Após linchamento virtual, a jornalista Patrícia Lélis entrou com processo contra o Partido dos Trabalhadores (PT) por ofender a sua “honra e imagem, caluniando e difamado” ao divulgar nota acusando-a de transfóbica. Uma petição foi protocolada na última segunda-feira (27) no Tribunal de Justiça do Distrito Federal.
Patrícia compartilhou, nas redes sociais, em 5 de julho do ano passado, o episódio em que um homem, de 52 anos, teria se aproveitado das pautas LGBTQIA+ para entrar no banheiro feminino do WI-SPA, em Los Angeles, nos Estados Unidos, alegando ser mulher trans, causando constrangimento para as adolescentes e mulheres que ali estavam.
O homem, ao se deparar com a reação das mulheres, exibiu o pênis para se afirmar naquele espaço. A situação gerou protestos no país.
Com isso, a jornalista declarou, nas redes sociais, que “ser mulher não é um sentimento” como forma de defender espaços divididos por sexo com o objetivo de proteger mulheres e crianças da violência masculina.
Segundo uma matéria publicada no The Guardian, em setembro do ano passado, as autoridades de Los Angeles acusaram o homem de “exposição indecente” (indecent exposure).
A polícia disse à reportagem que o homem é um criminoso sexual registrado desde 2006, mas tem um histórico de acusações anteriores de “exposição indecente”. Ele foi condenado por “exposição indecente”, em Los Angeles, entre 2002 e 2003.
“Ser mulher jamais será um sentimento. Nós somos socializadas desde o nosso nascimento de forma diferentes de homens, somos inclusive mais vítimas de abusos e assédios do que homens”, disse a jornalista à reportagem da Itatiaia.
As declarações não foram bem recebidas por ativistas LGBTQIA+ e o Partido dos Trabalhadores, a que era filiada, que soltou uma nota repudiando as postagens sobre o episódio.
“O Brasil é o país do mundo em que mais se mata pessoas transgêneras. É preciso proteger essas pessoas, não transformá-las em alvo de ignorância e conservadorismo. Transfobia não é opinião, é crime”, iniciou a nota.
O partido declarou repúdio às postagens publicadas por Patrícia Lélis. “Informamos que vamos aplicar ao caso as normas estatutárias cabíveis, de forma a deixar claro que o PT jamais compactuará com narrativas de ódio e preconceito, como é a transfobia.”
A nota é assinada por Gleisi Hoffman, presidente do PT, Janaína Oliveira, secretária LGBT do PT, Bel Sá, secretária LGBT do PT-SP, e Anne Moura, secretária de Mulheres do PT.
Em seguida, o PT-SP publicou outra nota de repúdio à jornalista dizendo que “enquanto direções partidárias, estamos lado a lado com nossas vereadoras trans eleitas no Estado de São Paulo, que vieram a público cobrar ações efetivas nossas contra a filiada Patrícia Lelis, que vem repetidamente expressando opiniões transfóbicas em suas redes sociais”.
Após a publicação das notas, Patrícia denunciou que passou a ser assediada e ameaçada. “Eu afirmo com toda certeza que foi a pior situação que passei. O número de mensagens de assédios e ameaças nunca tinha sido tão grande. Foi, realmente, algo que impactou meu psicológico. As formas de ataques foram tão absurdas que ligaram no meu trabalho, para meus familiares… Foi horrível. Eu fui criminalizada por falar sobre os direitos das mulheres, e isso me dói até hoje”, declarou.
De acordo com a jornalista, houve uma tentativa de acordo para que não fosse necessário levar o caso para os tribunais. Ela pediu que a nota fosse retirada e um pedido de desculpas fosse publicado. Um tempo depois, o PT retirou a nota. O PT-SP manteve o posicionamento.
A reportagem da Itatiaia entrou em contato com o PT e foi informada que o partido não comentará sobre o processo até que seja notificado. O PT-SP não respondeu até a publicação da matéria.