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Homem negro amarrado por PMS vira réu por furto e outros crimes

Policiais que usaram corda para prender o homem foram afastados; caso aconteceu no início de junho

PMs foram afastados após a repercussão do caso

A Justiça de São Paulo tornou réu um homem negro que foi amarrado pelas mãos e pelos pés com uma corda por policiais militares, em 4 de junho, na capital paulista. Robson Rodrigo Francisco responde pelos crimes de furto qualificado, resistência à prisão e corrupção de menores. Ele é acusado de pegar alimentos e bebidas de um mercado da Zona Sul de São Paulo junto com outro homem e um adolescente.

A denúncia do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) foi aceita na terça-feira (20) pelo juiz Marcos Fleury Silveira de Alvarenga, da 12ª Vara Criminal de São Paulo. Ao aceitar a denúncia, o magistrado também manteve a prisão.

“Entendo pela manutenção de sua prisão preventiva, considerando que não só portador de antecedentes de crimes contra o patrimônio, como a esta altura inclusive reincidente em crime doloso. Não bastasse, não há como se considerar o furto praticado dentre aqueles a serem enquadrados pelo princípio da insignificância, ou mesmo de natureza famélica, ao contrário, isto pois não há como não observar, dentre os bens subtraídos, diversas bebidas em nada condizentes como de natureza essencial ao consumo humano”, disse o juiz.

Além de Robson, outro homem, que está solto, tornou-se réu por furto qualificado e corrupção de menores. A Justiça deu prazo de dez dias, a contar da data de intimação, para que os advogados dos réus apresentem a defesa. A reportagem tenta contato com o defensor de Robson.

Em relação ao fato de os policiais terem amarrado o homem, na denúncia, a promotoria avaliou que a conduta dos militares não anula os crimes cometidos por Robson e que isso será devidamente apurado em procedimentos próprios. Seis PMs estão afastados por causa da forma como realizaram a abordagem.

‘Imagens chocantes’

O ouvidor das polícias de São Paulo, Claudio Silva, classificou como “chocantes” as imagens que circularam em redes sociais e que mostram policiais militares carregando o homem com mãos e pés amarrados.

“As imagens de um homem negro, sendo carregado com mãos e pés amarrados, são chocantes, remetendo aos vergonhosos tempos da escravidão e da ditadura no Brasil. Não há quaisquer indícios que corroborem com uso tão desproporcional de força e ausência de cuidados humanizados dos policiais para com os envolvidos”, condena o ouvidor, em nota encaminhada à imprensa.

Relembre o caso

O homem que foi carregado tem 32 anos e é suspeito de ter furtado um mercado na Avenida Conselheiro Rodrigues Alves, na Vila Mariana, na capital paulista. Além dele, a polícia prendeu na ação um outro homem, de 38 anos, e apreendeu um menor de 15 anos que, segundo informações da PM, teria lesionado a mão de um dos agentes.

Ainda de acordo com a PM, o homem de 32 anos foi localizado e detido na Rua Morgado de Mateus. “Os PMs pediram que ele se sentasse, mas ele negou e ficou agressivo. Foram necessários quatro PMs para segurá-lo e, mesmo algemado, continuou se debatendo e foi imobilizado com uma corda”, informou o órgão, em nota. O caso foi registrado no 27º Distrito Policial como resistência, corrupção de menores, furto e ameaça.

Após a circulação dos vídeos que mostram o suspeito amarrado, impossibilitado de andar, a Polícia Militar de São Paulo informou ter afastado das atividades operacionais seis policiais que carregaram o homem.

Por meio de nota, a PM disse lamentar a forma como se deu a abordagem. “A Polícia Militar lamenta o episódio e reafirma que a conduta assistida não é compatível com o treinamento e valores da instituição. Por isso, foi instaurado um inquérito para apurar todas as circunstâncias relativas às ações dos policiais envolvidos no episódio”, informou o órgão.

Jornalista há 15 anos, com experiência em impresso, online, rádio, TV e assessoria de comunicação. É repórter da Itatiaia em São Paulo.