Ouvindo...

Não estamos tão desumanos assim...

Antes, a ordem era isolar o problema e, se necessário, simplesmente condenar os infectados, agora escolhemos proteger a vida de todos

Agora que o mundo comemora – com certa reserva, sim – a declaração do fim da pandemia de COVID-19 pela Organização Mundial de Saúde, é hora de comparar o comportamento da humanidade com relação a outros momentos de pavor universal com determinadas doenças.

Quando comparamos a postura e as escolhas da sociedade na grande praga de Marsella, em 1720; pandemia da cólera, em 1820; e a gripe espanhola, de 1920, com tudo o que vivemos nos últimos três anos, chegaremos à conclusão de que há progressos humanitários.

Antes, a ordem era isolar o problema e, se necessário, simplesmente condenar os infectados. E vida que se segue. Agora, escolhemos proteger a vida de todos – e de cada um – ganhando tempo para reorganizar o modo de viver. Nos acostumamos a ficar em casa, trabalhar em casa, reparar e reformar alguns detalhes da casa, como aquela torneira que estava pingando, aquela fechadura que necessitava de um ajuste ou a reformulação de uma horta.

Esses anos serviram para pais ficarem perto dos filhos, ouvirem músicas com os filhos. Obrigaram casais a conviverem de verdade e, claro, nos casos em que havia verdadeira sintonia, o amor cresceu. Quando a convivência era apenas suportável, a pandemia serviu também para desfazer mentiras.

A pandemia de agora nos mostrou que um carro espetacular, a joia mais reluzente e todas as formas de luxo de nada valem se a gente não puder ir à rua. Que a alma da cidade é gente na rua. Se não há pedestres, carros, movimento, a vida em comunidade é sombria.

A COVID mostrou, sobretudo, a capacidade dos homens e da ciência de – juntos – superarem todas as distâncias e todos os obstáculos para produzir, em meses, uma vacina que normalmente duraria décadas. Infelizmente, também vimos desconfiança, ceticismo, negacionismo, mas, tudo isso é próprio dos humanos.

Se não aprendemos dessa vez como dar menos valor ao material, ao ter, e não priorizarmos a vida, o simples, a família, a ciência, só teremos outra chance daqui a 100 anos.

Antes de trabalhar no rádio, Eduardo Costa foi ascensorista e office-boy de hotel, contínuo, escriturário, caixa-executivo e procurador de banco. Formado em Jornalismo pelo UNI-BH, é pós-graduado em Valores Humanos pela Fundação Getúlio Vargas, possui o MBA Executivo na Ohio University, e é mestre em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Agora ele também está na grande rede!
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