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Debora Bloch completa 60 anos; Relembre a trajetória da atriz mineira

Nascida em Belo Horizonte, ela foi premiada por suas atuações no teatro, no cinema e na televisão, caso do filme ‘Bete Balanço’

O papel não era para ela. Não fosse por Paula Toller, talvez Debora Bloch não tivesse vivido uma das personagens mais marcantes de sua carreira. Em 1984, a atriz, que hoje completa 60 anos, herdou o desafio de interpretar a protagonista de “Bete Balanço”, após a recusa da vocalista do Kid Abelha, que se sentiu despreparada e, ao mesmo tempo, pouco à vontade para desempenhar o trabalho. Considerava que a personagem era “estereotipada”. Não estava de todo errada.

O filme de Lael Rodrigues contava a história de uma garota que ruma do interior de Minas Gerais, em Governador Valadares, em busca do sonho de ser estrela no Rio de Janeiro. Um roteiro digno de Broadway. No elenco, estavam Diogo Vilela, Hugo Cavarna, Maria Zilda e o galã Lauro Corona, uma das vítimas da AIDS que devastou toda uma geração na década de 1980. O grande atrativo do filme era, justamente, a música-título, lançada pelo Barão Vermelho. No longa-metragem, Debora improvisava um dueto com Cazuza.

O clima de praia, curtição e juventude dava o tom da película, e, talvez por isso, ela tenha se destacado das demais. Era uma perfeita fotografia do que aquele período representou, principalmente para a classe média carioca que tomava conta do teatro, da música e da televisão, a partir do grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone, da série Armação Ilimitada e da profusão de bandas como Paralamas do Sucesso, Blitz, Kid Abelha, Barão Vermelho, RPM, etc.

Debora foi premiada como melhor atriz pela atuação, à época, quase mimética. Também em 1984, ela receberia o mesmo título pelo filme “Noites do Sertão”, em quatro premiações distintas, contemplando as mais célebres: Gramado, Brasília, Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), e o internacional de Cartagena, na Colômbia. Foi um começo fulminante, depois da estreia nos palcos com “Rasga Coração”, peça de Oduvaldo Viana Filho, na qual, aos 17 anos, substituiu Lucélia Santos.

No ano seguinte, foi considerada a melhor atriz revelação quando apareceu pela primeira vez na televisão, em “Jogo da Vida”. Na novela de Silvio de Abreu, teve a companhia de Glória Menezes, Gianfrancesco Guarnieri, Rosamaria Murtinho, Raul Cortez, Paulo Goulart, Maitê Proença, e outros figurões da teledramaturgia brasileira.

Apesar de toda repercussão dos primeiros filmes, Debora foi se distanciando do cinema, pela própria dificuldade imposta à atividade no Brasil, e se dedicou com afinco às novelas, sem jamais abandonar o teatro, sendo premiada pela adaptação de “Tio Vania”, de Tchecov. O humor ela exercitou com prazer na incorrigível “TV Pirata”.

Filha do ator Jonas Bloch, mineira de Belo Horizonte, Debora sabia que o ofício se constrói no palco, para depois ser burilado diante das lentes. O que não a impediu de colocar 13 filmes no currículo, nenhum deles dispensável.

Da comédia ao drama, sempre passando pela reflexão, esteve presente em “Sonho Sem Fim, “O Grande Mentecapto”, “Veja Esta Canção”, “Felicidade É…”, “Caramuru - A Invenção do Brasil”, “Debate”, dentre outros, e, mais recentemente, pôde ser vista na série “Segunda Chamada”, como uma obstinada professora da rede pública. Não há dúvidas de que Debora Bloch é uma das atrizes mais carismáticas de sua geração.

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