Fifa pretende desfazer regra anticorrupção para escolha de sedes das Copas; entenda

Desde denúncia de compra de votos para Mundiais da Rússia e do Catar, Congresso só pode indicar anfitrião de uma edição por vez; proposta visa alterar isso

Copa do Mundo de 2030 terá jogos em seis países

A direção da Fifa colocará em votação no Congresso de 17 de maio, em Bangkok, na Tailândia, proposta para que mais de uma edição de Copa do Mundo possa ter a sede escolhida em um mesmo Congresso. Isso havia sido banido do estatuto da entidade em 2013, após denúncias de corrupção para a escolha dos Mundiais masculino da Rússia, em 2018, e do Catar, em 2022, que ocorreram ao mesmo tempo em dezembro de 2010.

A Itatiaia apurou que isso entrou em pauta para que em um Congresso próximo, em 2025 provavelmente, as 211 associações filiadas possam confirmar, no mesmo evento, as sedes das Copas masculinas de 2030 e de 2034. Não haverá disputas para essas edições, e sim aclamações.

A de 2030 terá como principais sedes Espanha, Portugal e Marrocos, com os três primeiros jogos inaugurais da competição na América do Sul, na Argentina, no Uruguai e no Paraguai, como homenagem ao berço das Copas, torneio que completará 100 anos. E a de 2034 tem a candidatura única da Arábia Saudita.

A ideia é que essas duas edições sejam aclamadas na mesma edição do Congresso, mas para isso é preciso mudar o artigo 68, item 3, do estatuto. Diz o texto que “um Congresso não pode conceder os direitos de hospedagem a mais de um evento da Copa do Mundo da Fifa”. Isso vale para as edições masculina e feminina.

A nova redação, que na reforma do estatuto passaria a ser no artigo 61, item 3, permitiria que mais de uma edição fosse escolhida no mesmo Congresso. O texto ficaria assim: “um Congresso não poderá conceder o direito de sediar mais de uma Copa do Mundo da Fifa na mesma reunião, exceto se o Conselho tomar uma decisão específica a esse respeito”.

Ou seja, o Conselho teria o poder de incluir a escolha de mais de uma sede no mesmo Congresso.

No evento deste ano na Tailândia, por exemplo, haverá votação para a escolha da sede da Copa do Mundo Feminina de 2027, e somente para ela, apesar de nos bastidores da Fifa já haver disputa para a edição de 2031. O Brasil concorre contra as candidaturas conjuntas de Estados Unidos/México e Alemanha/Bélgica/Holanda.

Mudanças na votação

As escolhas das sedes das Copas do Mundo de 2018, na Rússia, e de 2022, no Catar, sofreram acusações de compra de votos. Na época, o anfitrião de um torneio era definido pelos membros do Comitê Executivo, atual Conselho, a cúpula da cartolagem com menos de 30 membros.

Os países vencedores foram anunciados em dezembro de 2010 e venceram candidaturas mais fortes, como da Inglaterra e Portugal/Espanha, no caso dos russos, e dos Estados Unidos, da Austrália, do Japão e da Coreia do Sul, no dos catarianos. A suspeita era de que membros do Comitê Executivo receberam suborno.

Entre 2011 e 2013, a direção Fifa trabalhou para mudar o estatuto, algo que foi confirmado em 2013. Foi alterado quem escolhe as sedes das Copas masculina e feminina: todas as associações filiadas, 211 atualmente, votam para a escolha do anfitrião, e não mais apenas os membros do Conselho (ex-Comitê Executivo). Teoricamente isso dificulta a compra de votos.

Mas essa não foi a única mudança na tentativa de minimizar a corrupção. Outra foi proibir que mais de uma sede fosse escolhida no mesmo Congresso, como ocorreu no caso da Rússia e do Catar. Na visão dos idealizadores no novo estatuto, uma escolha dupla favorece também um eventual lobby em conjunto, o que em casos extremos pode ser o de favorecimento ilícito a pessoas.

É essa alteração que a Fifa pretende desfazer agora. O Conselho da entidade aprovou por unanimidade que essa proposta de alteração no estatuto seja incluída na pauta do Congresso e, caso seja aprovada, entra em vigor em 60 dias após o evento na Ásia.

A Copa do Mundo de 2026, que será nos Estados Unidos, no México e no Canadá, foi a única masculina escolhida nesse sistema, durante o Congresso de 2018. Houve disputa contra a candidatura de Marrocos. Em junho de 2020, a Austrália e a Nova Zelândia foram escolhidas sedes da Copa Feminina de 2023.

Leia também


Participe dos canais do Itatiaia Esporte:

Formado em jornalismo pela PUC-Campinas em 2000, trabalhou como repórter e editor no Diário Lance, como repórter no GE.com, Jornal da Tarde (Estadão), Portal IG, como repórter e colunista (Painel FC) na Folha de S. Paulo e manteve uma coluna no portal UOL. Cobriu in loco três Copas do Mundo, quatro Copas América, uma Olimpíada, Pan-Americano, Copa das Confederações, Mundial de Clubes, Eliminatórias e finais de diversos campeonatos.

Ouvindo...