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Adriano Imperador lança livro com relatos sobre depressão e alcoolismo; leia trechos

Ídolo do Flamengo, jogador contou momentos conturbados da sua carreira

Adriano Imperador lança livro sobre momentos conturbados da carreira

Adriano Imperador lançou, nessa segunda-feira (11), uma biografia sobre sua vida.

Escrito pelo jornalista Ulisses Neto, “Adriano – meu medo maior” traz momentos marcantes da vida do ídolo do Flamengo como a luta contra o alcoolismo e a depressão.

O lançamento do livro do jogador, que também tem passagens por Inter de Milão, Fiorentina, Parma, São Paulo, Roma e Corinthians, foi no Rio de Janeiro. Uma exposição com fotos da obra foi colocada nas ruas do Rio e na favela Vila Cruzeiro, onde ele cresceu.

*Este texto contém gatilhos. Se você ou alguém que conhece precisa de ajuda, entre em contato com o Centro de Valorização da Vida pelo número 188. O atendimento é gratuito e 24 horas.

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Leia trechos do livro:

Alcoolismo:

Eu chegava em casa e arrumava qualquer motivo para beber. Ou era porque meus amigos estavam lá, ou era porque eu não queria ficar no silêncio pensando merda, ou era para conseguir dormir. Deitava apagado em qualquer canto sem ter nem condição de sonhar. Muita gente usa o futebol como válvula de escape, eu precisava de um escape do futebol. Esse escape era a minha família. Meu pai. Quando olhei, ele não estava mais ali. Uma coisa levou a outra, e a bebida se tornou a minha companheira. Continuei chegando atrasado nos treinos. O clube tentava passar um pano na imprensa, eu recebia as multas no meu salário e nem me importava mais. Era tanta grana que eu ganhava, cara. A primeira multa dói. A segunda, tu fica puto. Na terceira, você já nem liga. E isso vale para os dois lados”.

Desconfiança do time:

Saí do treino um dia e encontrei o meu procurador conversando com o Branca e com o doutor Combi. O clima estava pesado.

‘Adriano, o pessoal aqui está desconfiando de você. Estão preocupados com doping’, meu procurador disse.

Saí do treino um dia e encontrei o meu procurador conversando com o Branca e com o doutor Combi. Estufei o peito e levantei a cabeça.

‘Boato de que, cara? Fala logo. Tu tá achando que eu uso droga?’, respondi olhando de cima pra baixo. A sobrancelha estava arqueada.

‘Adri, veja bem. Estamos preocupados com você, é só isso’, o doutor Combi falou.

‘Preocupados é o c... Faz a p...do exame, então. Pode fazer agora. Mas faz aquele do cabelo, que pega de vários meses pra trás’, eu falei.

Bom, eu estava a um triz de perder a cabeça, cara. Foi quando o tal do diretor fez uma piadinha que caiu muito mal.

‘Poxa, Adri. Vamos fazer exame de cabelo contigo como se você é careca?’, ele falou.

Malandro, minha vontade era de abrir a mão e dar uma chapada na orelha do filho da mãe. Sem sacanagem. Diz aí, Hermes. Conta pra eles como eu fico quando estou puto. Enfiei a mão dentro da calça. Agarrei meu saco. Arranquei um tufo de pentelho e por pouco não esfreguei na cara dele. Pode ligar para o Gilmar pra perguntar se eu tô mentindo.

‘Faz exame com esse cabelo aqui então, cara. Acho que vai ser o suficiente”, eu disse, balançando os meus p...no meio do CT…”.

Depressão:

Minha depressão tinha chegado a um nível que eu não gosto nem de lembrar. Não demorou muito pra eles virem me dizer que não tinham encontrado nada no meu corpo. Eu não precisava me preocupar com antidoping. Cê jura? A questão é que o clima já tinha azedado por completo... Minha depressão tinha chegado a um nível que eu não gosto nem de lembrar. Nada mais funcionava. Uma coisa leva a outra, negão. Pra jogar bem, eu precisava de sequência, e eu não tive isso. Para ter sequência, eu tinha que treinar bem, e eu não conseguia manter o foco por muito tempo. Para não beber e não ir para a balada, eu tinha que estar com a cabeça no lugar. E sem jogar nem fazer gol era impossível. Tá entendendo o tamanho da cagada? Uma coisa estava ligada a outra”, disse.


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Giovanna Rafaela Castro é jornalista em formação e integra a equipe do portal Itatiaia Esporte