Um criminoso que usava o Discord, aplicativo popular entre adolescentes, catalogava as vítimas em uma pasta de arquivos denominada “backup das vagabundas estupráveis”. As informações foram reveladas pelo Fantástico nesse domingo (25). “Eles são sádicos, misóginos, eles têm um asco, um avesso por mulheres”, disse o delegado Fábio Pinheiro Lopes à reportagem.
O Discord é app gratuito, projetado inicialmente para comunidades de jogos. No Brasil, o usuário precisa ter ao menos 13 anos para acessá-lo. Ele é um app de troca de mensagens em vídeo, audio ou texto como o Skype ou o TeamSpeak. Em 2023, o aplicativo soma quase a 200 milhões de usuários.
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“Ajoelha, se prostra para mim, eu sou a p*** de um deus para você agora. Você é uma vagabunda que merece sofrer mesmo”, diz um dos suspeitos a uma adolescente.
Segundo a reportagem, ele está preso desde abril. À Polícia Federal, o suspeito admitiu ter chantageado garotas para que elas se mutilassem. Além das dez vítimas localizadas pela PF, o Fantástico encontrou outras cinco.
Automutilação, tortura e pedofilia
Em abril, uma reportagem do Fantástico mostrou uma série de situações alarmantes ocorridas no aplicativo, em que criminosos anônimos incentivam adolescentes a realizar desafios envolvendo automutilação, tortura de animais e até mesmo pedofilia.
Um dos episódios exposto pela reportagem ocorreu em setembro do ano passado. Na ocasião, uma menina de 13 anos, da Grande São Paulo, agrediu o gato de uma vizinha. Primeiro, ela tentou asfixiá-lo e esfaqueá-lo. Depois, ateou fogo no animal. Toda a ação foi transmitida para 16 mil usuários.
Operação
Na última sexta-feira (23), a polícia prendeu dois suspeitos que agiam na plataforma. Um terceiro foi identificado. Além da responsabilização individual dos agressores, o Ministério Público de São Paulo também investiga o próprio Discord.
“Nós estamos apurando, através de um inquérito civil, a falta de segurança da plataforma Discord. Crimes individuais sempre vão ocorrer na internet. O que diferencia é a detecção de que nessa plataforma está ocorrendo um discurso estruturado de ódio. Um local propício para que eles planejem ataque as vítimas e, principalmente, transmitam o conteúdo do crime”, declara o promotor de Justiça de São Paulo Danilo Orlando.
O que diz a plataforma
Em entrevista ao Fantástico, o porta-voz do Discord disse que a plataforma “não tolera comportamento odioso”.
“Nós somos um produto gratuito para mais de 150 milhões de usuários ao redor do mundo, e de tempos em tempos, conteúdo mau e comportamento mau vão acontecer. Nós trabalhamos ativamente para remover esse conteúdo”, afirmou o porta-voz. “Gostaria de enfatizar que a vasta maioria das interações de brasileiros usando Discord são positivas e saudáveis. Nós somos proativos e investigamos grupos que podem estar envolvidos em ameaças a crianças e trabalhamos para tirar esses agentes ruins da plataforma”.