O Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox) da Unicamp apresentou, nesta quinta feira (17), um documento de cinco páginas com dados que demonstram um aumento expressivo de casos de intoxicações graves por metanol, um composto químico que está presente no álcool obtido de bombas de abastecimento de postos de combustíveis. Ou seja, a pesquisa aponta que o consumo de 'álcool de posto’ está levando a um desfecho fatal.
Durante sete anos, entre de 2016 a 2023, o CIATox acompanhou o tratamento de alguns pacientes que ingeriram álcool combustível nas cidades de Campinas, Piracicaba e São João da Boa Vista.
Dos 14 casos mais graves, que foram acompanhados pelos pesquisadores, 11 evoluíram a óbito, sendo uma mulher e dez homens, com idades entre 28 e 37 anos. Os casos foram registrados em Campinas (2), Sumaré (2), Santa Bárbara d’Oeste (2), Limeira (1), Itu (2), Jundiaí (1) e Rio Claro (1).
Dentre as principais motivações, os pesquisadores destacaram que a maioria tinham problemas com alcoolismo, dificuldades financeiras para obtenção de bebidas legalizadas, situação de rua e intensa depressão neurológica.
Caso de alerta Nacional
Segundo o documento, os especialistas alertam que essa situação é grave e possivelmente representa a “ponta de um iceberg” quanto ao número de casos semelhantes já ocorridos ou que ainda ocorrem na região e, provavelmente, em outros estados do país.
“Diante dessa situação, entendemos que um conjunto de medidas urgentes devem ser consideradas e implementadas, envolvendo diversas Instituições, como Vigilâncias Epidemiológicas e Sanitárias, os Serviços de Urgência e Emergência, os Serviços de Medicina Forense, a Polícia Civil, e Agência Nacional do Petróleo (ANP)”, diz o documento.
Os pesquisadores reforçam a necessidade de um alerta em todos o país para orientar e prevenir casos como esses, além da união dos principais órgãos, a Associação Brasileira dos Centros de Informação e Assistência Toxicológica (ABRACIT), com expertises em toxicologia clínica, e a Sociedade Brasileira de Toxicologia (SBTox), com expertises em toxicologia analítica, além da Coordenação Geral de Urgência e Emergência do Ministério da Saúde (CGUE/SAS/MS), Grupo Condutor Estadual da Rede de Urgência e Emergência, e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).
Antidoto é escasso
Com relação ao tratamento da intoxicação por metanol, os pesquisadores reforçam que existe um único antídoto disponível no Brasil para o tratamento dessas intoxicações, o etanol, de preferência na apresentação farmacêutica de álcool absoluto para uso IV, disponível de imediato apenas em alguns poucos serviços de urgência. Tal tratamento necessita de monitorização contínua dos níveis séricos de etanol e metanol, que é pouco viável em nosso cenário de disponibilidade de laboratórios de toxicologia. Outro antídoto, de eficácia comprovada e de administração mais simples, apesar do seu custo elevado, é o fomepizol (4-metilpirazol), droga que consta na lista de antídotos dos medicamentos essenciais da OMS.
Outra medida, segundo o documento, seria um alerta direcionado aos Serviços de Medicina Forense, sustentando uma investigação mais aprofundada sobre a causa das mortes de indivíduos vulneráveis, como indivíduos que vivem em situação de rua ou abrigados com dificuldades financeiras, principalmente aqueles com antecedentes de etilismo crônico ou do consumo de outras substâncias psicoativas.
Confira o documento na íntegra: Intoxicação Grave por Metanol Associado à Ingestão de Àlcool Combustível