O título mundial da Argentina, mais do que dar ao país vizinho sua terceira conquista, serviu para dar uma resposta e um tapa na cara da Europa.
Desde a Copa da Rússia, em 2018, a União Europeia de Futebol Associado (Uefa) mudou a ordem do futebol de seleções ao criar a Uefa Nations League, competição estilo Copa América e que ocupou todas as datas disponíveis para amistosos, as chamadas “datas FIFA”. Com isso, criou uma barreira entre as equipes europeias e as demais do planeta.
Isso obrigou as demais seleções do mundo a jogarem entre si e, muitas vezes, contra adversários onde o futebol não é tão desenvolvido.
Mas a primeira Copa do Mundo disputada num país do Oriente Médio destruiu a soberba europeia ao classificar, para uma semifinal de competição, uma equipe sul-americana e outra africana, mostrando que a Europa criou uma armadilha para si própria.
Tudo bem que existe o lado comercial da coisa. Financeiramente, deve ser extremamente vantajoso para a Uefa, mas, esportivamente, nem tanto.
Ao criar essa “segregação”, impediu que suas seleções tivessem contato com o futebol praticado em outros continentes. E, mais: seus clubes contam com estrelas de várias partes do mundo, que aprenderam o jeito europeu de atuar e pensar futebol e isso se mostrou benéfico para os excluídos.
Além do título da Argentina, a Copa do Catar apresentou resultados importantes de seleções consideradas inferiores contra europeus, como do Irã sobre País de Gales; da Austrália sobre a Dinamarca; do Japão em cima da poderosa Alemanha e da Espanha; da Coreia do Sul diante de Portugal e os dois trunfos dos marroquinos contra Bélgica e Portugal.
Isso não quer dizer que as seleções europeias não têm talento ou capacidade de conquistar títulos, pelo contrário. Chamo a atenção para a geração da vice-campeã França, Espanha e Alemanha, que darão trabalho nos próximos mundiais. Até porque a Europa detém o maior número de vagas para a competição.
Mas a política de segregação durante o ciclo entre Mundiais, fechando as portas para os países “periféricos” custou e pode custar caro a médio e longo prazo para os europeus.
O primeiro título mundial do gênio Lionel Messi, além de um soco na segregação europeia, serviu para derrubar a soberba de muitos, entre eles do craque francês Kylian Mbappé. O garoto do Paris Saint-Germain (PSG) teve a infelicidade de afirmar, em maio de 2022, que, na América do Sul, o futebol não era tão avançado quanto na Europa. Por isso que, quando você olha para as últimas Copas, sempre os europeus que ganham.
Messi & Cia provaram que não.