O Ministério Público Federal (MPF) recomendou ao governo do Pará que anule uma norma que repassou a municípios o poder de autorizar garimpos no Estado — único da Amazônia onde isso ocorre. Segundo a entidade, a legislação e a jurisprudência estabelecem que o licenciamento de garimpos deve ser feito pelo governo estadual ou pelo governo federal, considerando que os impactos ambientais da atividade não se restringem aos municípios.
O órgão encaminhou a recomendação a órgãos ambientais e de segurança federais e estaduais, para que não seja reconhecida a validade de licenças para garimpos emitidas pelos municípios, especialmente na bacia do Tapajós. O documento também foi remetido à Agência Nacional de Mineração (ANM), para que sejam negados e não renovados os requerimentos de Permissão de Lavra Garimpeira (PLG) amparados por licenças ambientais expedidas por municípios.
As permissões atuais devem ser retificadas, para que o licenciamento seja conduzido pelos órgãos competentes, diz o MPF. Assinada na sexta (17), a recomendação dá destaque a uma nota técnica emitida pelo Instituto Socioambiental (ISA) e pela WWF-Brasil (World Wide Fund for Nature).
O documento destaca que o tipo de exploração garimpeira mais comum na Amazônia, nos leitos e nas margens de rios e córregos, causa danos ambientais como a mudança na qualidade da água em razão de assoreamento e contaminação por mercúrio, além do desmatamento.
Segundo os pesquisadores, os garimpos ficam concentrados, o que causa impactos ainda mais potentes, “porque se acumulam e se combinam no espaço e ao longo do tempo”. Nessa linha, eles argumentam que, se a avaliação se dá de forma isolada, garimpo a garimpo, sem levar em consideração o contexto, “toda a sistemática da avaliação fica desvirtuada”.
O MPF destaca a falta de capacidade dos municípios para conduzir o licenciamento e para fiscalizar as atividades licenciadas. Segundo o órgão, em 2022, o prefeito de Itaituba — “município campeão” em concessões de lavras no país — “admitiu” que o município concedeu mais de 500 licenças “e nunca fomos fiscalizar”.