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Caso Backer: ‘marco temporal’ deixa duas famílias de fora de acordo do MP, dizem esposas

Ministério Público teria considerado data de furo no tanque da cervejaria como ‘marco zero’ para avaliar vítimas; promotor afirma que famílias podem entrar com ação individual

Eliane Reis perdeu o marido, José Oswaldo de Faria, após um ano e meio de internação

Nove pessoas reconhecidas como vítimas de intoxicação pela cerveja Belorizontina foram reconhecidas no acordo de indenização firmado pela Cervejaria Backer com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) nesta sexta-feira (21). Mas algumas famílias que não foram contempladas pelo acordo estão revoltadas e também querem reparação.

Aline Valadão de Oliveira e Eliane Faria protestaram durante a coletiva de imprensa realizada nesta sexta. O marido de Eliane, José Osvaldo de Faria, morreu após ficar um ano e cinco meses internado. Já Vanderlei de Paula Oliveira, marido de Aline Valadão, sobreviveu a contaminação, mas com várias sequelas.

O promotor de Justiça de Defesa do Consumidor, Fernando Abreu, esclareceu que as vítimas que não foram contempladas no acordo podem entrar com ações individuais, mas Eliane afirma que desistiu e não tem mais paciência para lidar com o assunto.

“O próprio MP já encerrou, eu vou recorrer pra quê? Todo aniversário do Caso Backer eu estou lá, chorando, dando entrevista, revivendo. Vocês sabem o que é ficar cego, sangrar pelo olho, pelo nariz, pela boca, por um ano e meio, sentindo dor, dentro de um box, sem poder mexer? Não é justo. Não falo nada das outras vítimas, de maneira alguma, mas ninguém sofreu mais do que ele”, lamenta Eliane.

Ela conta que uma das vítimas da Belorizontina ficou internada no leito ao lado, com os mesmos sintomas, e sobreviveu. Ela afirma que o paciente “foi tratado pela experiência do meu marido”.

“Marco temporal”

A pedagoga Aline Valadão, esposa de Vanderlei, conta que a família dela e de Eliane estavam contempladas inicialmente nas negociações do acordo, mas que as negociações teriam “demarcado um marco temporal” em setembro de 2019, momento em que um furo no tanque da cervejaria teria sido constatado. A partir daí, as duas famílias ficaram de fora do acordo e foram orientadas a entrar com uma ação individual, já que as contaminações das duas vítimas teriam ocorrido antes.

“Agora é muito simples dizer ‘corram atrás individualmente’. A gente sabe que isso tira força e responsabilidade dos verdadeiros vilões. A cada vez que meu marido sai para fazer uma perícia, nós revivemos um sofrimento.”

As duas famílias afirmam que possuem relatórios de perícias que incluem os dois homens como vítimas da Belorizontina, mas que, após a demarcação da data, os dois casos foram colocados em dúvida: “não se diz no acordo nem que sim, nem que não, mas a partir do momento que não se coloca como vítima, eles negam algo que aconteceu conosco”, completa Aline.

Jornalista formado pela UFMG, com passagens pela Rádio UFMG Educativa, R7/Record e Portal Inset/Banco Inter. Colecionador de discos de vinil, apaixonado por livros e muito curioso.
Repórter de política na Rádio Itatiaia. Começou no rádio comunitário aos 14 anos. Graduou-se em jornalismo pela PUC Minas. No rádio, teve passagens pela Alvorada FM, BandNews FM e CBN, no Grupo Globo. No Grupo Bandeirantes, ocupou vários cargos até chegar às funções de âncora e coordenador de redação na BandNews FM BH. Na televisão, participava diariamente da TV Band Minas e do BandNews TV. Vencedor de 8 prêmios de jornalismo. Já foi eleito pelo Portal dos Jornalistas um dos 50 profissionais mais premiados do Brasil.