Uma visita singular e diferente de qualquer outra experiência: eu como uma apaixonada pela intervenção equilibrada e embasada, de barricas nos vinhos, cheguei ao paraíso.
A palavra terroir é muito falada no mundo dos vinhos. Ela indica a união de solo, clima, temperaturas e influências marítimas e continentais. Por isso, mesmo com as mesmas uvas e técnicas, vinhos de regiões diferentes têm características totalmente distintas.
Mas além das uvas, esse terroir também influencia em outras árvores. E foi nisso que a casa Henri Giraud se inspirou. Eles se baseiam no terroir de Aÿ, onde estão localizados e têm a maioria das suas uvas, e no terroir de onde vem as barricas usadas nos seus vinhos: a grande e centenária floresta de Argonne.
Pouco se fala nisso, mas cada micro terroir de uma plantação pode mudar por completo as características de uma árvore para outra, a depender da localização e de sua idade. E essa vinícola nos mostra isso: não só a diferença de uma para outra, mas a diferença de cada parte de uma mesma árvore.
Existe alteração de porosidade da madeira, espessura, notas mais ou menos evoluídas, que produzem barris de diferentes características. E esses barris são usados como recipiente para a autólise dos vinhos base que produzem o champagne, e passam para esses vinhos as notas da madeira, em diferentes proporções.
Esse estudo minucioso permite ao chef de cave avaliar qual pedaço de qual árvore é melhor para cada vinho ou blend. Com mais ou menos influência, e aromas diversos. E não para por aí: esse chef de cave acompanha a tosta de cada barril.
Para quem não sabe, os barris são queimados antes do uso (ou não, pois se pode optar por usar sem tosta) e cada barril da Henri Giraud é tostado ao lado do enólogo, e ele define, pasmem, pelo cheiro, a hora de interromper a tosta. Isso influencia o quanto a madeira vai intervir no resultado do vinho. E para cada safra e blend, uma necessidade diferente.
Ânforas e tanques subterrâneos
É mágico viajar pelos corredores de barricas e pelas inúmeras histórias surpreendentes que gentilmente a brasileira Daisy nos contou.
E não só barricas, mas ânforas de diferentes materiais como terracota e concreto, tanques de reserva perpétua subterrâneos, com influência da proximidade ao rio, dentre outros mínimos detalhes e riqueza de profundidade no estudo das técnicas.
E, claro, que com um critério superior desses, os champagnes não seriam diferentes. Pude degustar toda a gama Giraud, com destaque para os grandes MV e Argonne, cuvées de prestígio da casa. Além do Coteaux Champenois, vinho tranquilo (sem bolhas) de Champagne, na versão tinto.
Até para degustar tem influência: um medidor de pressão atmosférica no centro da sala nos conta quando é melhor para degustar o champagne, e como a pressão altera a forma como sentimos a bebida e seus aromas. Técnicas e mais técnicas, resultando perfeição em todos os rótulos.
Encerramos a degustação em grande estilo, com a Ratafia Giraud (um vinho fortificado feito com a última prensa das uvas, sumo esse que não pode ir para os blends dos champagnes, chamado de rebêche), a mais famosa da região. Acompanhada de um chocolate elaborado especialmente para a casa, com uvas fornecidas por eles, pelo melhor chocolatier de Épernay, Emmanuel Briet (que posteriormente eu tive o prazer de conhecer pessoalmente, em um encantador passeio por sua loja).
Experiência inesquecível e incomparável.
Domaine Henri Giraud, em Aÿ e o momento da degustação dos rótulos Giraud