DOHA - “Pra mim o futebol do Catar é motivo de orgulho, pois fui uma gotinha no desenvolvimento disso tudo. E ver o país recebendo a Copa do Mundo me dá orgulho, pois sei que participei disso”. As palavras de Durval Mendes da Silva, de 60 anos, que nasceu em Presidente Juscelino, cidade próxima a Diamantina, mas viveu muito tempo e casou em Nova Era, revelam que Minas Gerais também faz parte do Mundial 2022.
Massagista do Al Rayyan, time mais popular do Qatar, ele é um dos desbravadores do futebol no país, onde chegou há 35 anos para integrar a comissão técnica de outro mineiro, Hilton Chaves, que fez história em Minas como jogador e treinador.
“A gente passou duas temporadas juntos no Valério, de Itabira. Em 1987 ele veio trabalhar no Catar e me trouxe, mas ficou por pouco tempo, três ou quatro meses, pois teve de retornar ao Brasil por um problema pessoal. E eu fiquei e estou aqui até hoje”, conta Durval.
Arábia Saudita
São 32 anos no futebol catariano, os outros três que fazem com que ele chegue a 35 no mundo árabe foram na Arábia Saudita, onde trabalhou entre 1993 e 1996.
“Um amigo fisioterapeuta quem me levou para a Arábia Saudita, mas lá estava difícil para minha família, pois é um país muito fechado. O que determinou minha saída foi ter explodido uma bomba perto da casa onde eu morava. Estragou a rua toda. No supermercado onde fazia compras morreram pessoas. Meu filho estava na escola, tinha 8 anos, e fiquei desesperado. Aí, quando meu contrato acabou, retornei ao Brasil”, recorda.
Com um mês em casa, o Al Rayyan descobriu que Durval tinha deixado a Arábia Saudita e fez o convite para que retornasse. E ele não pensou duas vezes: “A partir deste retorno foi impressionante como a evolução do futebol no Qatar começou de forma acelerada. Quando cheguei, beirava o amadorismo. Era muito complicado. Ver a estrutura que foi montada para receber a Copa me dá orgulho, pois assisti tudo isso. Além disso, gosto demais do clube e devo muito a eles, pois são importantes na minha vida”.
Família
Nos mais de 30 anos de Catar Durval trabalhou com muita gente, como os treinadores Renê Simões e Paulo Autuori. E criou um carinho especial por um ex-jogador do Cruzeiro, Vitor Braga, que foi treinador de goleiros da seleção do Catar e também do Al Rayyan.
Mas esse não foi o suporte principal para que o mineiro de Presidente Juscelino vivesse tanto tempo longe de casa. A família sempre esteve com ele e segue sendo assim até hoje.
“Meu filho trabalha no futebol catariano, como analista de desempenho. Ele tem 37 anos, é casado, tem uma filha de 9 anos, Sophie. Minha esposa, Julia, que é de Nova Era. Tenho ainda uma filha que faz mestrado aqui em Doha em artes e design”, conta Durval.
Por causa da Copa, o Campeonato do Qatar foi paralisado duas rodadas antes do término do turno. A volta será após o torneio. E terá sabor de reta final para Durval, que vive sua última temporada no mundo árabe.
“Quero voltar para o Brasil. Tenho uma churrascaria com um irmão em Nova Era e quero ir ajudá-lo a administrar nosso comércio. Quando falo nesse assunto no clube eles até acham ruim, mas é minha hora de retornar para casa”, afirma o massagista brasileiro do Al Rayyan.
Mas isso não significa que o Qatar deixará de fazer parte da família, segundo Durval: “só minha esposa e eu vamos retornar, pois meu filho tem emprego aqui e vai seguir a vida dele. Minha filha estuda, quer trabalhar na área aqui e também vai continuar. Isso é bom, pois quando a saudade bater tenho motivo para voltar ao país”.
A emoção por ter visto a evolução do futebol catariano acompanhar a do país faz do mineiro Durval, como ele mesmo se define, uma gotinha nesse imenso oceano que ele prevê ser a Copa do Qatar.