Ouvindo...

Plop Champagne: Dom Pérignon, uma manhã em Hautvillers

Um passeio pela cidade e pela história do monge mais famoso de Champagne

Luisa Fonseca na Abadia de Dom Pierre Pérignon, na França

Até mesmo quem não entende muito de champagne já deve ter ouvido esse nome. Muitos dizem que ele criou o champagne, outros conhecem pelo famoso rótulo que é comum em baladas luxuosas e grandes adegas.

Mas a história real por trás desse monge e dessa marca, que talvez muitos não saibam, é muito interessante. Por esse motivo, escolhi compartilhar por aqui com vocês, de forma resumida, aproveitando que esse ano eu tive a honra de visitar a Maison em Hautvillers e a Abadia de Dom Pierre Pérignon.

Dom Pérignon foi um monge dedicado e detalhista, chef de cave na região de Champagne, quando lá se fazia apenas vinhos tranquilos. Pasmem, ele era uma das muitas pessoas que tentava impedir a formação gasosa nos vinhos. Quando as borbulhas surgiram, elas foram consideradas um erro.

A região produzia vinhos há muito tempo, porém no inverno, com as baixas temperaturas, as leveduras adormeciam. Quando chegava a primavera e esquentava, elas acordavam vorazes. E geravam mais gases do que deveriam - plop! Explodia tudo. Na época isso foi considerado um caos, uma maldição nas caves, várias teorias, para resumir. Até resolverem experimentar o tal vinho com gases. E não é que era bom.

Pierre Pérignon foi muito importante para evoluções na produção do champagne posteriormente, com muitos estudos sobre o terroir e o aprimoramento da técnica de blends, as misturas de vinhos base. Mas não podemos dizer, como muitas lendas por aí, que ele foi o “pai do champagne”.

Não há um “criador” do espumante, mas sim quem começou a produzi-lo propositalmente e comercializá-lo. E muitos dos registros apontam para uma região que antecedeu a França, os ingleses. Eles tinham os melhores vidros para suportar a pressão do gás carbônico engarrafado, o que era um grande desafio, pois muitas garrafas na região de Champagne e em muitas outras, explodiam e todo o líquido precioso era perdido. Ou seja, foram necessários muito estudo e descobertas primordiais para que tivéssemos essas borbulhas engarrafadas como temos hoje.

E no início desse ano tive a honra de ser convidada pelo maior grupo de luxo do mundo, LVMH, proprietário da Maison que homenageia o monge, para uma visita especial.

Começamos a manhã na belíssima e pacata Abadia de Hautvillers. Era um dia lindo e gelado. Marie Filomene nos conduziu pelas histórias incríveis que aquele lugar presenciou, e durante nosso papo, um raio de sol penetrou linear sobre o túmulo de Dom Pérignon, que ali repousa. Foi um momento mágico e especial.

Seguimos para um passeio nos jardins, e na sequência, é claro, a degustação.

Thierry preparou para nós uma gama dos rótulos ícones da casa. Experimentamos as safras 2010, 2013, o grande P2 nas safras 2003 e 2004 e o Rosé 2009.

Dom Pérignon é um rótulo da Maison Moet & Chandon, e é produzido apenas em safras excepcionais com uvas provenientes dos mais renomados vilarejos de Champagne. O rótulo P2 é uma edição que fica por mais tempo nas caves, cerca de 15 a 17 anos repousando sobre as lias. Além dele, a casa possui o P3, que fica aproximadamente 20 anos em cave antes de seu dégorgement e posterior lançamento.

É inegável o potencial de guarda de qualquer garrafa de Dom Pérignon. Para mim, é o vintage que melhor envelhece e mantém seu frescor, acidez e vivacidade. Não é à toa seu prestígio e fama.

Foi um dia singular e inesquecível.

Imperdível experimentar esse champagne. Recomendo minha safra mais recente predileta da Maison: 2010.

Santé, amigos!

Degustação em Hautvillers das safras 2010, 2013 e P2 2004

Fale com a colunista AQUI

Enófila, WSET nível avançado em vinhos, especializada na região de Champagne pelo Wine Scholar Guild (WSG Champagne Master Level). Administradora por formação, e apaixonada por escrever e compartilhar sobre a região borbulhante mais famosa do mundo. Compartilho minhas vivências nas temporadas anuais que passo na França, e trago dicas e histórias por trás dos rótulos.