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Para ser hexa no Catar, Brasil precisa quebrar escrita de sempre ser campeão do mundo invicto

Melhores campanhas foram em 1970 e 2002, quando taça foi garantida com 100% de aproveitamento

Para erguer a Copa do Mundo dia 18, no Lusail Stadium, Seleção Brasileira terá que superar escrita de sempre ter sido campeã do mundo de forma invicta

Enviados especiais a Doha - A Seleção Brasileira precisa quebrar uma escrita significativa para encerrar o jejum de 20 anos sem conquistar a Copa do Mundo: levantar a taça sem ser de forma invicta. Isso porque nos cinco títulos, dois foram com 100% de aproveitamento, outros dois com um empate na campanha e o mais sofrido deles, nos pênaltis, com duas igualdades na caminhada. A derrota para Camarões, na última sexta-feira (2), no encerramento da fase de grupos, tirou a invencibilidade do time de Tite e provocou o desafio.

As campanhas dos bicampeonatos em sequência, em 1958, na Suécia, e 1962, no Chile, foram idênticas, com cinco vitórias e um empate, mas as duas igualdades tiveram significados bem diferentes e Pelé e Garrincha estão presentes nas duas histórias.

Em 1958, os dois eram reservas do time de Vicente Feola. Após o empate sem gols com a Inglaterra na segunda rodada da fase de grupos, Joel e Dida, ambos do Flamengo, foram sacados para as entradas de Garrincha e Pelé. A vitória por 2 a 0 sobre a União Soviética, no encerramento do Grupo D.

Nas fases de mata-mata, Pelé marcou seis vezes em três partidas, Garrincha enlouqueceu os adversários e a Seleção conquistou a primeira estrela no peito.

Lesão

No Chile, em 1962, o empate do Brasil foi também na segunda rodada da fase de grupos, diante da Tchecoslováquia. Nessa partida, Pelé sofreu uma lesão muscular num lance em que acertou um chutaço no travessão do gol defendido por Schrojf. Numa época em que as substituições não eram permitidas, viveu seus últimos momentos naquele Mundial fazendo número pela ponta.

Na partida decisiva contra a Espanha, no encerramento do Grupo C, o então garoto Amarildo, de 20 anos, marcou duas vezes na vitória por 2 a 1, de virada, sendo o último tento já aos 40 da etapa final.

A partir das quartas de final, Garrincha assumiu de vez o protagonismo que já tinha mostrado diante dos espanhóis. Fez dois gols na vitória por 3 a 1 sobre a forte Inglaterra, marcou mais duas vezes nos 4 a 2 diante dos chilenos, donos da casa, nas semifinais, e assim garantiu seu lugar na lista dos artilheiros daquela Copa, a que teve o maior número de goleadores, pois foram seis no total, com o também brasileiro Vavá integrando a lista.

Na decisão, contra a mesma Tchecoslováquia do empate na fase de grupos, Garrincha jogou graças à absolvição num julgamento na Fifa, pois tinha sido expulso contra o Chile. Muito gripado, ele não foi brilhante na decisão, mas já tinha garantido o posto de craque daquela Copa.

100%

Em 1970, no México, com aquela que é considerada a melhor equipe de futebol já montada no planeta, o Brasil chegou ao tricampeonato com 100% de aproveitamento. Venceu as seis partidas que disputou e talvez o confronto mais complicado para os comandados de Zagallo nem tenha sido na fase de mata-mata, mas na segunda rodada da fase de grupos, diante da então campeã mundial Inglaterra, superada por 1 a 0.

O penta, em 2002, na Coreia do Sul e Japão, também foi garantido com 100% de aproveitamento e uma vitória a mais, pois foram sete os triunfos da Família Scolari, que também teve seu momento mais complicado na caminhada diante da Inglaterra, nas quartas de final.

O Brasil venceu por 2 a 1, de virada, mas passou grande parte do segundo tempo com um jogador a menos em campo, por causa da expulsão do meia-atacante Ronaldinho Gaúcho.

Sofrimento

O título mais sofrido, sem dúvida, foi o tetra, em 1994, naquela que é a pior campanha de um time brasileiro campeão do mundo. No encerramento da fase de grupos, o time de Carlos Alberto Parreira empatou por 1 a 1 com a Suécia.

A partir das oitavas de final, foi só sofrimento. No 1 a 0 sobre os Estados Unidos, no dia da independência deles, Leonardo foi expulso aos 42 minutos do primeiro tempo, após dar uma cotovelada em Tab Ramos. Na etapa final, Bebeto fez o gol salvador aos 28 minutos.

Nas quartas, diante da Holanda, a Seleção chegou a abrir 2 a 0, no início do segundo tempo, mas levou o empate. A dez minutos do final, Branco marcou de falta o 3 a 2.

Nas semifinais, contra a mesma Suécia do empate na fase de grupos, um suado 1 a 0, gol do baixinho Romário, de cabeça, aos 34 minutos da etapa final.

A decisão foi contra a mesma Itália, batida por 4 a 1 na final de 1970, no Estádio Azteca, no México. Mas o 0 a 0 persistiu no placar durante tempo normal e prorrogação. E o Brasil foi o primeiro país campeão do mundo na disputa de pênaltis, feito igualado pelos próprios italianos em 2006, na Alemanha, diante da França.

Por gênios e sofrimento foi construído o pentacampeonato da Seleção na Copa do Mundo. O posto de único país a levantar a taça cinco vezes não está ameaçado, pois a tetra Itália nem se classificou para o Mundial do Catar, e a também tetra Alemanha caiu na fase de grupos.

Mas a sexta estrela é uma obsessão e para enfeitar a camisa amarela, Tite e seus comandados precisam quebrar a escrita de o Brasil não ser campeão do mundo sem ser de forma invicta.

Alexandre Simões é coordenador do Departamento de Esportes da Itatiaia e uma enciclopédia viva do futebol brasileiro
Mineiro de Formiga, Wellington Campos está na Rádio Itatiaia desde agosto de 1990, atuando como correspondente no Rio de Janeiro, cobrindo o dia-a-dia da CBF, Seleção Brasileira e STJD, além dos clubes cariocas e os esportes olímpicos. Participou das coberturas das Copas do Mundo de 1994 (EUA), 1998 (França), 2002 (Coréia do Sul e Japão), 2006 (Alemanha), 2010 (África do Sul) e 2014 (Brasil).