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Racismo contra Vini Jr: desafeto deve ficar fora de amistoso na Espanha

Seleção enfrentará Guiné em Barcelona, no dia 17 de junho, e CBF fará campanha antirracista; presidente da Fifa deve ir, já chefe da La Liga, não

Vini Jr. em ação pela Seleção Brasileira: jogo na Espanha terá campanha antirrascista

O presidente da Fifa, Gianni Infantino, deve estar presente no Camp Nou, em Barcelona-ESP, para o amistoso entre Brasil e Guiné, que será em 17 de junho. O jogo marcará a campanha antirrascista organizada pela CBF e terá como protagonista o atacante Vinícius Junior, que sofre há meses insultos racistas na Espanha, onde joga pelo Real Madrid.

Em um primeiro momento, o presidente da La Liga, Javier Tebas, não está na lista de convidados. Ele foi chamado de omisso pelo presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, após o último caso de racismo contra Vini Jr. em Valencia, no domingo passado (21). Tebas fez postagens criticando as reclamações do brasileiro, mas depois pediu desculpas.

Infantino foi convidado junto com o presidente da Uefa (União Europeia de Futebol), Aleksander Ceferin, e com o chefe da Federação Espanhola de Futebol, Luis Rubiales, como revelou o jornalista André Rizek, no SporTV. A Itatiaia apurou que Infantino pretende comparecer por entender que as ofensas a Vini Jr. atingiram o limite e por saber que sua presença dará relevância à campanha.

O presidente da Fifa estará em Buenos Aires, na Argentina, no dia 11 de junho, para acompanhar a final do Mundial Sub-20 - que pode até ter o Brasil presente. Ele embarcará à Europa no dia seguinte para agenda em alguns países, que incluiria a passagem pela Espanha. O presidente da Conmebol, Alejandro Dominguez, também deve comparecer, além de dirigentes de federações estaduais do Brasil.

A campanha da CBF

A Data-Fifa de junho ocorrerá entre os dias 12 e 20, e o Brasil também enfrentará Senegal no Estádio José Alvalade, em Lisboa-POR. Há previsão de que em Portugal também ocorram manifestações antirracistas por parte da CBF e das Federações Portuguesa e Senegalesa de Futebol.

Em Barcelona, contra Guiné, algumas ideias já colocadas na mesma para a campanha são:

  • pedir autorização à Fifa para usar no uniforme declarações antirracistas;

  • essas mesmas declarações seriam repetidas nos telões e alto-falantes do estádio;

  • convidar ex-jogadores brasileiros, de preferência com ligação com o futebol espanhol, para participar da campanha, atuando no dias anteriores e na data da partida;

Vinícius Junior, claro, estará convocado e será peça-chave nessas ativações. A CBF, entretanto, quer conversar com o atleta e seu estafe para entender o que poderia ser feito. Há certo receio de que o fato de o jogo ocorrer em Barcelona, cidade do arquirrival do Real Madrid, clube de Vini Jr, possa torná-lo alvo de críticas, por isso sua participação em tudo isso terá que ser bem pensado.

A intenção é aproveitar que a Seleção estará no país para intensificar a pressão sobre autoridades, La Liga (que organiza o Campeonato Espanhol) e Federação Espanhola (responsável pela arbitragem dos torneios locais). A CBF entende que têm que ser aplicadas punições àqueles que cometem atos racistas, na esfera criminal, mas também aos clubes na esfera desportiva, como determina o protocolo antirracismo e o Código de Disciplina da Fifa.

A convocação da Seleção Brasileira que jogará os amistosos na Europa precisa ocorrer até o próximo domingo (28), a tempo hábil de os clubes receberem a notificação e ficarem obrigados a ceder seus atletas.

Como ainda não tem um treinador efetivo, a Seleção deve ser comandada novamente interinamente por Ramon Menezes, que neste momento está com a equipe Sub-20, na Argentina, participando do Mundial. Ele faria, portanto, a convocação de lá.

Vinícius é atacado e expulso contra o Valencia

A última, e das mais fortes, manifestação racista contra Vini Jr. ocorreu domingo passado (21). O Real Madrid foi derrotado pelo Valencia, por 1 a 0, e a partida foi paralisada aos 27 minutos da segunda etapa, quando o brasileiro começou a discutir com torcedores enquanto outros jogadores tentavam acalmá-lo

Foi possível ouvir os gritos de “Mono” (macaco, em espanhol) por parte da torcida do Valencia. O árbitro conversou com oficiais da organização da partida e o jogo foi interrompido.

O sistema de som do estádio anunciou a paralisação do duelo devido ao comportamento dos fãs do Valencia e pediu que a torcida desse fim às “manifestações racistas”. Houve um novo aviso até que, depois de cerca de oito minutos, a partida foi retomada, com Vini Jr em campo. Esse é o primeiro dos três passos exigidos pela Fifa no protocolo antirracismo, mas, como sempre, parou por aí.

A partir das repetidas demonstrações racistas, o jogo ficou nervoso. Vini Junior foi provocado pelo goleiro Mamardashvili, que foi punido com o cartão amarelo. Os jogadores trocaram empurrões no campo.

No fim do confronto, porém, o brasileiro, revoltado e desestabilizado pelos rivais, foi expulso depois de se desentender com o atacante Hugo Duro, em quem acertou o braço. Ele levou amarelo, mas após revisão do lance pelo VAR, foi expulso nos acréscimos.

Formado em jornalismo pela PUC-Campinas em 2000, trabalhou como repórter e editor no Diário Lance, como repórter no GE.com, Jornal da Tarde (Estadão), Portal IG, como repórter e colunista (Painel FC) na Folha de S. Paulo e manteve uma coluna no portal UOL. Cobriu in loco três Copas do Mundo, quatro Copas América, uma Olimpíada, Pan-Americano, Copa das Confederações, Mundial de Clubes, Eliminatórias e finais de diversos campeonatos.