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Abel Ferreira, do Palmeiras, abre coração ao saber de morte de Walewska, estrela do vôlei

Técnico do Palmeiras encontrou com Walewska em São Paulo e trocou ideias sobre vida de atleta

Abel Ferreira encontrou com Walewska na última terça-feira

O técnico Abel Ferreira fez, nessa quinta-feira (21), uma longa fala em entrevista coletiva após a derrota do Palmeiras diante do Grêmio por 1 a 0, pela 24ª rodada do Campeonato Brasileiro, na Arena do Grêmio, em Porto Alegre. O português refletiu sobre a vida e comentou sobre o falecimento de Walewska Oliveira, ex-jogadora de vôlei. Os dois se encontraram há dois dias, em São Paulo.

“Tive a oportunidade de estar com ela, espetacular. Ela, capitã de equipe, foram possivelmente uma hora que tivemos para trocar ideia. Conversamos sobre como era o voleibol na Espanha, Itália, ela esteve na Rússia também, no Brasil. Para perceber a dinâmica e os contextos”, disse.

A ex-jogadora estava em São Paulo divulgando a biografia lançada. Abel também revelou os planos de Walewska para o futuro próximo. A ex-atleta tinha iniciado há pouco um podcast para tratar da transição após o final da carreira.

“Perguntei como foi a transição para passar de estar no profissional e deixar de jogar. É um luto que se faz. Ela falou que através de um podcast que ela tinha queria passar essa mensagem. O jogador tem que se preparar para essa transição. Isso tem a ver com questões mentais e de preparação”, ressaltou.

O encontro entre Abel e Walewska

O encontro entre Walewska e Abel Ferreira ocorreu na última terça-feira (19) no CT do Palmeiras. Os dois trocaram os livros biográficos e registraram o encontro em fotos.

“Troca de experiências num bate papo com toda essa turma de profissionais do esporte de Alto Rendimento. Dia de muito aprendizado e descobertas”, escreveu em parte da postagem no Instagram.

Carreira

A ex-jogadora foi revelada pelo Minas, em 1995 e ficou no clube até 1998. Ela voltou ao time da capital mineira em 2014 e ficou até o ano seguinte. A meio-de-rede ainda defendeu Rexona/Ades, São Caetano, Sirio Perugia da Itália, Murcia da Espanha, Zarechie da Rússia, Vôlei Futuro, Vôlei Amil, Minas, Osasco e Praia Clube, onde encerrou a carreira em 2022.

Walewska também teve duas passagens pelo Praia Clube, de Uberlândia. A primeira foi entre 2015 e 2018, quando conquistou o título da Superliga Feminina de Vôlei pela segunda vez na carreira (ela já havia sido campeã em 2000 pelo Rexona/Ades).

A última passagem de Walewska pelo Praia Clube começou em 2019 e terminou no ano passado, quando ela anunciou a aposentadoria.

Walewska foi duas vezes campeã da Superliga (1999-2000 e 2017-18). A meio-de-rede ainda levantou as taças da Supercopa (2019, 2020 e 2021), do Troféu Super Vôlei e do Campeonato Mineiro (2019 e 2021).

Veja fala de Abel na íntegra

Quando me disseram eu nem acreditei. Fiquei incrédulo. E acho mesmo que não vale a pena me chatear com futebol. Vários treinadores me disseram isso. Tive uma conversa com Ancelotti e adorei o que ele me disse. Tenho conversas com treinadores mais velhos e eles me dizem que tenho que aprender a desfrutar do futebol. Não tens que levar tanto a sério, tem que dar o seu melhor. A verdade é que estamos todos na fila. Ainda bem que não sabemos quando é a nossa vez, mas estamos todos na fila.

Às vezes nós, eu pessoalmente me chateio com isso ou com aquilo, quando as pessoas não querem mudar. Não vale a pena. Acho que nós devemos ser gratos e eu sou muito grato pela vida que tenho. Acho que sou mesmo um abençoado em tudo. Quando chegas ao final de um jogo desse e sai triste, sai irritado e recebes uma notícia dessas... tu pensas realmente qual é o verdadeiro significado da vida. O que estou aqui a fazer? Qual é a minha missão quanto homem? Qual é a minha missão enquanto treinador?

Infelizmente são nesses momentos falando sobre a morte, um caso que aconteceu, que nós pensamos realmente... qual é a minha missão enquanto homem? Qual é a minha missão enquanto pai? Qual é a minha missão enquanto filho? E quando tu recebes essa notícia tu questionas se vale a pena todo sacrifício, toda abdicação, estar longe da família. É duro.

Tive a oportunidade de estar com ela, espetacular. Ela, capitã de equipe, foi possivelmente uma hora que tivemos para trocar ideia. Conversamos sobre como era o voleibol na Espanha, Itália, ela esteve na Rússia também, no Brasil. Para perceber a dinâmica e os contextos.

Perguntei como foi a transição para passar de estar no profissional e deixar de jogar. É um luto que se faz. Ela falou que através de um podcast que ela tinha queria passar essa mensagem. O jogador tem que se preparar para essa transição. Isso tem a ver com questões mentais e de preparação, os atletas passam muito tempo... há muitas coisas que nós ganhamos, alguns jogadores ganham muito dinheiro. Estamos a falar de 3 ou 4% de um universo muito grande. Os outros não ganham isso e tem que se preparar para a próxima etapa.

Todos têm que se preparar para a próxima etapa. Questão de finanças, o que eu faço a seguir do futebol se eu só sei jogar futebol. Foi uma hora extraordinária de partilha, de aprendizagem e quando chegou ao final do jogo e me dizem essa notícia eu não queria acreditar, fiquei incrédulo.

E como eu te disse, estou aqui abrindo o coração e compartilho e pergunto o que estou aqui a fazer. Se vale a pena todo sacrifício que tu fazes. É uma coisa que infelizmente é preciso... às vezes temos medo de enfrentar nosso adversário, medo de estar à baliza, medo de decisões, medo de errar. Comparado com o que? Com isso?

Eu digo aos jogadores que temos que ser gratos porque Deus nos dá o bem maior que nós temos. É acordar e respirar. A partir daí é o esforço e a vontade de cada um para conseguir os objetivos que temos, seja como pai, filho, empregado, jogador, jornalista, treinador, árbitro, funcionário, como técnico, empregada doméstica, seja o que for. Para mim, realmente, foi uma notícia muito, muito triste. E obrigado por me fazer a pergunta. O máximo que posso fazer é prestar as condolências à família e parece que é mentira o que tenho a dizer. A sensação que fico é que não é verdade. Nem sei bem o que dizer.

São momentos que nos marcam e nos fazem refletir realmente o que fazemos na vida e se vale a pena todas essas brigas. No fundo, sou ser humano como vocês, tenho emoções, sentimentos, tenho feitos, virtudes, como todos, não sou perfeito. Mas sou muito grato porque Deus me abençoou e me deu a oportunidade de continuar a desfrutar da minha vida que é abençoada.

Leonardo Parrela é chefe de reportagem do portal Itatiaia Esporte. É formado em Jornalismo pela PUC Minas. Antes da Itatiaia, colaborou com ge.globo, UOL Esporte e Hoje Em Dia. Tem experiência em diversas coberturas como Copa do Mundo, Olimpíada e grandes eventos.

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