Antonio Pecci Filho ganhou de sua mãe o apelido pelo qual ficaria conhecido em todo o Brasil. Toquinho nasceu no dia 6 de julho de 1946, em São Paulo. Aos 14 anos, ganhou o seu primeiro violão e logo emplacou parcerias com Chico Buarque, Jorge Benjor e Paulo Vanzolini. O grande encontro artístico e musical de sua carreira, no entanto, se deu com o poeta Vinicius de Moraes, com quem compôs verdadeiros clássicos da música, como “Tarde em Itapoã”, “A Tonga da Mironga do Kabuletê”, “O Filho Que Eu Quero Ter”, entre outras, que foram cantadas por Clara Nunes, Maria Creuza, Maria Bethânia e Simone.
“Lua Cheia” (valsa, 1965) – Toquinho e Chico Buarque
Irmã de Chico Buarque, a cantora e compositora Ana de Hollanda é parceira de Jards Macalé em canções delicadas como “Balada” e “Canção para Aninha”. Em 1980, ela lançou o seu primeiro LP, a que se seguiram “Tão Simples” (1994), “Um Filme” (2001), relançado em 2019, e “Só Na Canção” (2009). Do irmão ilustre, gravou “Lua Cheia”, parceria com Toquinho, para um songbook de 1997. Também atuou como vocalista em discos de Tom Jobim, Miúcha e Fafá de Belém. Em 2011, Ana de Hollanda foi nomeada a Ministra da Cultura de Dilma. “Lua Cheia” é valsa de 1965, e lançada em 1967 por Chico Buarque.
“Na Boca da Noite” (samba, 1967) – Paulo Vanzolini e Toquinho
O elo entre Paulo Vanzolini e a música chama-se poesia. O que não é difícil perceber, basta constatar a inaptidão do compositor com qualquer instrumento de cordas, sopro ou batuque, embora ele os adore. Nunca soube reparar “as frescuras” de João Gilberto, amigo que conheceu moço. Em sua juventude lançou “Lira”, livro de poesias. Depois “Tempos de Cabo”, com o mesmo sumo poético, recolhido dos tempos de exército.
“Na Boca da Noite”, é exemplo bem acabado dessa característica de sua pessoalidade, embora o próprio advirta que ela não estava pronta quando o apressado Antonio Pecci, apelidado Toquinho, resolveu lançá-la. Senão teria tirado o sétimo lugar no II Festival Internacional da Canção promovido pela TV Globo, e não o oitavo, revigora sua picardia.
Seja como for, as imagens do samba de 1967, são de beleza poética, e talvez, justamente, por estarem inacabadas sob o olhar do poeta. “Nuvem alta em mão de vento é o jeito da água voltar. Morena, se acaso um dia tempestade te apanhar, não foge da ventania, da chuva que rodopia, sou eu mesmo a te abraçar…Vi um rosto na janela, parei na beira da estrada, cheguei na boca da noite, saí de madrugada…”.
“Que Maravilha” (samba-rock, 1969) – Jorge Ben Jor e Toquinho
Habituado a compor sozinho, sempre a bordo de seu violão inconfundível, Jorge Ben Jor abriu alas para Toquinho em 1969, com quem compôs a irresistível “Que Maravilha”, mais uma canção de temática amorosa e versos simples, bem a seu estilo, com quem Toquinho contribuiu com a suavidade e categoria de sempre.
A canção se tornou o cartão de visitas de Elza Soares quando, fugindo da ditadura militar no Brasil, ela se mudou com o então marido Garrincha para a Itália e fixou residência em Roma. Lá, se encontrou com outro casal ilustre, com quem logo se enturmaram: Chico Buarque e Marieta Severo.
“A Tonga da Mironga do Kabuletê” (samba, 1971) – Vinicius de Moraes e Toquinho
Monsueto foi convidado, em 1971, por Vinicius de Moraes e Toquinho, autores da música, para uma esdrúxula participação em “A Tonga da Mironga do Kabuletê”: emitir sons ininteligíveis. Sabendo ser um convite de poeta para poeta, é claro que Monsueto aceitou. Hábil inventor de expressões carregadas de influência africana, mas, sobretudo, de humor e ironia, ele estava em casa quando se intrometia nos versos de “A Tonga da Mironga do Kabuletê”, como o haviam pedido.
E é para lá, nesse lugar estranho e desconhecido, que Vinicius de Moraes e Toquinho pretendiam mandar com inteligência aqueles que atentavam contra tal princípio neste momento triste da política brasileira, abafada sobre o regime ditatorial que permaneceu de 1964 até 1985. Monsueto, ao contrário, era um homem livre, e legou, com alegria, este princípio e este ritmo.
“Tarde em Itapoã” (samba, 1971) – Vinicius de Moraes e Toquinho
Na beira do mar, Badi Assad sente a “brisa a acariciar o seu corpo” e sequer precisa sair de casa. A compositora paulista conta que é “transportada” para esse ambiente toda vez que escuta “Tarde em Itapoã”, um dos clássicos do conterrâneo Toquinho em parceria com Vinicius de Moraes. Mas a intimidade de Badi com a obra de Toquinho data de um tempo anterior. “Como muitos brasileiros, o conheci através de ‘Aquarela’. Na época, eu tinha começado a tocar violão e achei incrível um cantor tocar violão daquele jeito enquanto cantava. Eu estava com 14 ou 15 anos mais ou menos, e com certeza ele plantou esta semente de possibilidades em meu jovem coração”, diz a cantora.
“Samba de Orly” (samba, 1971) – Vinicius de Moraes, Chico Buarque e Toquinho
Toquinho conta como nasceu o “Samba de Orly”, parceria com Vinicius de Moraes e Chico Buarque, lançada em 1971. “Foi em 1969, depois de seis meses na Itália que passei ao lado de Chico. Eu tinha deixado com ele um tema a ser desenvolvido. No dia da despedida, no aeroporto de Fiumicino, ele largou comigo dois versos: “Vê como é que anda aquela vida à toa/ Se puder me manda uma notícia boa”. Nascia assim essa canção que foi completada posteriormente no Brasil, com a participação de Vinicius de Moraes. Ela se chama “Samba de Orly” porque era geralmente em Orly, na França, que pousavam os aviões transportando os exilados brasileiros perseguidos pela ditadura daquela época”. E a música foi regravada pela cantora Bebel Gilberto.
“O Filho Que Eu Quero Ter” (acalanto, 1974) – Toquinho e Vinicius de Moraes
Em mais um LP dividido com o eterno parceiro Vinicius de Moraes, Toquinho dedicou uma canção ao filho Pedro, batizada de “O Filho Que Eu Quero Ter”, em 1975. Construída em forma de acalanto, as famosas cantigas de ninar para fazerem as crianças dormirem, essa canção singela percorre uma bonita linha do tempo, em que o filho que nasce logo se tornará também um pai. A canção foi lançada em primeira-mão por Chico Buarque um ano antes, em 1974, no disco “Sinal Fechado”, onde cantava músicas de outros por conta da censura.
“Valsa do Bordel” (valsa, 1979) – Vinicius de Moraes e Toquinho
Em 1962, mesmo sem ter nada a ver com a Bossa Nova, Carmen Costa participa do emblemático concerto no Carnegie Hall, em Nova York, que reuniu Tom Jobim, João Gilberto, Roberto Menescal e Carlinhos Lyra, e toca cabaça. No mesmo ano, reafirma a ligação com a festa mais popular do Brasil ao gravar a “Marcha do Cordão do Bola Preta”, de Vicente Paiva: “Quem não chora, não mama/ Segura meu bem a chupeta/ Lugar quente é na cama/ Ou então no Bola Preta”.
É, talvez, o último momento de ápice de Carmen. Nas décadas seguintes, ela presta tributo em disco a Paulo Vanzolini, realiza duetos com Agnaldo Timóteo e dedica, em 1980, um álbum inteiro a canções que têm como temática a prostituição, como “Dama do Cabaré”, de Noel Rosa, “Garoto de Aluguel”, de Zé Ramalho, e “Valsa do Bordel”, de Toquinho e Vinicius de Moraes, lançada, em 1979, pela cantora Maria Creuza.
“O Porquinho” (infantil, 1981) – Vinicius de Moraes e Toquinho
Em 1970, Vinicius de Moraes lançou um livro infantil baseado na Arca de Noé, sobre os animais que embarcaram na viagem para fugir do dilúvio, através de poemas bem humorados e singelos. Na versão em disco, Grande Otelo gravou “O Porquinho”, de Vinicius e Toquinho. O Palmeiras ganhou o apelido de porco, que depois adotou como mascote, de forma inusitada. Após um acidente de carro que matou dois jogadores do Corinthians, dirigentes do clube foram contra a inscrição de atletas do rival, o que lhes rendeu a alcunha de “espírito de porco”.
“Herdeiros do Futuro” (infantil, 2002) – Toquinho e Elifas Andreato
Toda máxima tem um pouco de verdade e um tanto de esperança. Não é por acaso que se deposita nas crianças as chances de um futuro melhor para o ser humano e seus semelhantes, inclusive aqueles para os quais ele olha com desdém, como a terra, a água, os bichos e as plantas. Com Elifas Andreato, Toquinho participou do projeto e compôs a música “Herdeiros do Futuro”, voltada para o público infantil, em 2002, mas que serve, como um alerta, para pessoas de todas as idades. Especialmente as que habitam este planeta sem terem com ele cuidado, carinho e amor, noções básicas de uma convivência saudável. Que no futuro essa música possa ser um retrato distante, e datado.