A história do desaparecimento do ex-deputado brasileiro Rubens Paiva é retratada no filme ‘Ainda Estou Aqui’, o primeiro longa brasileiro a conquistar três indicações ao Oscar. Na premiação deste ano, a produção concorre às categorias de Melhor Filme, Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Atriz pela atuação de Fernanda Torres como Eunice Paiva, esposa de Rubens Paiva.
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O filme se concentra especialmente na dor e no impacto para família do desaparecimento de Rubens. No dia 20 de janeiro de 1971, há 54 anos, militares do Centro de Informações da Aeronáutica (Cisa) foram até a casa do ex-deputado e o levaram para prestar um depoimento. Desde então, ele nunca mais foi visto.
Rubens começou a ser torturado ainda no quartel da Força Aérea Brasileira (FAB). Logo depois, ele foi entregue aos militares do DOI-CODI. Lá, ele continuou sendo violentado e foi assassinado, segundo o que revelou a Comissão Nacional da Verdade, instaurada em 2014. A esposa de Rubens, Eunice Paiva e a família só tiveram acesso ao atestado de óbito em fevereiro de 1996.
Luta por causas sociais começou ainda na adolescência
Rubens Paiva nasceu em 1929, em Santos, no litoral paulista. Filho de uma família abastada, Rubens Paiva era inconformado com as injustiças sociais e teve uma trajetória idealista e corajosa, segundo os relatos do biógrafo Jason Tércio, que pesquisou a vida do ex-deputado por três anos e escreveu dois livros sobre ele.
A vida política de Paiva começou ainda no Ensino Médio, quando participou do movimento estudantil e foi o responsável pelo jornal O São Bento. Em 1950, ele ingressou no curso de Engenharia Civil na Universidade Mackenzie. Mesmo na faculdade, o ex-deputado continuava sua luta. Ele foi eleito presidente do Centro Acadêmico Horácio Lane e, ao final do curso, se filiou ao Partido Socialista Brasileiro (PSB).
Já engenheiro e bem financeiramente, Paiva continuava se preocupando com pautas sociais. Em 1962, aos 32 anos, ele decidiu se candidatar ao cargo de deputado federal e foi eleito. O mandato, que começou em 1963, foi curto: durou pouco mais de um ano. Mas foi suficiente para Paiva se tornar um inimigo da ditadura, que seria instaurada no dia 31 de março de 1964.
Líder de CPI e defensor da reforma agrária
Durante o mandato como deputado federal, sob o governo de João Goulart, Rubens Paiva foi o vice-presidente de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigava um esquema ilegal de financiamento de campanhas eleitorais.
Os deputados eram suspeitos de obterem o dinheiro através de recursos do Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad) e do Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais (Ipes).
“Ele era o mais veemente e pressionava. Ninguém ainda sabia, mas seria o maior escândalo de corrupção eleitoral da República até então, e com ramificações internacionais”, apontou Jason Tércio.
Paiva também elaborou um relatório sobre corrupção na construção da Ponte Rio-Niterói. “Os parlamentares do bloco de Paiva defendiam reforma agrária, nacionalização de empresas estratégicas, melhorias na educação e na saúde. O Rubens sempre manteve essa coerência política, talvez o maior legado dele”, diz Tércio.
Rubens era monitorado 24 horas durante a ditadura
Com o golpe militar, o mandato de Rubens Paiva foi cassado pelo Ato Institucional n°1 e ele perdeu seus direitos políticos. Mesmo assim, o ex-deputado idealista não deixou de atuar politicamente.
Ele se exilou na Europa por cinco meses e depois resolveu voltar ao Brasil escondido. Ele comprou uma passagem para Montevidéu, no Uruguai, e desceu do avião durante uma escala no Rio de Janeiro. Ele disse às aeromoças que iria apenas comprar um cigarro.
De volta ao Brasil, Paiva continuou agindo nos bastidores. Após o AI-5, em 1968, ele passou a encaminhar cartas de perseguidos políticos exilados no Chile. Também havia registros do ex-deputado em reuniões com sindicalistas, professores e militantes clandestinos.
Paiva se tornou um alvo da ditadura e passou a ser monitorado 24 horas por dia. Para o ex-deputado federal Emiliano José, que foi também preso e torturado por agentes da ditadura na Bahia, em 1970, os militares consideravam Rubens Paiva como um “traidor”.
“Perante os militares, o Rubens Fava tinha um ‘agravante’. Ele era uma pessoa privilegiada que defendia a reforma agrária. Por isso, considerado um traidor”.
*Com informações de Agência Brasil