Os casos de suicídios em Minas aumentaram 23% entre 2021 e 2022. Foram 948 registradas entre janeiro e julho do ano passado e 1.175 no mesmo período deste ano. De acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública de Minas Gerais, a média mensal de suicídios em Minas em 2022, 167 casos, já supera os registros mensais dos anos anteriores.
Um cenário local que reflete ainda a realidade nacional. As taxas brasileiras estão aumentando nos últimos 20 anos, enquanto caem no mundo. De acordo com o professor do Departamento de Saúde Mental da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Humberto Correa da Silva Filho, o problema é que não existe estratégia nacional ou local para prevenção do suicídio, o que também indica precariedade na assistência à saúde mental.
“O Brasil é hoje um dos poucos grandes países do mundo que não tem estratégia nacional pra prevenção do suicídio. Assim como também não tem estratégia estadual no nosso estado de Minas Gerais. Nos últimos vinte anos as taxas de suicídio aumentaram, estima-se que cerca de 40%. Isso é muito ruim porque no mesmo período no mundo as taxas de suicídio caíram. Nós podemos entender o aumento no Brasil também como um marcador de que a assistência à saúde mental da nossa população é precária”, disse.
Enquanto falta ação do poder público, organizações da sociedade civil se movem para ajudar quem precisa. Organizações como a Alovida, que se propõe a fazer a prevenção do suicídio através da escuta, como explica um dos organizadores da organização, José Maurício de Oliveira Neto. “Estamos aqui para ouvir as pessoas criando um ambiente de escuta que a pessoa tenha liberdade pra falar coisas o que, às vezes, ela não diria para mais ninguém” pontuou
Ordalia Mendes Soares também trabalha em outra organização, o CVV, Centro de Valorização da Vida, que atua para acolher pessoas que precisam de apoio em momentos mais difíceis.
“O CVV está disponível a todas pessoas que estão passando um momento difícil, que estão necessitando de falar e que precisam ser ouvidas. Isso porque, talvez, a partir do momento que ela está falando, está desabafando, está se ouvindo e ela mesma encontra a saída. Nós não damos conselhos. Nós estamos apoiando a pessoa naquele momento delicado”.
De acordo com o professor, os dados sobre suicídios na pandemia ainda não são precisos, mas apontam estabilidade. O aumento está na taxa de doenças mentais.
“Nós temos alguns estudos realizados no mundo que mostra as taxas de suicídio ficaram estáveis ou talvez tenham até caído. Por outro lado, na pandemia nós tivemos estudos do mundo inteiro mostrando um aumento nas taxas das doenças mentais: depressão, ansiedade, uso de álcool e outras substâncias”, completou.