Se não houver uma reviravolta na Justiça, a CBF terá até o fim de janeiro um novo presidente. Se colocaram como pré-candidatos o advogado Flávio Zveiter, ex-diretor da própria confederação e ex-presidente do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), e Reinaldo Carneiro Bastos, desde 2015 presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF).
Ambos já articulam apoios e, nas conversas, o tema Seleção Brasileira é abordado. Os dois evitam, segundo apurou a Itatiaia, falar em nomes que poderiam assumir como treinador, já que nem candidatos de fato são ainda e a eleição não está agendada. Mas há consenso dos dois grupos de que é preciso fazer mudanças.
Três pontos são quase unanimidade nas conversas:
- O treinador da Seleção Brasileira tem que ser exclusivo da Seleção Brasileira. Ou seja, se Fernando Diniz, que atualmente se divide no comando do Brasil e do Fluminense, quiser permanecer terá que se desligar do clube.
- Não é garantido que Diniz ficará. O contrato do treinador vale somente até junho de 2024, e nas conversas com dirigentes, os dois pré-candidatos dizem que vão avaliar o mercado e nomes potenciais para assumir a Seleção Brasileira no ciclo que terminará com a Copa do Mundo de 2026, que será na América do Norte (Estados Unidos, Canadá e México).
- Um coordenador de Seleções será contratado. Desde o fim da Copa do Mundo de 2022, no Catar, com a saída da comissão técnica de Tite e de Juninho Paulista da direção, o Brasil não tem uma pessoa na função.
Técnico estrangeiro
Ednaldo Rodrigues, presidente afastado em 7 de dezembro por decisão da Justiça, negociava com o italiano Carlo Ancelotti para assumir a Seleção Brasileira a partir de meados de 2024. Mas na sexta-feira (29), o treinador anunciou a renovação com o Real Madrid, da Espanha.
Ou seja: quem assumir a CBF no fim de janeiro terá um técnico, Fernando Diniz, com contrato curto, até junho do ano que vem, e ainda se dividindo com o Fluminense, conforme acordado entre treinador, clube e CBF.
Nas conversas com aliados e potenciais apoiadores, os pré-candidatos descartam deixar Diniz nessa situação. Ele poderia até ser o treinador para todo o ciclo de 2026, mas terá que deixar o Fluminense.
Só que Zveiter e Reinaldo têm ouvido queixas de presidentes de federações com relação ao desempenho da Seleção. Com Diniz foram seis jogos pelas Eliminatórias para a Copa, e somente sete pontos conquistados, com duas vitórias, um empate e três derrotas e a sexta colocação.
Como a Copa de 2026 inchou para 48 participantes, o Brasil ainda estaria se classificando nessa posição, mas é o limite, já que o sétimo jogará na repescagem mundial em março de 2026.
Por isso que, quem assumir, promete avaliar o mercado e nomes de treinadores brasileiros e também de estrangeiros. Não há, por enquanto, qualquer promessa, de um ou outro pré-candidato, de que tentará contratar esse ou aquele técnico, portanto qualquer nome que aparecer nesse momento é pura especulação.
O presidente interino da CBF, José Perdiz de Jesus, tem que marcar a eleição até 25 de janeiro. Ele deve aguardar a visita de uma comitiva da Fifa e da Conmebol, na segunda semana de janeiro, para confirmar a data.
E se Ednaldo voltar?
Duas ações ainda correm no STF (Supremo Tribunal Federal), aberta por partidos políticos, a pedidos de conterrâneos do baiano Ednaldo Rodrigues, que tentam recolocar o dirigente no comando da CBF.
Não é impossível, portanto, que ele volte. E Ednaldo tem dito a pessoas próximas que não aceitaria mais dividir o técnico da Seleção com algum clube, em movimento igual ao dos pré-candidatos. Diniz, portanto, teria que fazer uma escolha.
Mas até Ednaldo diz que poderia ir ao mercado buscando uma outra opção, levando em conta os resultados ruins apresentados pela Seleção até este momento com o treinador do Fluminense.
É preciso pressa. Em março o Brasil tem dois amistosos contra duas forças do futebol mundial, Espanha e Inglaterra, ambos confrontos na Europa. Em 8 de junho, nos EUA, tem amistoso frente ao México e logo depois a Copa América. Entre setembro e novembro ocorrem mais seis rodadas das Eliminatórias.
Entenda o afastamento de Ednaldo
O processo que causou o afastamento de Ednaldo Rodrigues está ativo desde 2018, por iniciativa do Ministério Público do Rio de Janeiro, ainda referente à eleição de Rogério Caboclo, antecessor de Ednaldo.
O MP questiona o estatuto da confederação por estar em desacordo com a Lei Pelé porque prevê pesos diferentes para clubes nas votações para a escolha dos presidentes. Os dirigentes das 27 federações estaduais têm peso 3 na na votação, contra peso 2 dos 20 clubes da Série A e peso 1 dos 20 da B.
A Justiça anulou em 2021 a eleição de Rogério Caboclo e determinou uma intervenção na CBF, nomeando Rodolfo Landim, presidente do Flamengo, e Reinaldo Carneiro Bastos, como os interventores. Essa decisão foi cassada pouco tempo depois.
A CBF e o Ministério Público fizeram um acordo extrajudicial e assinaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). Na nova eleição, em 2022, Ednaldo Rodrigues, que estava como presidente interino, foi eleito para um mandato completo de quatro anos, até março de 2026.
Gustavo Feijó, que era vice na época de Caboclo, acionou a 2ª instância. O pedido era que o TAC fosse anulado, e Ednaldo afastado, alegando que o juiz de 1ª instância não tinha atribuição para homologar o documento. Foi isso que foi acatado em 7 de dezembro pelo TJ-RJ.