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A história de um homem que vivia na rua e morreu de frio por não abandonar o seu cachorro

Essa é uma história de abandono, impotência, solidariedade e, principalmente, lealdade

Homem e cão têm uma relação de lealdade há vários séculos

Há pouco mais de uma semana, a morte de Juan Carlos Leiva, de 51 anos, chocou a comunidade de Mendoza, no interior da Argentina. Conhecido e ajudado por muitos na região central da cidade, Juan faleceu devido ao frio extremo, uma tragédia agravada por sua recusa em abandonar Sultán, seu fiel cão, para buscar abrigo. A história foi contada pelo jornal argentino, Los Andes.

Juan dormia há anos na entrada de um prédio, buscando proteção sob um pequeno telhado. Maria del Carmen Navarro, uma senhora de 60 anos que trabalha na limpeza do edifício, foi testemunha de sua rotina. “Ele dormia ali porque tinha um teto. No verão e no inverno, ligavam para os guardas e o tiravam. Eu sempre o avisava para acordar antes que o tirassem”, lembra Maria, com a voz embargada.

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O vínculo entre Juan e Sultán era inseparável. Juan se recusava a ir para abrigos ou hospitais, pois Sultán não seria aceito. Maria, que já resgata animais de rua, se tornou uma figura essencial em sua vida.

O Grito de Alerta de Maria e a Luta por Ajuda

No dia 26 de maio, Maria notou que Juan não estava bem. “Ele estava com um colchãozinho e uma manta fina, olhos com remela, e respirava com dificuldade”, conta. Ela insistiu para que ele procurasse ajuda médica, mas Juan relutava em deixar Sultán. Finalmente, em 28 de maio, Maria ligou para a emergência.

A demora no atendimento foi angustiante. Maria se dividia entre seu trabalho e a tentativa de confortar Juan. Ela flagrou guardas de bicicleta e os alertou sobre a situação e a demora da ambulância, que também tentaram apressar o socorro.

“Eu tentava sentá-lo, mas ele não conseguia. Dizia: ‘Seu Juan, vá para o hospital, eu cuido do cachorro’. Mas ele não queria se separar. Eu prometi que levaria Sultán para minha casa, e ele, balbuciando, só queria cuidar do cão”, relata Maria, emocionada. A situação era desesperadora. Juan estava congelado, vestindo apenas uma calça de verão, sem meias. Maria tirou as próprias meias e as colocou nos pés dele.

Quando a ambulância finalmente chegou, a médica diagnosticou um catarro e se recusou a levá-lo. Maria e outras vizinhas imploraram por ajuda, pedindo até mesmo uma receita para comprar os medicamentos. “Os guardas falavam mal de quem vive na rua, e eu chorava, dizendo que devíamos ter humanidade”, desabafa Maria.

A Promessa Cumprida e um Adeus Solitário

A persistência de Maria finalmente convenceu Juan a ir para o hospital Central, sob a promessa de que Sultán estaria seguro em sua casa. Ela o acompanhou até a entrada, onde tiveram que se separar. “Caminhei alguns metros, disse ‘que Deus o abençoe’. As últimas palavras dele foram: ‘cuide do meu cachorro’”, recorda Maria.

Ela levou Sultán para casa, com uma casinha improvisada e o colchão de Juan para que o cão não sentisse tanto a falta. No dia seguinte, descobriu que Juan estava na terapia intensiva, em estado grave. A falta de informações no hospital, por Maria não ser familiar, foi um obstáculo constante. Ela chegou a procurar o filho de Juan, também em situação de rua, mas sem sucesso.

Conheça a imagem de Sultán

Esse é Sultán em sua nova casa

Após ser transferido para um hospital mais distante, Juan Carlos Leiva faleceu em 4 de junho. “Me ligaram e disseram que ele havia falecido às 9h da manhã. Morreu sozinho, lá", conta Maria, visivelmente abalada.

Apesar das alegações do governo de que Juan não queria ir para abrigos, Maria enfatiza que a recusa era motivada pela proibição de entrada de Sultán, e por agressões que Juan sofreu em outras ocasiões.

A nova vida de Sultán

Hoje, Sultán tem um novo lar. A família de uma banca de jornal próxima, que conhecia o cão desde filhote, o adotou. “Eu disse a Juan que estava cumprindo a promessa de que Sultán teria um bom lar”, afirma Maria. A história de Juan é um lembrete comovente da lealdade incondicional e da necessidade urgente de soluções que respeitem a dignidade e os laços afetivos das pessoas em situação de rua.

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