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Redução da gasolina não significa queda imediata de preço nos postos; entenda

Especialista explica que queda é nas refinarias e preço final depende da cadeia de distribuição e dos postos; professora defende esclarecimentos sobre nova política de preços

A Petrobras anunciou, na manhã desta terça-feira (16), uma redução de 12,6% no preço da gasolina e de 12,8% no preço do diesel vendidos nas refinarias. Apesar da notícia ter animado muitas pessoas, o anúncio não representa uma queda imediata nos preços dos combustíveis nos postos.

Carla Beni, economista e professora de MBA da Fundação Getúlio Vargas (FGV), esclarece que essa redução é nos preços do litro vendido nas refinarias. Como a cadeia entre esse ponto e o consumidor é longa e envolve transporte, distribuição e revenda, a queda no combustível pode ser bem menor do que os 40 centavos confirmados pelo presidente da estatal, Jean Paul Prates.

“O Governo Federal não fixa o preço final dos combustíveis, não há um controle sobre isso. O preço final envolve impostos, mistura de biocombustível e lucro. O anúncio tem um peso político e reforça a agenda positiva da Petrobras nesse novo governo, mas o alívio para o consumidor final depende de muitas coisas.”

A especialista explica que, mesmo a queda podendo ser menor do que a divulgada, não é possível prever quando o valor do litro do combustível de fato. Alguns postos de Belo Horizonte já vendiam gasolina por menos de R$ 5 nesta terça (16), horas após o anúncio, mas a redução depende do estoque do posto e também da estratégia comercial do estabelecimento.

“Em alguns casos, essa queda pode ser mínima ou até mesmo nunca ocorrer. Se o vendedor vai repassar essa queda ou absorvê-la para aumentar sua margem de lucro, isso depende dele.”

Fim da paridade de preços

Além da redução da gasolina, diesel e gás de cozinha, a Petrobras também confirmou o fim da Política de Paridade Internacional (PPI). Adotada em 2016, o sistema levava em conta o preço do petróleo no mercado internacional, como explica Carla Beni.

“Petróleo é um produto de necessidade mundial, por isso é considerado uma commodity que é cotada internacionalmente, em dólar. A PPI levava em conta essas oscilações, custos de transporte e também portuários.”

Agora, o novo sistema da estatal “usa referências de mercado como: (a) o custo alternativo do cliente, como valor a ser priorizado na precificação, e (b) o valor marginal para a Petrobras”. A professora de MBAs da FGV explica que a nova política não é clara e que a estatal vai precisar se explicar.

“A cotação internacional segue sendo usada, mas não será prioridade. Há esse valor marginal, que une produção, importação e exportação feitas pela estatal, e também o custo alternativo, mas esses itens são muito subjetivos.”

Carla Beni explica que, por ser uma empresa de economia mista, a Petrobras precisa atender ao mercado e seus acionistas. Por isso, a divulgação da métrica de cálculo dos combustíveis deve ser feita o quanto antes, no site da empresa ou pelo próprio presidente da estatal.

Jornalista formado pela UFMG, com passagens pela Rádio UFMG Educativa, R7/Record e Portal Inset/Banco Inter. Colecionador de discos de vinil, apaixonado por livros e muito curioso.
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