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‘Tilápias poderão dominar a costa brasileira’, diz especialista

Pesquisador da Epamig diz que se as tilápias conseguiram fazer uma variação genética para se adaptarem à agua do mar, isso é um indício de que poderão dominar a costa brasileira

Tilápias têm uma melhor adaptabilidade à água salgada do que outros peixes de água doce

Nos últimos dias, a notícia de que a Tilápia - originalmente um peixe de água doce - se adaptou às águas salgadas e tem sido vista, em grandes cardumes, na costa brasileira, deixou apreensivos ambientalistas, produtores e até mesmo consumidores. Afinal, o fato afeta de alguma maneira a produção comercial? Tem relação com algum fenômeno climático ou mesmo desastre como o rompimento da Barragem de Mariana?

O coordenador técnico de Pequenos Animais da Emater-MG, Marcos Meokarem, disse à Itatiaia que, de fato, a Tilápia tem uma adaptabilidade maior que outros peixes de água doce. Mas não acredita que ela consiga sobreviver em larguíssima escala em alto mar porque a taxa de salinidade (35 gramas por litro d’água) seria alta demais para ela. “Imagino ela que esteja sobrevivendo e se reproduzindo nos locais de desague de grandes rios no mar porque a água doce se mistura à salgada, e torna o ambiente mais suportável à tilápia”, explicou.

O zootecnista, com mestrado em Ciências dos Alimentos e pesquisador da Epamig, Alisson Meneses, concorda com Meokarem, no que se refere à predominância do fenômeno nos locais de mistura com água doce, mas faz uma ressalva.

“O que me preocupa é que se ela conseguiu fazer essa variação genética para se adaptar à ́ águas com alta taxa de salinidade, isso é indício de que pode ela poderá dominar toda a nossa costa brasileira de baixa profundidade, o que é pode ser bom, mas também pode ser ruim. Ruim porque poderá prejudicar alguns berçários de peixes marinhos consumindo seus ovos (a tilápia é uma espécie onívora) e bom porque ela própria poderá servir de alimento para os demais peixes carnívoros. Será preciso monitorar de perto o comportamento do ambiente marinho com a presença desse novo morador”.

Menezes lembrou também a alta capacidade reprodutiva das tilápias. As fêmeas têm quatro ciclos reprodutivos por ano, com a eclosão de dois mil ovos por ciclo.

Barragem de Mariana

A respeito da interferência do rompimento da Barragem de Mariana em 2015, Meokarem não acredita que isso tenha sido determinante. “Pode sim ter havido escape de tilápias para o mar nesse acidente. Mas escapes de tilápias em criatórios de rede acontecem, rotineiramente. Mas usando-se a técnica correta com cuidado e consciência, é possível evitá-los”.


Isso deve afetar a produção mineira?

“Não, de forma alguma. Não há relação de uma coisa com a outra”, explicou o coordenador, acrescentando que a produção em Minas tem crescido significativamente nos últimos anos. Ele atribui o fato ao aumento da disseminação e adoção das tecnologias de produção e à demanda crescente pelo filé de tilápia que é muito saboroso, não tem espinhos (bom para crianças) e com alta qualidade nutricional.

Minas Gerais está em terceiro lugar no ranking dos estados que mais produzem tilápias no país, com 51.700 toneladas, segundo dados da Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe BR) e da Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária (Seapa). A espécie representa quase 70% dos pescados consumidos no Brasil.


Tanques escavados e tanques-rede. Entenda a diferença

  • Os tanques escavados são estruturas para armazenamento de água, com paredes de terra (taludes), dotados de controle de entrada e saída d'água, com fontes de água diversas, incluindo pequenos desvios de cursos d'água e bombeamento de poços ou reservatórios maiores (represas, açudes,etc).

  • Já os tanques-rede são estruturas flutuantes instaladas dentro de corpos d'água (reservatórios, grandes açudes e até mesmo no leito de rios) , ancorados no fundo ou nas laterais.

    Em ambas as formas de cultivo, o piscicultor precisa estar rigorosamente em dia com a legislação ambiental e demais autorizações.

Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.