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‘Palavra Aberta’, da Itatiaia, debate o papel do Agro em relação à fome no país

Comandado por Kátia Pereira e Eustáquio Ramos, a atração ouviu a opinião do presidente da FAEMG, Antônio de Salvo e da integrante do Instituto Fome Zero, Adriana Aranha

Programa recebeu Antônio de Salvo e Adriana Aranha para debater a fome

No último sábado (28), o programa Palavra Aberta, da Itatiaia, debateu a questão da fome no país. A apresentadora Kátia Pereira abriu a atração pontuando que era preciso entender “como no país, que é o maior produtor de alimentos do mundo, 33 milhões de pessoas não têm garantia do que comer”.

A socióloga e doutora em Administração Pública e pesquisadora do Centro de Estudos da Metrópole da USP e integrante do Instituto Fome Zero, Adriana Aranha, disse que o problema passa pela questão do acesso. Segundo ela, são vários os motivos que fazem com que as pessoas não tenham acesso à comida. Mas, o principal deles é a falta de renda e o alto preço dos alimentos. Ela lembrou ainda que a fome nunca “vem sozinha” e, em geral, está associada à fome de conhecimento, de água, de moradia e de tratamentos de saúde.

Melhor distribuição de renda

Já o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (FAEMG), Antônio de Salvo, o que falta é uma melhor distribuição de renda. Ele pontuou que o Brasil passou de importador de alimentos, na década de 70, a grande exportador, graças a um pacote tecnológico muito bem feito pelos centros de pesquisa, em especial, Embrapa e universidades estaduais e federais. “O superávit existe. Os alimentos estão nas gôndolas dos supermercados e sacolões. O que precisamos é de uma distribuição de renda mais humanitária, em especial nos estados do nordeste. O produtor rural mineiro, mais do que nunca, tem feito seu papel”. Outro ponto levantado pelo presidente da FAEMG foi o momento atual, pós-pandemia, com um aumento gigantesco dos custos pós-produção fazendo com que alguns alimentos se tornassem menos acessíveis à população. “Mesmo assim, o produtor continua fazendo seu papel de forma sustentável e regenerativa”, reiterou.

Produtor não precifica alimentos

Kátia questionou sobre a vulnerabilidade dos produtos do agro, bastante afetado pelo clima ou pelo dólar e outras questões, o que gera muitas oscilações nos preços dos produtos ao consumidor. De Salvo lembrou que o produtor não é responsável direto pela precificação dos alimentos Ele citou, como exemplo, a pecuária leiteira onde produtor vende o leite para um laticínio e o laticínio é quem determina o preço. “Esse é um movimento da economia mundial… você flutua, conforme a economia acontece. Se nós tivermos juízo, devemos proteger o nosso produtor rural para que ele possa continuar se auto alimentando e alimentando as famílias brasileiras e mantendo a segurança alimentar do jeito que tem sido nos últimos 30 ou 40 anos. O presidente lembrou ainda que 90% dos produtores mineiros são pequenos produtores que precisam também garantir o sustento das suas famílias.

Mas, então, afinal, quem está errando para que a distribuição de renda não ocorra? Adriana acredita que o principal entrave esteja na criação de políticas públicas. Tivemos, nos últimos 20 anos, um movimento nacional de políticas de inclusão social, como o Bolsa-Família que recuperou parte dessa desigualdade. Outros programas como a Merenda Escolar, por exemplo, alimentam mais de 40 milhões de crianças nas escolas. Adriana reconhece que, apesar dessas iniciativas serem fundamentais, por outro lado, é preciso também ter políticas voltadas para os pequenos agricultores. “Nós sabemos que mais de 70% da nossa alimentação, vem da agricultura familiar. Então, temos que ter programas de incentivo a esses produtores, de acesso ao crédito, ao mercado, a políticas de abastecimento, de comércio…. Existem verdadeiros desertos alimentares nesse país, onde as pessoas não têm acesso, sequer, a lojas de alimentos. Então é todo um sistema alimentar, que precisa ser mais justo, mais distributivo e mais saudável”, disse Adriana, citando também sua preocupação com a questão do uso dos agrotóxicos. “Tivemos no último período, mais de 1800 agrotóxicos liberados e a população vem consumindo isso. Ou seja, aquilo que deveria oferecer vida, oferece morte”.

Agrotóxicos estão menos nocivos e são fundamentais para segurança alimentar

O presidente da FAEMG rebateu a crítica dizendo que os atuais defensivos agrícolas, pesticidas, agrotóxicos e as chamadas ‘novas moléculas’ são as mais desenvolvidas que existem. Segundo ele, são como as drogas humanas, um ansiolítico que era usado na década de 50, 60 ou 70, por exemplo, foi substituído por uma droga mais moderna, com menos efeito rebote, menos nocividade à saúde. “Então, é muito importante esclarecer isso, que essas novas moléculas são menos danosas à saúde humana. Além do mais, disse ele, é preciso desmistificar um pouco essa questão, tirar um pouco da parte ideológica porque os agrotóxicos são fundamentais. Se eles não existissem, teríamos muito mais fome e insegurança alimentar.

Crença de que “exportarmos o melhor e deixamos aqui o pior” é mito

O apresentador Eustáquio Ramos perguntou ao presidente da FAEMG se era verdade ou “lenda urbana” que os produtores rurais brasileiros exportam o produto de qualidade e deixam os não tão bons aqui. De Salvo rebateu dizendo que os clientes estrangeiros compram desde o filé mignon, a picanha até a ponta de osso do nosso gado. Segundo ele, exporta-se o bom, o médio, o produto de primeira e o de segunda. “Falar que nós exportamos o bom e largamos o lixo aqui, absolutamente não é verdade. No caso do café, há uma preferência, principalmente da Alemanha, pelo café especial, de primeira qualidade. Mas se você for numa boa cafeteria daqui ou de São Paulo, você vai achar o mesmo café para comprar”.“Mas o produtor prefere exportar?”, insistir o apresentador. “O produtor prefere vender pelo melhor preço, não importa para onde. Quem pagar mais, ele vai vender. Quando ele pode negociar e, nem sempre, pode”.

Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.