Nadja Pessoa, de 36 anos, que integra o elenco de A Fazenda 15, disse ter sido diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA) há oito meses. Durante o jogo da discórdia, que será transmitido nesta segunda-feira (4), a influenciadora decidiu usar o espaço para revelar para a casa toda que foi diagnosticada com um grau leve de autismo.
Enquanto falava sobre a morte do seu cachorro, Nadja decidiu contar para os peões seu diagnóstico - e muitos depois repercutiram as falas da peoa. “Para quem não sabe, eu tenho um grau de autismo e descobri há 8 meses”, disse a influenciadora. Com a perda do pet, ela disse que até hoje “luta contra a depressão por conta dele.”
Filipe Mendes de Melo, psicoterapeuta comportamental, explica sobre o espectro autista. “Os tratamentos para pessoas com autismo são diferentes em relação ao nível de desenvolvimento, idade e graus de severidade. Por exemplo, nas crianças com nível de desenvolvimento abaixo dos seus pares e com um autismo mais severo (incluindo crianças não-falantes), o tratamento deve buscar o desenvolvimento de habilidades básicas, como o autocuidado (se vestir sozinho, escovar os dentes, tomar banho, etc) e comunicação e linguagem (contato visual, imitação, seguir instruções, identificar pessoas, figuras, objetos, etc)”, inicia.
“Já um adulto com um diagnóstico tardio e com um autismo ‘mais leve’, possivelmente demandará outras habilidades, geralmente habilidades sociais mais complexas e a autorregulação emocional. É preciso lembrar que estes são só dois exemplos e que no meio deles, existe um espectro enorme, onde cada pessoa com autismo apresentará necessidades específicas, assim como em qualquer outra demanda psicoterapêutica, afinal estamos falando de pessoas, para além do diagnóstico”, esclarece.
Graus de autismo
“A gravidade do autismo é especificada seguindo alguns critérios presentes no DSM-V, última versão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Os critérios são baseados no nível de prejuízo da comunicação social e nos padrões de comportamento repetitivos e restritos, sendo definidos como níveis 1, 2 e 3”, começa.
“No nível 1, a pessoa requer pouco apoio da família/cuidadores; no nível 2 o apoio é substancial e no nível 3, esse apoio é muito substancial e indispensável. Lembrando também que essa sintomatologia pode mudar e, com isso, a pessoa com autismo pode ascender a um nível de gravidade menor, a partir de tratamentos bem sucedidos ou, então, declinar a um nível de gravidade maior, caso a estimulação não esteja adequada às suas necessidades”, completa.
Confinamento pode piorar sintomas?
O psicoterapeuta explica que não dá para cravar isso, mas destaca que se o indivíduo não tiver desenvolvido algumas habilidades, o confinamento pode agravar os sintomas.
“Reality Shows como o BBB e A Fazenda possuem desafios que exigem habilidades muito complexas, sendo desafiador para muitas pessoas, não só as pessoas com autismo. É um programa com atividades muito exaustivas, mas se essas atividades podem ser prejudiciais, isso é algo difícil de ser respondido. Isso vai depender do tanto de habilidades que cada pessoa terá, em relação à tolerância ao mal estar e às capacidades de resposta durante as dinâmicas ali presentes”, explica.
“Nesses programas tudo é desafiador para a maioria das pessoas e, na minha opinião, parece ser o objetivo do programa, que leva vários participantes todos os anos a testarem a si mesmos, em busca de um grande prêmio. Os prejuízos, se existem, podem portanto serem equilibrados por benefícios de outro lado, como o reconhecimento, as oportunidades de trabalho e projetos futuros”, acrescenta.
Ele finaliza com um alerta: “Mas a passagem pelo programa também pode acarretar em maiores danos para a pessoa que já sofre com alguns sintomas, caso ela não tenha aprovação do público ou ela não tenha desenvolvido as habilidades necessárias para lidar com situações complexas como a superexposição, as dinâmicas de grupo, as provas de resistência e claro, o confinamento em si”.
Equipe de Nadja repudia falas preconceituosas
Após Nadja Pessoa revelar diagnóstico de autismo no programa, a equipe da influenciadora publicou nota informando que irá acionar o jurídico e processar responsáveis por “manifestações de preconceito psíquico”.
“Recentemente, Nadja compartilhou corajosamente seu diagnóstico de autismo no reality ‘A Fazenda’, com o propósito de promover compreensão e aceitação, excluindo qualquer intenção de obter vantagens indevidas, apesar de algumas sugestões infundadas”, inicia o texto.
"É essencial esclarecer que o autismo não é uma doença, como erroneamente afirmado por um participante do programa [Cézar Black] que é profissional de saúde, prejudicando a causa da neurodiversidade. O autismo é, na verdade, uma manifestação única da diversidade neurocognitiva”, acrescenta o texto.
A nota finaliza: “Agradecemos pela compreensão e apoio contínuo dos fãs e público em geral, destacando que não toleramos qualquer forma de descriminação. Quaisquer manifestações de preconceito psíquico serão encaminhadas ao jurídico para as devidas providências.”