entrar em falência, conforme previsto na legislação.

*Com informações de AFP

Formado em Jornalismo pela UFMG, com passagens pelo jornal Estado de Minas/Portal Uai. Hoje, é repórter multimídia da Itatiaia.