O apresentador, locutor e jornalista Cid Moreira morreu nesta quinta-feira (3), aos 97 anos. Ele estava internado em um hospital em Petrópolis, na região Serrana do Rio de Janeiro e tratava uma pneumonia. A esposa dele, Fátima Sampaio, prestou homenagens ao marido durante o programa Encontro, da TV Globo.
“Só lembranças boas. Todo casamento tem seus embates porque somos pessoas diferentes, com personalidades diferentes, mas a gente se divertia muito com a diferença de idade, com as nossas diferenças porque a gente acabava rindo junto. [...] Eu to num modo ‘grog’, é?. [...] Patrícia, eu não contei para ninguém pra ter direito como ser humano de privacidade, de cuidar dele para que ele voltasse pra casa. Eu fiz o melhor, fiz o que eu pude como ser humano para confortá-lo”, contou.
Cid Moreira completou 97 anos no último domingo (29) e, mesmo em estado debilitado de saúde, foi homenageado por funcionários e pela família. O jornalista estava muito debilitado e, já nesta quarta-feira (2), não conseguia reconhecer a esposa, com quem estava desde os anos 2000. “Nós temos quase 25 anos juntos, não é brinquedo. É uma história e tanto. Um barato. Eu sinto muito por isso, a gente sempre quer mais um pouquinho, mas ele tava cansado”, relatou Fátima.
Vida e Carreira
Filho do bibliotecário Isauro Moreira e da dona de casa Elza Moreira, o jornalista iniciou sua carreira no rádio em 1944, após ser descoberto por um amigo que o incentivou a fazer um teste de locução na Rádio Difusora de Taubaté. Nos anos seguintes, entre 1944 e 1949, ele narrou comerciais até se mudar para São Paulo, onde trabalhou na Rádio Bandeirantes e na Propago Publicidade.
Cid é irmão do locutor Célio Moreira, que trabalhou na equipe inicial da Globo. Em 1951, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi contratado pela Rádio Mayrink Veiga. Foi lá que, entre 1951 e 1956, começou a ter suas primeiras experiências na televisão, apresentando comerciais ao vivo em programas como “Além da Imaginação” e “Noite de Gala”, na TV Rio.
Sua estreia como locutor de noticiários aconteceu em 1963, no “Jornal de Vanguarda”, da TV Rio, o que marcou o início de sua carreira no jornalismo televisivo. Nos anos seguintes, trabalhou nesse mesmo programa em várias emissoras, como Tupi, Globo, Excelsior e Continental, consolidando sua presença na televisão.
Entrada na TV Globo
Voltou a trabalhar na TV Globo em 1969, para substituir Luís Jatobá no ‘Jornal da Globo’, um noticiário de 15 minutos de duração, que exibia diariamente, às 19h45, um panorama das principais notícias do Brasil e do mundo. Integrou a primeira equipe do ‘Jornal Nacional’, que estreou em setembro daquele ano, o primeiro telejornal transmitido em rede no Brasil. Na ocasião, dividiu a bancada do telejornal com Hilton Gomes. Dois anos depois, iniciou uma parceria com Sérgio Chapelin que se prolongou por mais de uma década.
Ao longo de 26 anos, Cid Moreira ocupou diariamente a bancada do ‘Jornal Nacional,’ tornando-se um dos símbolos do telejornal. Em 1996, como consequência de uma reformulação do JN, os antigos apresentadores foram substituídos por jornalistas envolvidos na edição — William Bonner e Lillian Witte Fibe, na época. Posteriormente, no ‘Jornal Nacional’, dedicou-se exclusivamente à leitura de editoriais.
Locuções especiais no Fantástico
Também a partir de 1996, Cid Moreira foi escalado para fazer as locuções de reportagens especiais do ‘Fantástico', programa do qual participou, também, desde a estreia, revezando-se com outros apresentadores, como Sérgio Chapelin e Celso Freitas.
Mais tarde, passou a gravar também os áudios das chamadas e de algumas matérias do programa. Em 1999, narrou o quadro do ilusionista Mr. M, um dos grandes sucessos do Fantástico naquele ano. A voz do locutor ficou de tal forma associada ao quadro que, quando Mr. M esteve no Brasil, no ano seguinte, o próprio Cid Moreira o entrevistou com exclusividade para o ‘Fantástico’.
Paralelamente ao seu trabalho na Globo, Cid Moreira continuou narrando comerciais — sempre em off, por restrições contratuais. A partir de meados da década de 1990, dedicou-se à gravação de salmos bíblicos. Em 2011, cumpriu seu objetivo de gravar a Bíblia na íntegra. Os CDs bíblicos com sua locução se tornaram um grande sucesso, com milhões de cópias vendidas.
Em março de 2010, foi lançado o livro ‘Boa Noite — Cid Moreira, a Grande Voz da Comunicação do Brasil’, pela editora Prumo. A biografia foi escrita pela mulher do locutor, Fatima Sampaio Moreira, e reúne depoimentos de jornalistas, amigos e parentes de Cid Moreira. Nesse mesmo ano, durante a Copa do Mundo da África do Sul, Cid gravou uma vinheta a ser exibida durante as reportagens do ‘Fantástico’ e de programas esportivos da Rede Globo. A vinheta “Jabulaaani!“, nome da bola da Copa, foi um sucesso.