A morte de um tio autista fez o professor de educação física Davysson Willian Alves Gonçalves Correa, 29 anos, iniciar uma mudança de trajetória que impacta a vida de várias familiar. Natural de Sete Lagoas, na região Central de Minas, ele decidiu criar o Centro de Treinamento Infantil Michel Corrêa, projeto que leva o nome do tio, falecido em 2015, e oferece atividades físicas personalizadas a crianças. Nesta quarta-feira (2), Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo, Davysson o desafio de atender crianças autista sem ter apoio de instituições, privadas ou públicas.
“Hoje, o projeto é mantido com muito esforço pessoal. Eu e minha esposa investimos praticamente tudo que tínhamos— tanto financeiramente quanto emocionalmente — pra tirar esse sonho do papel. Ainda não temos apoio público nem patrocínio, então tudo é sustentado com os atendimentos que realizo no Centro. Cada família que acredita no nosso trabalho ajuda a manter o espaço funcionando. E claro, a vontade de fazer a diferença é o que me move todos os dias”, disse Davysson, lembrando que o projeto nasceu em meio a um drama familiar.
“Meu tio, Michel Corrêa, era autista e uma das pessoas mais afetuosas que conheci. Depois da morte da nossa avó, ele entrou em depressão e infelizmente faleceu. Aquilo me marcou profundamente e me fez perceber o quanto a falta de acolhimento, estímulo e conexão pode afetar a vida de uma pessoa neurodivergente”, comentou.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que o autismo afeta uma em cada 100 crianças em todo o mundo. O Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo foi instituído em 2007 pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o objetivo de difundir informações sobre essa condição do neurodesenvolvimento humano e reduzir o preconceito que cerca as pessoas afetadas pelo Transtorno do Espectro Autista (TEA). Davysson faz a diferença na vida de vinte crianças de Sete Lagoas e comemora o fato de ter conseguido um espaço físico para o projeto.
“O espaço físico está em fase final de estruturação, mas já estamos atendendo algumas crianças no local. Esse é o começo de um sonho que vem sendo construído com muito esforço, investimento próprio e, principalmente, muito amor. A inauguração oficial está prevista para os próximos meses, mas a missão já está viva”, ressalta.
O educado físico lembra que o projeto estava idealizado desde 2020, quando iniciou cursos e estudos sobre o tempo. “Abri mão de muita coisa. De estabilidade, de conforto, de tempo livre, de projetos pessoais. Investi tudo que eu tinha — inclusive o que eu não tinha — pra esse sonho sair do papel. Teve mês em que eu precisei escolher entre pagar uma conta pessoal ou comprar um material pro centro. Mas eu nunca tive dúvida: esse projeto precisava existir. Porque eu sabia que, se ele já estava mudando a minha vida, ele também mudaria a vida de muitas crianças e famílias, E sabe o que é mais louco? Mesmo abrindo mão de tanto, eu me sinto mais completo do que nunca. Porque hoje eu vivo um propósito”, disse.
Atualmente, oito crianças recebem atendimento personalizado. Com a inauguração do espaço físico, ele planeja aumentar para vinte. Davysson diz ser impossível descrever a sensação ao ver a evolução das crianças.
“Cada pequena conquista é uma vitória gigante. Já tive criança com paralisia cerebral que aprendeu a nadar em duas aulas, por exemplo. Já vi criança autista que não deixava ninguém tocar nela, de repente, me dar um abraço no fim da aula. Isso não tem preço”, reforçou.
TEA
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é caracterizado por dificuldades na comunicação e interação social, podendo envolver outras questões como comportamentos repetitivos, interesses restritos, problemas em lidar com estímulos sensoriais excessivos (som alto, cheiro forte, multidões), dificuldade de aprendizagem e adoção de rotinas muito específicas.
Como ajudar?
Davysson diz que há várias formas de ajudar o projeto, seja divulgando ou apoiando financeiramente. “Acredito que esse projeto não é só meu, ele é da sociedade. Juntos, a gente pode transformar a vida de muitas crianças”.
