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Grupo Cedro investe R$ 200 milhões para produzir café no cerrado mineiro; vídeo

Holding elegeu a Serra do Cabral, região central, para aquisição de fazendas nos municípios de Francisco Dumont, Joaquim Felício e Lassance e planeja colher 200 mil sacas de café por ano

Quando o helicóptero Helibrás Esquilo, modelo AS-300-B3, decolou da fazenda Cedro em Francisco Dumont, na região centro-norte de Minas, o empresário Luís Carlos Stein, um dos sócios do grupo Cedro, olhou para o simétrico cafezal a perder de vista que ficava para trás, e disse, emocionado: “Olha, que lindo...”

O orgulho é compreensível. Há três anos, Casim, como é mais conhecido, coordena os trabalhos de infraestrutura, licenciamento ambiental e produção de café em três fazendas adquiridas pelo grupo nos municípios de Francisco Dumont, Joaquim Felício e Lassance.

É muito bom ver que tudo está correndo bem, que as coisas estão acontecendo. Não foi fácil chegar até aqui. Foram muitos estudos, licenças, projetos, transporte de materiais e seleção de pessoal para darmos início aos trabalhos”.

Casim é sócio do megaempresário Lucas Kallas e de seu primo José Osvaldo Garcia Stein, no braço agrícola do grupo Cedro - cuja principal atividade é a mineração, com atuação também no mercado imobiliário e no ramo de hospitais com a construção das chamadas Oncoclínicas. Os três se uniram em torno de uma meta ambiciosa: tornarem-se um dos maiores e melhores produtores de café do país.

Projeto surgiu de uma conversa informal

Curiosamente, tudo começou de forma despretensiosa. José Osvaldo conta que estava em casa um dia, “à toa, tranquilão”, quando o telefone tocou. Era Kallas perguntando se ele tinha alguma sugestão de investimento no agronegócio “Tenho demais, uai. Vamos plantar café na Serra do Cabral”, respondeu, misturando irreverência com espontaneidade, suas marcas registradas. Kallas não deixou por menos e emendou com a mesma naturalidade: “Ótimo, vamos providenciar isso, então”.

A empreitada - que de despretensiosa não tem nada - já custou ao grupo R$ 200 milhões e a previsão é de que mais R$ 500 milhões sejam investidos até que as três fazendas estejam funcionando a pleno vapor.

A Itatiaia visitou a sede do projeto em Francisco Dumont, a convite da Cedro. Do alto, antes do ASB-300 pousar, já era possível comprovar o que havia sido descrito por Casim: região de boa altitude - 1200 metros - com abundância de nascentes, córregos, quedas e filetes d’água, cercada por grandes pedras, que formam um paredão em torno da propriedade.

Francisco Dumont 1 dispõe 1550 hectares para plantio e conta com sede administrativa, alojamentos femininos e masculinos, refeitórios, viveiros de mudas e uma grande estrutura para reserva de água: duas barragens, dois reservatórios e um tanque intermediário com capacidade total de 1420 milhões de litros. “O café precisa de água no período da florada, nos meses de setembro e outubro. Temos capacidade para irrigar nossa área plantada, mesmo que não chova por 90 dias”, orgulha-se Kallas.

José Osvaldo, que é engenheiro agrônomo, formado pela Universidade Federal de Viçosa, explica que a grande amplitude térmica da região é boa para o café por que, durante o dia, a planta realiza plenamente a fotossíntese. À noite, com a queda brusca de temperatura, o metabolismo também cai, o açúcar sobra e vai todo para os grãos, resultando em frutos de doçura extra.

“A Serra sempre foi meio isolada, tinha apenas um ou dois proprietários. Talvez por uma certa dificuldade de acesso. É uma subida íngreme até aqui. A terra fica isolada, cercada por pedras onde encontramos, inclusive pinturas rupestres, intocadas. Um microclima de uma qualidade inacreditável para a produção de cafés especiais. Nós descobrimos isso aqui. Então, estamos desbravando, literalmente, e estamos muito felizes na nossa empreitada”, disse José Osvaldo.

Esse isolamento, segundo Kallas, permitiu ao grupo trabalhar um ano e meio sem necessidade do uso de inseticidas, porque o risco de contaminação por doenças é menor. Além disso, cerca de 80% do adubo usado é orgânico.

Primeiras “cata” e safra

A primeira “cata”, como é chamada a colheita manual dos frutos do café, foi feita nos meses de junho e julho desse ano. Mas a primeira safra de fato, só será colhida em meados do ano que vem. Até lá, a empresa vai aproveitar a entressafra, e as cerca de 300 sacas colhidas, para promover e validar a qualidade do café; expandir a área plantada dos atuais 900 hectares para 1550 hectares e obter o selo Rainforest Alliance, de sustentabilidade. “É um selo que abre portas para exportação. Já começamos a consultoria, para que a certificação possa sair quando iniciarmos a colheita”, disse Casim.

As outras duas fazendas do grupo na Serra do Cabral possibilitarão o plantio de mais 2550 hectares. Somados aos 900 hectares atuais, e aos 650 que ainda serão plantados na Cedro I, o empreendimento chegará aos 4100 hectares, com previsão de render R$ 200 mil sacas por ano, números mais do que suficientes para que a Cedro figure entre os dez maiores produtores do país.

“E não seremos apenas grandes. Não sossego, enquanto não tivermos o melhor café do país.”, disse João Emílio Duarte, gerente geral da Cedro 1, que coordena 120 funcionários diretos e outros 70 indiretos, chamando a todos pelo nome, elogiando e ressaltando as qualidades de cada um. “Minha turminha é boa, comprometida. Somos um time unido, lutando pelo mesmo objetivo e vamos chegar lá". Pensamento que “casa” bem com o do empreendedor Lucas Kallas que acredita que “o modo certo de se fazer negócios precisa transformar a vida das pessoas”.

Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.



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