O técnico Cuca foi apresentado no Corinthians e respondeu várias perguntas sobre o “
Acompanhe o que foi perguntado ao treinador Cuca em sua apresentação no Corinthians.
Você esperava pela repercussão, te pegou de surpresa? Se esperava, porque você aceitou o desafio do Corinthians? Queria que se pronunciasse, falasse diretamente para quem fala que você não deveria assumir o comando do Corinthians.
A gente vê e ouve um monte de coisas falando inverdades, chega a ofender. Vou fazer 60 anos daqui um mês e pouquinho. Tenho duas filhas que tem 34 e 32 anos, e é um tema que elas nem existiam. Sou caso com a Rejane, e sou até hoje. Venho de uma casa oriunda, único homem sou eu, e agora o Ravi, que tem três para quatro meses que nasceu. Eu respeitei e respeito todas as mulheres. Nunca encostei o dedo indevidamente em nenhuma mulher, em nenhuma mulher ao longo dos anos que eu vivo na bola. Já trabalhei com vocês na imprensa, já estiveram comigo, tive em diversos clubes. Tive duas vezes no São Paulo, tive duas vezes no Palmeiras, tive duas vezes no Santos, nunca foi me questionado isso em uma coletiva. Não é só o Cuca que não falou do tema. Por que naquele tempo as leis eram as mesmas. Se você comete um estupro, você vai pegar uma pena de anos. E nosso erro, meu erro foi não ter me defendido. Eu não tinha dinheiro para me defender, e nem soube que tinha sido julgado. Ficamos para averiguação por três vezes a moça esteve lá na frente. E não é que ela não reconheceu, é que eu não estava. Ela é a vítima, não eu, é a moça. O rapaz não está, o rapaz não está, e se a vítima fala que não estava, e eu juro por Nossa Senhora, que é a que mais amo e adoro na vida, que não estava, como eu posso ser condenado pela internet. Que no mesmo momento que te julga e te pune? Eu sei que o mundo mudou, que a gente vive um mundo melhor, que a mulher tem uma autodefesa muito maior, e tem que ser cada vez maior. E eu quero fazer parte disso, eu sou pai, sou avô, sou marido e sou filho. Eu quero que elas estejam cada vez mais protegidas, e eu quero ajudar. Por isso estou aqui, no clube que tem mais torcedores, 53% da torcida é feminina, um time que tem uma causa, “respeita as minas”. Lógico que é cabido o protesto de tudo que é lido e passado, mas é isso. Tem repórteres, eu já discuti com eles, Cuca você deve uma desculpa para a sociedade. Por que eu devo uma desculpa para a sociedade, do que eu devo desculpa para a sociedade se eu não fiz nada.. Por que eu devo uma desculpa para a sociedade? Dois anos e meio depois desse caso eu fui jogar do lado, em Valladolid, na Espanha, nunca teve consequência nenhuma. A vida passou 37 anos, nos últimos dois ou três ela mudou de uma forma melhor, muito melhor. Essa causa que está existindo eu quero abraçar também, até por proteção das minhas meninas, da minha mãe, da minha irmã, da minha mulher. Tudo isso machuca muito, a mim me machuca muito. Do fundo do coração, pode ter protesto, o que for, não é maior do que minha vontade de estar aqui. Se ele tivesse o que fosse por mês, eu já falei, eu vinha. Eu sinto que aqui eu posso desenvolver o meu trabalho, que a condição é boa, que eu conheço o lugar, e era o único grande de São Paulo que não tinha trabalhado. E eu tinha uma vontade enorme de estar aqui, e estou, e vou dar o meu máximo para fazer esse time jogar. Meus erros foram esses, quem sabe o principal, não ter falado mais do tema. Eu sei que amanhã vão estar no jornal descendo a lenha de volta em cima disso, o Cuca não falou a verdade, o Cuca não falou aquilo. Como eu não falei a verdade? Busque, olhem e vejam agora o que passa acima disso que é inverdade. Eu estou aberto o diálogo para conversar disso, com quem for, para quem for. É difícil falar com suas filhas. Igual eu estava falando em casa. Vamos nos preparar para isso, vocês não existiam, mas aconteceu tal fato, e a gente tem que encarar. Por que eu não vou parar de trabalhar por causa disso. Um assunto inexistente, não tem mais, não tem processo, eu fui atrás, não tem nada. Existe que em 1987 aconteceu isso, o erro foi não ter falado em 1997, 2007, 2017. Ter encarado esse assunto como devia ter encarado, mas por muitas vezes isso não foi levado a mim, pela própria imprensa levantado, vamos falar sobre isso. É que as coisas mudaram, e a gente tem que entender isso. Em cima disso é que a gente está falando também.
Protestos na arquibancada, caso aconteçam, podem interferir na confiança no seu início do trabalho?
Espero que não, sinceramente. Primeiro eu joguei, ali do lado, na Espanha, na Seleção Brasileira, joguei em grandes clubes, treinei grandes clubes. Do momento para cá, que existiram outros casos, não são casos que possam fazer comparativos com esse de 1987. Não são, não tem cabimento nenhum de fazer comparação c om julgamentos de hoje com os ocorridos naquela época. Pode ter protesto, mas eu vou passar por cima de tudo, de protesto, do que tiver. Se não tiver, eu estarei muito mais fortalecido. Hoje eu sou Corinthians. Se você me fortalecer, a chance do nosso time ser mais forte é maior. Se tiver proposto eu vou saber passar por cima de tudo, mas com a consciência tranquila. Isso é a maior coisa que um homem pode ter, saúde e paz. Tendo saúde e paz, você dorme tranquilo. Eu durmo tranquilo, graças a Deus.
Esse caso foi conversado com o Duílio (presidente do Corinthians) na hora da contratação? Você falou que é inocente, e eu vou te falar o que vão falar na internet. Que você foi condenado e preso, e sentenciado. Me parece que você ficou no Brasil, pelo que li da sentença. Queria que você explicasse isso, porque a condenação, se você não foi condenado. Tem 200 mulheres do lado de fora fazendo protesto.
O Duílio me falou que teria protesto e perguntou se eu estaria disposto a vir mesmo com isso. Eu falei que viria. Não vou ficar em casa me escondendo. Eu não sou culpado de nada, não fiz nada. Eu sou inocente e tenho minha consciência tranquila. Meu erro foi não ir a julgamento. Eu não sabia que tinha tido o julgamento. Dois anos depois, eu estava jogando na Espanha, no Real Valladolid. Não é verdade que eu fiquei no Brasil. Isso não é verdade. O advogado do Grêmio está lá, ele pode falar. Agora têm 200 mulheres ali, mas no Galo também tinha. Eu não me acovardei. Eu não tenho orgulho de estar passando por uma situação como essa. Não é fácil ter minha filhas, minha mãe, vendo essa entrevista. Não me orgulho de estar falando desse tema. Se eu pudesse não estar no quarto, eu não estaria. Mas eu estava lá enquanto algumas coisas acontecerem, se é que aconteceram. Eu não fiz nada. O (formato) do quarto é um “L”. Você não sabe, você não vê. Eu não sei. Minha parte é essa. O mais importante é a palavra da mulher. A mulher falou que o Cuca não estava lá. Não tô falando que não tava. Como pode falar que eu sou condenado, ter 200 mulheres me condenando. É difícil pra nós, mas eu não vou desistir. Eu sai lá do Galo dentro de uma condição assim, e até aquelas mulheres que não eram a favor, ficaram depois. A maioria me conhece, vocês sabem quem eu sou, o quanto eu ajo, o quanto eu respeito às mulheres, o quanto quero ter engajamento para ajudar as mulheres. Eu não sou do mal, quiseram tentar falar isso. Eu sei que amanhã terá jornalista, colunista metendo o pau. Eu não tenho que pedir desculpa pelo que não fiz. Peço desculpa para minha mulher, minhas filhas. Eu não vou ficar em casa, vou trabalhar. Sou homem, sou íntegro, sou limpo. E vou trabalhar.
Pegando o contexto da sua chegada, a gente está tendo vários protestos de torcedores na rede social, na porta do CT também. O Corinthians tem uma sequência crucial (de jogos). Você considera que o seu maior desafio na carreira, no Corinthians.
Tenho certeza, convicção que vou fazer um bom trabalho aqui. Sei que o Duílio hoje está tomando porrada a torto e a direito, ele e o Alessandro, por ter me trazido. Mas, cara, eu não sou bandido, não façam isso, por favor. Vocês me conhecem, essa minoria que faz isso, eles fazem barulho, e vão continuar fazendo. Mas, não faz mal. Falei com o Duílio, se você tiver arrependido, quiser que eu vá embora, eu vou, não tem problema nenhum, porque o protesto está sendo grande. Mas eu não vou. Eu vim aqui para vencer, e vou vencer, se Deus quiser.
Qual o teu maior arrependimento nessa história? Você falou de não ter ido atrás depois, e ficou sabendo da condenação. Por que você não foi para a Suíça resolver isso?
Eu tinha 23 anos e estava quebrado. Não tinha dinheiro nem para fazer um voo daqui para Porto Alegre. Eu era um funcionário do Grêmio. Se fosse hoje e tivesse acontecendo isso hoje, ia me favorecer muito. Você ia ouvir a moça, que ia falar três vezes que eu não estava. Eu já estaria absolvido. Não existe coisa mais absoluta do que a palavra da vítima. Se eu tivesse condição de voltar no passado, eu iria lá. Estaria lá e pronto. Seria absolvido. Era uma coisa que não era tratada como hoje. Graças a Deus, hoje é tratada de uma forma muito mais calorosa e dura, como tem que ser. Se fosse hoje, eu estava absolvido. O que eu faria diferente se eu pudesse: Eu iria lá. Depois disso, eu teria falado mais desse caso. Não teria colunista com certa razão dizendo que eu me calei e quem cala consente. Eu não acho que quem cala consente. Eu não queria mexer num tema que já estava morto, acabado. É um tema que me incomoda, como incomoda milhares de mulheres. Eu não vi nada. Não vi nada.
Você disse que quer abraçar à causa. Como que o Cuca já abraça essa causa e como pretende abraçar?
Existem programas do próprio Corinthians. Diversos profissionais podem ajudar. Eu que hoje sou uma pessoa no Corinthians, eu posso ajudar muito mais do que ajudo. Muitos treinadores podem abraçar essa causa pra ter uma justiça maior, igualdade maior, é o que se busca. Não tenho muito conhecimento de causa, mas se vierem sugestões eu abraço todas.
Você teria agido de outra forma, poderia ter evitado o que aconteceu? Como é para você revisitar o passado e refletir?
Não tenho lembrança, é muita coisa. Se eu pudesse fazer algo diferente, mas eu era um Piá, um menino, um tiquinho que saia do Juventude e estava no Grêmio. Eu ficava no meu cantinho, o que eu faria de diferente. Tinha um jogo às 4 da tarde, acho que contra o Benfica. Foi minha primeira participação. Agora, até como uma dica, que devo deixar, é para as pessoas tomarem cuidado com a vida. Às vezes uma atitude errada custa mais para a vítima, que deixa uma sequela, deixa amargura. Mas, para quem faz também fica, às vezes acaba a vida da pessoa. Se puder deixar essa dica. Não tem como voltar e deixar a chavinha minutos atrás. Basta ver o que está acontecendo em outros casos. Fica essa dica.