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Campo já emprega 19 milhões de pessoas no Brasil

Número representa aumento de 4,6% em relação ao ano passado, o equivalente a 839 mil novas vagas

A Medicina Veterinária tem amplo campo de atuação que abrange o acompanhamento da saúde ao controle de doenças de animais

De acordo com pesquisa recente da Embrapa, o agro é responsável por alimentar 800 milhões de pessoas em todo o mundo. Ao mesmo tempo, o agronegócio brasileiro já representa 27% do PIB do país. Ou seja, praticamente 1/3 de toda riqueza do Brasil vem do agro. Segundo dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da USP, apenas no segundo semestre deste ano mais de 19 milhões de pessoas no Brasil estão exercendo alguma função, com carteira assinada, no campo.

Esse número representa um aumento de 4,6% em relação ao ano passado, o equivalente a 839 mil novas vagas. Para a professora e gestora do curso de Medicina-Veterinária da Universidade Federal de Viçosa (Univiçosa), com MBA em Gestão de Negócios, Alessandra Sayegh Arreguy Silva, esse crescimento é facilmente compreensível se pensarmos que a produção tem aumentado assustadoramente, demandando uma enorme diversidade de profissionais para assumirem diferentes funções e postos de trabalho no campo.

Funções mais requisitadas

Os mais requisitados, segundo ela, são os profissionais que atuam diretamente na produção e saúde animal como os médicos-veterinários, os zootecnistas, os engenheiros agrônomos, técnicos agropecuários, técnicos em laticínios e técnicos agrícolas. “Atualmente temos 230 milhões de cabeças de gado. De quantos veterinários vamos precisar para cuidar da saúde de tantos animais e ainda acompanhar o abate e o processamento de todos os alimentos que são formados a partir desses animais? Isso, sem falar nas cadeias da avicultura, suinocultura e no mercado de ovos. Produzir alimentos, cuidar do solo, colher, higienizar, processar ... tudo isso gera muito trabalho”, lembra a professora.

Em seu dia-a-dia na Universidade, Alessandra conta que empresas e produtores rurais sempre entram em contato com ela pedindo indicação de alunos do curso de Medicina-veterinária que participaram de projetos e têm bom desempenho. “Há também muita demanda por bons gestores das fazendas, pessoas com experiência em controlar gastos, investir em novas tecnologias, selecionar, contratar e demitir funcionários…E ainda para funções mais simples como os retireiros de leite, lida direta com os rebanhos, aplicação de vacinas e agricultores que cuidam da terra, do plantio à colheita”.

E como esquecer os especialistas em meio ambiente, em tempos de tanta valorização do tema? Engenheiros florestais, advogados e técnicos que entendem do cumprimento das leis dessa seara também têm sido bastante valorizados. Diferente do que muitos pensam, o crescimento do agro no Brasil não ocorreu às custas de desmatamentos e aumento de área produtiva. Segundo o IBGE, o agronegócio ocupa apenas 7,6% do total do nosso território, sendo 218 milhões destes de área preservada.

Tecnologia dá o tom

Há 40 anos no Brasil, uma plantação de soja feita em 1 hectare de terra (10.000m2) rendia menos de 2 toneladas de grãos. Hoje, essa mesma área já produz 4 toneladas. Dobrar a colheita sem expandir área não é mágica, mas sim reflexo da ferramenta que fez do Brasil líder mundial no setor: a tecnologia.

As novas práticas de manejo e as melhorias genéticas em sementes aumentaram a produtividade das colheitas; os fertilizantes possibilitaram que solos inférteis dessem frutos, expandindo as fronteiras agrícolas; as inovações tecnológicas garantiram que o produtor não ficasse mais à mercê do tempo e da sorte para plantar, colher e lucrar.

Ainda são poucas as propriedades tecnificadas

Um gargalo é que, hoje, o número de propriedades rurais digitalizadas representa apenas 30%. Ou seja, são mais de 3 milhões de fazendas que ainda não passaram pela transformação digital e, consequentemente, estão operando abaixo de sua capacidade produtiva.

As agritechs, ‘startups’ do agronegócio, já somam 1.574 empresas, número 40% maior do que o registrado em 2019. Segundo a consultoria Market and Markets, o mercado de agricultura de precisão vale hoje R$ 72,2 bilhões, mas deve chegar aos US$ 20,8 bilhões R$ 116,4 bilhões em 2026.

A estimativa é de que, em dois anos, existam 32,5 mil profissionais qualificados para 178,8 mil oportunidades. Ou seja, cerca de cinco vagas em aberto para cada profissional qualificado no mercado.

Neste momento, a maior demanda tem sido pelos chamados Agro Digital Managers, que são os profissionais responsáveis por entender a demanda do produtor e propor a solução tecnológica mais adequada para resolver o problema.

Como o objetivo não é trabalhar no campo literalmente, o Agro Digital Manager não precisa ser formado em agronomia ou veterinária, muito menos morar no campo - sim, é possível exercer essa profissão morando na cidade. Ele deve atuar como um coordenador de projetos digitais, que organiza um time de especialistas (como engenheiros e desenvolvedores) e garante que o negócio funcione da forma mais produtiva e sustentável possível.

Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.