Comemorado em 5 de setembro, o Dia dos Irmãos é uma data para se reconectar com o sentimento de fraternidade que tanta falta tem feito à Humanidade. Essa lição aparece, em forma de poesia, e sob diferentes ritmos, gêneros e aspectos, ao longo da música popular brasileira, que soube falar sobre irmandade a partir de metáforas e da elaboração de situações dramáticas que se tornaram o sumo de sua criação. Artistas como Jorge Ben Jor, Vinicius de Moraes, Djavan e Cazuza versaram sobre o amor entre irmãos e irmãs. Sem falar na famosa menção ao “irmão do Henfil” cantada por Elis.
“Veludo” (choro, 1962) – Waldir Silva, Raphael Vidigal e André Figueiredo
Waldir Silva nasceu em Bom Despacho, no dia 28 de maio de 1931, e morreu no dia 1º de setembro de 2013, aos 82 anos. Compositor e mestre do cavaquinho, ele conheceu o primeiro sucesso na década de 1950, quando o então Presidente da República Juscelino Kubitschek elogiou publicamente o choro “Telegrama Musical”, o que o levou a compor a trilha da primeira versão da novela “Pecado Capital”, da Rede Globo.
Waldir Silva foi homenageado, em 2016, com o disco “Waldir Silva em Letra & Música”, quando suas melodias ganharam letra. “Veludo”, choro feito para o amigo e acordeonista de mesmo nome em 1962, ganhou letra de Raphael Vidigal e André Figueiredo em 2016. Cantada por Ladston Nascimento, a música fala sobre irmandade.
“Take it Easy My Brother Charles” (samba-rock, 1969) – Jorge Ben Jor
Jorge Duílio Lima Meneses, o popular Jorge Ben Jor, nasceu no dia 22 de março de 1939, no Rio de Janeiro, e provocou uma verdadeira revolução na música brasileira ao surgir, em 1963, com o disco “Samba Esquema Novo”, que apresentava a todo o país a sua maneira particular de cantar e tocar ao violão.
O estilo único de Jorge Ben Jor rendeu ao Brasil músicas de sucesso como “País Tropical”, “Que Maravilha”, “Mas Que Nada”, “O Telefone Tocou Novamente”, “Charles Anjo 45”, entre tantas outras. E ele também realizou duetos de sucesso com Caetano Veloso, Tim Maia, Gilberto Gil, Ivete Sangalo. “Take it Easy My Brother Charles” é uma música para os “irmãos de cor” do compositor, como ele canta na letra desse samba-rock lançado no ano de 1969.
“Irmãos Coragem” (canção, 1970) – Nonato Buzar e Paulinho Tapajós
Jair Rodrigues colocou de cabeça pra baixo e jogou para cima a música brasileira como no movimento das mãos que embalam o rap. Uma invenção tão faceira quanto a mania nunca abandonada de plantar bananeira em pleno palco, ou onde quer que fosse chamado para se apresentar.
O “Cachorrão”, como era conhecido pelos mais íntimos por questões que escapam ao domínio da figura pública, emendou uma coleção de sucessos desde o princípio da carreira. Alcançou o auge de maneira tão instantânea que, em pouco tempo, já cantava com Elis Regina.
Em 1970, coube a Jair interpretar a música tema da novela “Irmãos Coragem”, protagonizada por Tarcísio Meira e Glória Menezes. A canção foi composta por Nonato Buzar e Paulinho Tapajós.
“Testamento” (samba, 1971) – Toquinho e Vinicius de Moraes
Marcus Vinicius da Cruz de Mello Moraes, mais conhecido como Vinicius de Moraes, nasceu no Rio de Janeiro, no dia 19 de outubro de 1913, e morreu no dia 9 de julho de 1980, aos 66 anos, vítima de um infarto, após uma vida de muitos amores e doses de uísque.
Casado nove vezes, Vinicius de Moraes foi um dos maiores poetas do Brasil, e soube transformar esse romantismo em música, ao lado de parceiros como Tom Jobim, Toquinho e Chico Buarque.
Entre os maiores sucessos da obra musical de Vinicius estão “Soneto de Fidelidade”, “Samba da Bênção”, “Onde Anda Você?”, “Eu Sei Que Vou Te Amar”, “Garota de Ipanema”, “Eu Não Existo Sem Você”, e muitos outros. Em 1971, compôs, com Toquinho, o samba “Testamento”, como um conselho a um irmão.
“Mano Caetano” (samba-rock, 1971) – Jorge Ben
Uma frase dita por Caetano Veloso não é qualquer coisa, afinal de contas, o baiano de Santo Amaro da Purificação é um dos maiores nomes da música brasileira. De tanto repetida, “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é” se tornou um clichê e, aos 80 anos, podemos dizer que Caetano Veloso entende melhor do que ninguém essa frase.
Com seu projeto tropicalista, que incluía escrever um capítulo definitivo na história da cultura nacional, o músico, cantor e compositor criou clássicos atemporais, como “Oração ao Tempo”, “O Leãozinho”, “Alegria, Alegria”, “Trem das Cores”, “Reconvexo”, “Gente”, “Força Estranha”, e muitos outros. Em 1971, Jorge Ben compôs o samba-rock “Mano Caetano” para homenageá-lo, interpretado pela irmã do astro, Maria Bethânia.
“Maria Bethânia” (MPB, 1972) – Caetano Veloso
Não é exagero dizer que Maria Bethânia é música em cada fibra, até porque suas interpretações lancinantes nunca pecaram por comedimento, numa tênue linha em que é preciso dominar o instrumento para que a entrega não se torne gratuita.
Aí está, dentre tantos, o legado, é bem possível, de maior relevância desta artista ímpar na música popular brasileira, apelidada de “abelha-rainha” após interpretar canção escrita pelo poeta baiano Waly Salomão e musicada pelo irmão Caetano Veloso, “Mel”.
Foi Caetano, aliás, quem “batizou” Maria Bethânia, após insistir com a matriarca do clã para que desse à filha o nome da música gravada com enorme sucesso por Nelson Gonçalves e composta pelo pernambucano Capiba. Em 1972, exilado em Londres, Caetano compôs “Maria Bethânia”, em que pedia notícias do Brasil à sua irmã.
“Maninha” (canção, 1977) – Chico Buarque
Heloísa Maria Buarque de Hollanda ficou conhecida por um nome diminuto, cheio de intimidade, distante da pompa do batizado: Miúcha. Uma das cantoras mais sofisticadas e, ao mesmo tempo, leves da música popular brasileira.
Em 1977, Chico Buarque compôs uma das canções mais sensíveis de seu vasto repertório: a valsa “Maninha”, dedicada à sua irmã Miúcha, que a interpreta ao lado do irmão, no disco que ela dividiu com Tom Jobim.
A música também integrou a trilha da novela “Espelho Mágico”, da Rede Globo, e, posteriormente, recebeu gravações de Maria Bethânia, Caetano Veloso, Joanna, Oswaldo Montenegro, Áurea Martins e do Quarteto em Cy. Embebida em nostalgia e melancolia, a canção é pura poesia. Preciosidade da MPB.
“O Bêbado e a Equilibrista (MPB, 1979) – João Bosco e Aldir Blanc
Mineiro de Ponte Nova, João Bosco tornou-se conhecido em todo o Brasil justamente porque, ao lado do principal parceiro Aldir Blanc, cantou as mazelas e glórias do país. Com “Bijuterias”, João Bosco emplacou sua primeira canção numa abertura de novela da Rede Globo, no caso “O Astro”, em 1977, protagonizada por Francisco Cuoco.
Dois anos depois, foi a vez do disco “Linha de Passe”, que, além da faixa-título, brindava o país com “O Bêbado e a Equilibrista”. A música virou um hino de resistência contra a perversa ditadura militar que assolava o Brasil, e estendeu os braços para o retorno dos exilados, como o ativista Betinho, fundador do “Fome Zero”, citado na letra como “o irmão do Henfil”, cartunista que, em solo brasileiro, também combatia o regime de exceção.
“Minha Irmã” (MPB, 1982) – Djavan
Djavan não tem jeito. Não tem outro e não tem igual. Nascido em Maceió, o músico alagoano cravou a sua assinatura na música brasileira com um estilo facilmente reconhecível, que despertou a curiosidade de gerações desde o seu surgimento até os dias atuais.
Com uma levada única calcada no samba e uma poesia de alto teor simbolista, ele conseguiu o difícil feito de unir sofisticação à popularidade, alcançando sucessos nas rádios com músicas como “Fato Consumado”, “Flor de Lis”, “Meu Bem Querer” e “Açaí”.
Exaltado por Caetano Veloso, tornou-se parceiro de Chico Buarque e foi gravado de Bethânia a Gal. Em 1982, o músico lançou o samba “Minha Irmã”, uma letra curta e misteriosa, com a perspectiva simbólica que rege a trajetória de Djavan.
“Amor de Irmão” (rock, 1987) – Cazuza e Frejat
Rebelde, irreverente, debochado e imprevisível, Cazuza começou a carreira em 1982, ao ser apresentado pelo cantor Leo Jaime ao grupo Barão Vermelho, que procurava um vocalista. Letrista afiado, Cazuza rapidamente caiu no gosto dos futuros companheiros de banda, auxiliado por sua voz rascante e pelo estilo de interpretar que provocava reações em cima do palco.
Logo no primeiro álbum, eles chamaram a atenção de Caetano Veloso com a música “Todo Amor Que Houver Nessa Vida”, que daria início à frutífera parceria entre Cazuza e Roberto Frejat. Juntos, eles escrevem clássicos do rock brasileiro. Em 1987, com Cazuza já em carreira solo, o Barão Vermelho lançou “Amor de Irmão”, parceria com Frejat.