No último sábado (11), a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a Sociedade Gaúcha de Infectologia (SGI) e a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) divulgaram um comunicado técnico ressaltando a relevância da vacinação para o Estado do Rio Grande do Sul (RS) e fornecendo diretrizes sobre a administração dos imunizantes. Nos últimos 15 dias, o estado enfrentou uma de suas piores crises climáticas, com aproximadamente 447 municípios afetados por enchentes, conforme o mais recente boletim divulgado pelo governo estadual.
Seguindo as orientações das entidades médicas, a vacinação deve ser direcionada tanto para a população afetada pelas enchentes quanto para as equipes de resgate e socorro. Para aqueles com histórico de vacinação, recomenda-se apenas a conclusão das doses necessárias para sua faixa etária ou condição de saúde. Por outro lado, pessoas sem registro de vacinação devem ser consideradas não vacinadas para os imunizantes particularmente recomendados na nota técnica.
É importante ressaltar que a administração das vacinas não só previne o surgimento de doenças, mas também desempenha um papel crucial na prevenção de surtos, especialmente em locais como abrigos. Isso é especialmente relevante para doenças transmitidas de pessoa para pessoa, como gripe e COVID-19.
Vacinas recomendadas para situações de enchentes
- Gripe e COVID-19: recomendadas para todas as pessoas com mais de 6 meses de idade (exceto aquelas com contraindicações). É importante observar que ambas se tornam eficazes cerca de duas semanas após a administração e, portanto, outras medidas para reduzir a transmissão desses vírus respiratórios devem ser adotadas.
- Tríplice viral (sarampo, rubéola e caxumba): recomendada para todas as pessoas entre 12 meses e 59 anos de idade, exceto aquelas com contraindicações.
- Hepatite A: desde 2014, é recomendada pelo PNI para todas as crianças aos 12 meses de idade (até os 5 anos, se ainda não vacinadas). Nos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIEs), está disponível para pacientes imunodeprimidos e portadores de doenças crônicas específicas.
Devido ao alto risco de hepatite A no cenário atual do RS, recomenda-se, se possível, a vacinação prioritária para os seguintes grupos suscetíveis a complicações:
- Pacientes especiais (com problemas hepáticos, imunossuprimidos, com doença renal crônica e homens que fazem sexo com outros homens) de qualquer idade, sem registro da vacina hepatite A ou sem carteira de vacinação.
- Adultos entre 18 e 40 anos sem registro da vacina de hepatite A ou sem carteira de vacinação.
- Gestantes
“As pessoas afetadas por desastres naturais e residentes em abrigos onde prevalecem más condições sanitárias, ou que têm contato sistemático com águas insalubres e potencialmente contaminadas por esgoto, enfrentam um maior risco de contrair hepatite A. Essa doença é transmitida principalmente através do contato com fezes, alimentos e água contaminada. Com um período de incubação longo, que pode variar de 15 a 40 dias, é possível que pessoas mesmo já infectadas pelo vírus sejam protegidas pela primeira dose da vacina”, destacaram as entidades por meio da nota.
- Tétano: adolescentes, adultos e idosos devem receber uma dose de reforço antitetânico se não tiverem sido vacinados contra o tétano nos últimos 5 anos. As vacinas dT (tétano/difteria) ou dTpa (tétano/difteria/coqueluche acelular) podem ser usadas de acordo com as recomendações do PNI.
- Raiva: recomendada para pessoas expostas ao risco (após mordida de animal mamífero, incluindo cavalos e gado). Além da vacina, a prevenção pós-exposição pode incluir o uso de soro antirrábico heterólogo ou homólogo.
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Vacinas especialmente recomendadas para socorristas, profissionais de saúde e envolvidos em resgates:
Além de todas as vacinas mencionadas acima, há dois outros tipos de imunizantes especificamente indicados para esses voluntários:
- Hepatite B: essencial para profissionais de saúde e pessoas que podem estar expostas ao contato com fluidos corporais, como bombeiros e militares. A maioria desses profissionais provavelmente já recebeu essa vacina, pois é uma exigência em muitas áreas.
- Febre tifoide: recomendada para socorristas, se disponível, com aplicação de uma dose.
- Leptospirose: na segunda-feira passada, dia 5, a Sociedade Brasileira de Infectologia emitiu recomendações para o Rio Grande do Sul, em colaboração com a Sociedade Gaúcha de Infectologia e a Secretaria da Saúde do Estado, alertando para o aumento potencial de casos de leptospirose na região e destacando as melhores práticas de profilaxia.
A leptospirose é uma enfermidade infecciosa ocasionada pela bactéria do tipo Leptospira, geralmente contraída mediante o contato com água ou solo contaminados pela urina de animais infectados, predominantemente roedores. As inundações, consequentemente, proporcionam um ambiente favorável à propagação da doença, elevando o perigo para aqueles que têm contato com águas poluídas.
Embora o uso de agentes antimicrobianos não seja comumente indicado, devendo ser prescrito somente após a confirmação do diagnóstico, o comunicado ressalta que em circunstâncias de alto risco, como exposição prolongada a áreas alagadas e águas contaminadas, com ou sem ferimentos na pele, a administração desses fármacos pode ser considerada como medida preventiva.
A orientação primordial das instituições responsáveis pelo documento é o emprego de doxiciclina, administrada em dose única para adultos em situações de alto risco após a exposição. Para crianças, a dose é determinada conforme o peso corporal, com um limite máximo estabelecido. Como alternativa, a azitromicina pode ser empregada sob as mesmas condições.
*Com informações de Estadão Conteúdo