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Busca por usados cai até 80% em BH após programa do governo: ‘não tem cliente’

Incentivo para carros 0KM acabou impactando a venda de usados e deixou empresários na bronca; busca por carros novos cresceu, mas está abaixo da expectativa

Programa para baratear carros novos acabou prejudicando a venda de usados

O programa de crédito do Governo Federal para tentar baratear o preço dos carros 0KM no Brasil ainda causa pouco impacto nas concessionárias de carros novos em Belo Horizonte. Para piorar, as lojas de usados registram queda na busca por seminovos e até cancelamento de vendas já fechadas.

Apesar do programa ser focado nos carros 0KM, o impacto da medida foi sentido primeiro entre os revendedores de usados, que foram prejudicados pela expectativa de redução nos preços que acabou não sendo tão significativa assim. O gerente de seminovos da Reauto Contagem, Ângelo Ildefonso, foi direto ao descrever a situação da loja.

“O movimento já estava fraco, agora parou totalmente. Hoje não está entrando cliente, não tem gente interessada, não tem lead. A compra e venda de seminovos acaba sendo impactada, já que eu não posso mais pagar o preço de tabela em um carro de 2019 cujo preço é muito próximo do de 2022.”

André Alvim, proprietário da Conexão Seminovos, contou à Itatiaia que só fez sua primeira venda do mês nesta quarta-feira (7). Além disso, só o anúncio prévio do programa, feito no dia 25 de maio, já prejudicou o resultado da loja no mês passado. Para o empresário, as medidas não são suficientes.

“O que faz mais diferença é crédito e taxa de juros. Não adianta cair R$ 8 mil para uma população que não tem condição de comprar. Essa é uma medida temporária que não ajuda ninguém, só as montadoras. Agora ainda estão falando em onerar o diesel para pagar a conta. Enquanto isso, a loja enfrenta queda brutal na procura e cancelamento de vendas engatilhadas.”

Carros novos ainda estão no pátio

O movimento nas concessionárias de carros 0KM cresceu, mas abaixo da expectativa. O gerente de veículos novos da Reauto Contagem, Marco Túlio Ribeiro, afirma que a indefinição do Governo Federal ao anunciar os incentivos criou uma expectativa que acabou não sendo alcançada.

“Não teve gente acampando na porta, fila de compradores. Eu não sou pessimista, sou até muito otimista, mas acho que o governo agiu mal ao fazer um pequeno anúncio que parou todo o mercado. Muita gente liga, pergunta os novos preços, mas conversão imediata ainda não houve.”

Marco Túlio acredita que os possíveis compradores vão “mastigar” a informação nas próximas semanas e, por fim, vão acabar fechando negócio. Já Thiago Maia, diretor da Nissan Carbel Japão, afirma que muitas montadoras, como a própria Nissan, ainda nem definiram os novos preços, o que deixa a situação um pouco conturbada.

“As coisas ainda estão sendo ajustadas, tem muita coisa para acontecer. Falta operacionalizar, colocar os novos preços no sistema. Até sexta, as coisas vão ser organizadas.”

Programa de crédito

O Governo Federal detalhou, nesta segunda-feira (5), o programa de crédito para baratear o valor dos carros no Brasil. Com as novas regras, o incentivo também inclui vans, ônibus e caminhões, com uma subvenção total de R$ 1,5 bilhão. A divisão ficou da seguinte forma:

  • R$ 500 milhões para automóveis baratos e pouco poluentes

  • R$ 700 milhões para caminhões

  • R$ 300 milhões para vans e ônibus

O incentivo tributário vai variar de acordo com o preço do veículo, eficiência energética e densidade industrial. O desconto para carros varia de R$ 2 mil a R$ 8 mil, enquanto o incentivo para caminhões e ônibus vai de R$ 33,6 mil a R$ 99,4 mil.

Jornalista formado pela UFMG, com passagens pela Rádio UFMG Educativa, R7/Record e Portal Inset/Banco Inter. Colecionador de discos de vinil, apaixonado por livros e muito curioso.