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No Brasil, dados do
Um estudo recente do Instituto Karolinska, na Suécia, publicado no
A pesquisa analisou dados de 6.713 crianças e adolescentes, entre 6 e 17 anos, acompanhados por pelo menos um ano — em média, três anos — pelo Registro Sueco de Tratamento de Obesidade Infantil (BORIS). A coleta de informações aconteceu entre 1996 e 2019, e as análises foram feitas em 2023. Os resultados foram avaliados quando os participantes tinham entre 18 e 30 anos. A resposta ao tratamento foi medida de acordo com a mudança no Índice de Massa Corporal (IMC) e classificada como ruim, intermediária, boa ou remissão completa.
O impacto mais significativo foi observado nos casos de remissão completa da obesidade, com uma redução de 88% no risco de mortalidade, quando comparado a quem teve resposta ruim ao tratamento. Para os pesquisadores, isso reforça a importância de diagnosticar e tratar precocemente a obesidade, aumentando as chances de um futuro mais saudável.
“Não é a primeira vez que os suecos publicam um trabalho marcante sobre o tema. O estudo atual demonstra o quanto a obesidade pediátrica, cada dia mais prevalente e tão negligenciada, urge em ser tratada e tem em sua abordagem um potencial transformador para a vida toda, que agora fica comprovado”, avalia a endocrinologista Leandra Anália Freitas Negretto, do Hospital Israelita Albert Einstein em Goiânia.
Entretanto, apesar dos avanços nos desfechos físicos, o estudo mostrou que os riscos de depressão e ansiedade na idade adulta jovem permaneceram os mesmos, independentemente do sucesso do tratamento na infância. A expectativa dos pesquisadores era que a perda de peso aliviasse sintomas emocionais, mas os dados mostraram que essas questões precisam de uma abordagem específica.
“Isso nos chama a atenção e demonstra o quanto talvez subestimemos a complexidade que a ansiedade e a depressão envolvem. Seriam os prejuízos causados pelo estigma da obesidade muito mais profundos e danosos do que o que se imagina?”, questiona Negretto.
O aumento da obesidade infantil tem diversas explicações. Segundo o Atlas da Obesidade Infantil no Brasil, publicado em 2019 pelo Ministério da Saúde, 14,4% das crianças com menos de 5 anos e 13,2% daquelas entre 5 e 9 anos já apresentavam obesidade naquele ano. Entre os 5 e 9 anos, 29,3% das crianças estavam com excesso de peso, e 4,8% com obesidade grave. A previsão para os próximos anos também é preocupante: segundo o Atlas Mundial da Obesidade de 2024, metade das crianças e adolescentes pode estar com IMC elevado em dez anos.
Para a endocrinologista, ainda há muito a ser estudado sobre os motivos que levam tantas crianças a desenvolverem obesidade tão cedo. “Os motivos de cada vez mais crianças se tornarem obesas, e cada vez mais precocemente, devem ser descritos no plural e com reticências, pois ainda há muito o que estudar a esse respeito”, afirma.
Ela explica que o senso comum ainda responsabiliza o indivíduo, mas a obesidade é resultado de diversos fatores, como predisposição genética e um ambiente que favorece hábitos pouco saudáveis. “Nossa genética não mudou, mas, em um passado não muito distante, as crianças brincavam por horas na rua e comer em demasia era exceção. Hoje, as crianças estão mais enclausuradas e ansiosas em casa, muitas vezes com livre acesso a telas e alimentos ultraprocessados. Já a atividade física, quando presente, ocupa poucas horas do dia”, destaca.
Quando o diagnóstico de obesidade é feito, o tratamento para crianças com menos de 12 anos foca na mudança de comportamento e estilo de vida. No caso dos adolescentes, há também a possibilidade de uso de medicamentos. “É importante frisar que todo tratamento para obesidade e sobrepeso tem foco na alimentação e na atividade física, o que chamamos de mudança no estilo de vida. Sem esse passo, o tratamento torna-se muito mais desafiador e, muitas vezes, infrutífero, com recidivas e recuperação do peso perdido mais frequentes”, alerta a endocrinologista.
Ainda assim, convencer as famílias a adotarem essas mudanças não é tarefa fácil. O imaginário coletivo de que a criança pode ser apenas “gordinha” persiste. “Convencer familiares a mudarem seus hábitos de vida, com menos horas de tela, menos consumo de ultraprocessados e guloseimas, mais atividade física e maior ingestão de alimentos de verdade, é extremamente desafiador”, completa a médica
*Com informações da Agência Einstein
*Sob supervisão de Lucas Borges