Estudantes da Escola Estadual Sandoval Soares de Azevedo, em Ibirité, na região metropolitana de Belo Horizonte, e membros de movimentos estudantis fizeram uma manifestação antirracista nessa quarta-feira (15). O protesto teria iniciado após a direção da escola impedir os estudantes pretos de entrarem no local usando durag.
O acessório de pano é utilizado para proteger o cabelo de pessoas pretas, e possui um valor simbólico para a comunidade. Inicialmente, ele era utilizado por pessoas escravizadas durante o trabalho, mas foi ressignificado na década de 1930.
Samuel Cardoso, de 18 anos, é aluno da instituição e estava no protesto. Ele explica como a ação da escola prejudicou os alunos. “São coisas que desmoralizam e desmotivam qualquer um dentro da instituição. Aconteceu com meu amigo que é uma pessoa negra e que tem a cultura afrodescendente. Ele usa durag e turbante, que fazem parte da cultura dele. A direção da escola notificou que era proibido o uso desses adereços na instituição. Ele disse que não iria tirar pois não era apenas adereço. Ele usa por ter um valor cultural, mas uma funcionária foi lá e arrancou o durag e guardou na sala”.
A participante do Coletivo Juntos, Sara Soares, questiona o porquê da escola não permitir o uso do acessório. “Se uma estudante fosse muçulmana e tivesse que usar seu hijab teria que ser respeitada, por que não respeitam a cultura negra em um país que sofreu tanto apagamento histórico e silenciamento de uma juventude, e do povo negro, em geral?”, questiona.
Aos gritos de “durag fica, racismo sai”, vários alunos se reuniram na frente da escola com um pedido de desculpas oficial da escola, palestras antirracistas e um formulário autorizando o uso do durag.
Samuel detalha que a direção da escola chegou a intimidá-lo e aos demais estudantes até que uma viatura da polícia foi acionada. Ele conta que a conversa aconteceu com os alunos, a maioria menores de idade, sem a presença de responsáveis. “A diretora foi bem rude e autoritária. Ela foi bem desrespeitosa com minha amiga que estava lá para ajudar a gente no movimento [...] Eu não tratei nenhum servidor da escola com desrespeito e me senti desvalorizado”, desabafou o aluno.
Posicionamento da Secretaria de Estado de Educação
Em nota, a Secretaria de Estado de Educação (SEE) afirmou que a Superintendência Regional de Ensino (SRE) Metropolitana B, responsável pela coordenação da unidade em Ibirité, está acompanhando a situação e irá apurar os fatos. Eles afirmam também que os estudantes e os responsáveis foram ouvidos pela direção da escola.
Confira a íntegra da nota da Secretaria do Estado de Educação
“Sobre a situação que ocorreu na Escola Estadual Sandoval Soares de Azevedo, em Ibirité, a Secretaria de Estado de Educação em Minas Gerais (SEE/MG) informa que a Superintendência Regional de Ensino (SRE) Metropolitana B, responsável pela coordenação da unidade, está acompanhando a situação e irá apurar os fatos. Os estudantes e seus responsáveis foram ouvidos pela direção da unidade escolar.
A SEE/MG também irá reforçar a gestão escolar quanto aos regimentos escolares internos e a importância de realizar ações pedagógicas sobre a diversidade, por meio do Programa de Convivência Democrática, e o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira.
Reforçamos que a SEE/MG repudia quaisquer atitudes, condutas e manifestações de discriminação racial ou étnico-racial, preconceito e racismo. As práticas discriminatórias são atitudes graves, que violam os Direitos Humanos, a Constituição Federal e outras leis específicas, que tratam do respeito ao outro e da igualdade entre todos.”
(Sob supervisão de Enzo Menezes)