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Milton Nascimento se despede dos palcos com ‘A Última Sessão de Música’ em BH

Músicas incluídas de última hora no repertório dão pistas de quais convidados deverão subir ao palco com ele

Uma despedida ensaiada, planejada e carregada de emoção. Milton Nascimento sobe neste domingo (13), às 19h, em um palco montado no Mineirão para o último show da sua carreira. Aos 80 anos recém-completados em 26 de outubro, ele deixa claro que se despedirá dos palcos; mas, da música, jamais.

“Estou soltando a voz pelas estradas desde os 13 anos e me considero o mais mineiro de todos os cariocas. Foi em Minas que me encontrei com a música, compus minhas primeiras canções e esse caminho me levou aos quatro cantos do mundo”, disse.

Cinquenta e cinco mil pessoas esgotaram os ingressos colocados à venda para o show desta noite na Pampulha. Esta será a 37ª apresentação de uma turnê iniciada em junho e que, a princípio, passaria apenas pelo sudeste brasileiro, Europa e Estados Unidos, mas, atendendo a pedidos, acabou ganhando shows extras no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Porto Alegre, Salvador e Recife, com ingressos esgotados.

“Quando vi os ingressos acabando e a gente marcando data extra, achei que tínhamos exagerado. Me senti culpado”, confessa Augusto Nascimento, produtor e filho de Milton. “Mas quando vi, na Europa, ele reclamando de que já tinham acabado os shows por lá, relaxei, vi que daria tudo certo”.

Ao longo da turnê, muitos amigos se encontraram com ele no palco: Simone, o argentino Fito Paez, Liniker e Seu Jorge, para citar alguns. Milton reverencia todos os parceiros no vídeo de divulgação da empreitada. Diz que sem os amigos que fez ao longo do tempo, ele não seria o que é, hoje, nem sua carreira teria chegado onde chegou. Cita nomes como os de Tom Jobim, Elis Regina, Quincy Jones, James Taylor, Cat Stevens, Björk, Paul Simon, Lô Borges e tantos outros que o ajudaram a levar sua música mundo afora.

“Native Dancer” influenciou músicos americanos

Milton gravou 42 discos, foi indicado ao Grammy nove vezes e premiado 5. Nos EUA, gravou o primeiro disco internacional e firmou ‘parcerias eternas” com Herbie Hancock e Wayne Shorter. Com esse último, gravou “Native Dancer”, disco que uniu o jazz rock, com elementos do funk, além de ritmos regionais e de influência brasileira e que foi considerado um marco na World Music. “Muitos músicos americanos foram influenciados por este álbum”, orgulha-se ele.

Para o show em Belo Horizonte, os convidados são mantidos em segredo, mas algumas canções incluídas de última hora sugerem quem poderá acompanhá-lo: “O trem azul"(Lô Borges e Ronaldo Bastos) e “Um girassol da cor do seu cabelo” (Lô e Márcio Borges) serão levadas ao palco na noite deste domingo.

Segundo Milton, não seria possível fazer essa despedida sem incluir músicas de todas as fases da carreira. Os clássicos como “Ponta de Areia”, “Encontros e Despedidas”, “Travessia”, “Cio da Terra” e “Nos Bailes da Vida”, não podem faltar no setlist. “O resto é surpresa” , diz ele. “Queremos proporcionar uma experiência única e emocionante, do começo ao fim”.

Homenagem a Gal Costa

Haverá também homenagem a Gal Costa. “Ele sentiu bastante, a morte dela, pois era bastante próximo”, comenta Augusto.

A cantora baiana gravou uma dezena de canções dele, clássicos como “Paula e Bebeto” (Milton e Caetano), “Canção da América” (Milton e Fernando Brant) e “Fé cega, faca amolada” (Milton e Ronaldo Bastos), todas no repertório oficial da turnê.

Documentário deverá ser lançado em 2023

“A Última Sessão de Música” deverá render um documentário. A diretora Flávia Moraes está acompanhando toda a turnê e captando imagens com este fim. A expectativa é que o lançamento ocorra em 2023. O show de Londres também foi gravado, assim como será o do Mineirão, podendo também gerar DVDs.

Na apresentação desta noite, Milton terá a companhia do violonista e guitarrista Wilson Lopes, Lincoln Cheib (bateria), Ademir Fox (piano), Widor Santiago (metais), Zé Ibarra (vocal e violão), Ronaldo Silva (percussão), Alexandre Primo Ito (baixo acústico) e Fred Heliodoro (vocal e baixo elétrico).

A ideia é repassar, em pouco mais de duas horas, toda a trajetória de Milton. De acordo com Augusto,, às vezes, o cantor parece não assimilar que é o último show que fará na vida”. “Não me parece que está indo para um dia de despedida. Nunca o vi tão bem, feliz e animado”, disse. Talvez essa calma seja reflexo da paz de espírito dos que sabem que cumpriram bem sua missão e tiveram a felicidade de trabalhar com o que mais amam. A nós, só resta agradecê-lo e reverenciá-lo. Obrigado, Milton, por tanto.

“A Última Sessão de Música”

A partir das 19h, no Mineirão (avenida Antônio Abrahão Caram, 1.001, Pampulha).

Abertura dos portões: 15h.

Ingressos esgotados.

Transmissão ao vivo pelo Globoplay.

Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.



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