O Museu Nacional, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), prevê para o triênio 2024/2027 a reabertura completa do Palácio Paço de São Cristóvão, destruído por um incêndio em 2 de setembro de 2018.
Em entrevista à Agência Brasil, Alexander Kellner, diretor do museu e paleontólogo, adianta que as visitas escolares serão retomadas entre o fim de março e o início de abril, em um novo centro de visitantes. Ele revela o desejo de fazer reaberturas graduais do palácio para que a população possa conferir o resultado do que já estiver pronto na restauração.
Kellner se diz esperançoso de que a atenção do governo federal permita que as obras ganhem mais recursos e velocidade — de R$ 433 milhões orçados para todas as ações, que vão além da restauração do palácio, ainda faltam ser captados R$ 168 milhões. Ele conta que o novo centro de visitação — de 500 m² — receberá primeiro as escolas públicas do entorno do campus. "É um mini Museu Nacional. Vamos mostrar as doações que temos recebido”, explica.
Segundo ele, as peças vão ficar por algum tempo e ser substituídas para sempre mostrar o que de novo está sendo doado. Sobre a entrega completa do projeto, ele observa que o que vai determinar a velocidade das obras e a data da abertura total do palácio é a disponibilidade de recursos. “Reabrimos tranquilamente em 2026, é só ter a ajuda do Ministério da Educação (MEC). Só que estamos planejando reaberturas parciais. Talvez em 2024 abra-se alguma coisa, talvez em 2025, mas vai depender de articulação e de dinheiro.”
O diretor destaca que não é possível reconstruir o Museu Nacional sem verba pública. “O MEC, por meio do ministro Camilo Santana, se mostrou bastante sensível à causa do Museu Nacional, que é uma causa da sociedade brasileira”, diz. “O desejo da administração do Museu Nacional é cumprir o desejo da população brasileira, que quer visitar o bloco 1 antes mesmo de os outros terminarem.”
Articulação
A reforma do bloco 1 do palácio foi iniciada em novembro de 2021 e é a mais avançada, já com conclusão das fachadas e coberturas prevista para este ano. Enquanto isso, os blocos 2, 3 e 4 vão começar a ser restaurados ao longo de 2023, e, segundo Kellner, as obras serão mais rápidas. “Agora é repetir o que a gente já fez. É mais fácil.”
No Bicentenário da Independência do Brasil, em 2022, o Museu Nacional conseguiu entregar à população o Jardim Terraço e a fachada frontal do palácio, que retornou à cor ocre e atrai a atenção de quem visita a Quinta da Boa Vista. O diretor do museu se empolga ao comentar a entrega e conta que o público se emociona ao ver a entrada principal do palácio restaurada.
“A fachada está de chorar. A gente até diz algo que talvez não seja tão absurdo assim: talvez nem a Família Imperial tenha visto a fachada tão bonita, porque foi toda restaurada. As pessoas se emocionam ao ver. Isso demonstra que, apesar de tudo, nós estamos avançando”, opina.
A esperança de apoio do governo federal se dá em contraponto aos atrasos causados por falta de empenho da gestão anterior, diz Kellner. Ele afirma que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), durante o governo Bolsonaro, foi relapso com prazos e aprovações de projetos, o que causou atrasos. Da mesma forma, a Secretaria Especial de Cultura não atendia às solicitações da direção do museu e também dificultava a aprovação de projetos pela Lei Rouanet.
“A Secretaria de Cultura nos atrapalhou, a falta de ter o Ministério da Cultura nos atrapalhou. No último ano, o secretário Hélio Ferraz tentou recuperar o tempo perdido, mas, na gestão anterior, apesar de fazermos mais de dez solicitações, em nenhuma tivemos resposta. Não conseguimos nem ser recebidos para tomar um café frio. Tentamos por mais de 10 vezes”, relata. “Atingiram em cheio o Museu Nacional. A lentidão da Lei Rouanet prejudicou.”
Kellner observou que o Iphan e o MEC já visitaram o Museu Nacional neste ano. Em um encontro da direção do museu com o ministério neste mês será apresentada com mais detalhes a situação atual e os planos para o melhor andamento da restauração.
Mais que um museu
Como o Museu Nacional é uma instituição de pesquisa da UFRJ, houve impactos do incêndio em suas atividades de formação e produção científica, que perderam o espaço físico de salas que funcionavam no palácio e uma parte importante de seu acervo. “O Museu Nacional se reinventou e conseguiu os espaços necessários dividindo o pouco que tinha. A gente conseguiu manter as defesas de dissertações e teses de nossos seis programas de pós-graduação. Sim, alguns projetos foram prejudicados porque muito material foi perdido e teve de ser redirecionado. Afetou, mas não paralisou”, revela.
Kellner diz, ainda, que a pesquisa também sofreu com a perda de laboratórios e equipamentos, mas doações como a do governo da Alemanha e investimentos como os da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) permitiram que os trabalhos continuassem.
Dificuldades
Com o avanço das obras, a construção do Campus de Pesquisa e Ensino em um terreno vizinho à Quinta da Boa Vista e a reforma e ampliação da Biblioteca Central dão novas opções a essas atividades, que não chegaram a ser interrompidas e continuaram em meio a dificuldades.
“Nossos pesquisadores ainda lutam para ter um espaço minimamente digno para trabalhar. Então, com a reforma da biblioteca, já vamos ter um espaço que vai abrigar uma boa parte deles”, comenta. “Também poderemos explorar a possibilidade de abrir o Horto Botânico, onde está localizada a biblioteca, para visitação. Para isso, precisamos de recursos que a gente não tem ainda. A gente estima em torno de R$ 12 milhões.”
A entrega da biblioteca estava prevista para este mês, mas atrasos relacionados à compra de equipamentos de ar-condicionado devem adiar a reinauguração para o segundo semestre. Já no terreno vizinho à Quinta, estão em andamento a construção de três edificações modulares que receberão departamentos de pesquisa, e também deve começar neste ano a obra da primeira nova edificação definitiva do campus do Museu Nacional.