Uma pesquisa publicada na revista científica Nature Metabolism indica que, durante corridas de longa distância como maratonas, o cérebro de atletas pode recorrer à gordura armazenada, especificamente a mielina, como fonte de energia. A mielina é uma substância rica em gordura que envolve as fibras nervosas e desempenha um papel crucial na transmissão dos sinais neurais.
Segundo o estudo, quando os níveis de glicose no organismo se tornam insuficientes devido ao esforço extremo, o corpo pode iniciar o consumo dessa camada protetora dos neurônios. Os cientistas deram nome a esse processo de “plasticidade metabólica da mielina”. Essa substância pode servir como uma reserva energética de emergência para o cérebro em situações de grande demanda energética, como a corrida de 42.195 metros.
Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores utilizaram ressonância magnética para analisar o cérebro de dez maratonistas antes e depois da prova. As análises realizadas entre 24 e 48 horas após a maratona revelaram uma diminuição significativa nos marcadores de mielina em regiões cerebrais ligadas à função motora, coordenação, integração sensorial e emocional.
A pesquisa também aponta que a recuperação da mielina é lenta e somente é notada após cerca de duas semanas da corrida, o processo pode durar até dois meses. Apesar dessa perda, os efeitos observados parecem ser leves e temporários.
O estudo destaca que as evidências podem contribuir para uma nova visão sobre a mielina como um estoque de energia pronto para ser usado quando os nutrientes comuns estão em falta. Os cientistas sugerem que essa adaptação pode ter tido um papel importante na evolução humana, uma vez que a mielina é mais abundante em áreas cerebrais de desenvolvimento mais recente e poderia ter permitido que nossos ancestrais caçassem por longos períodos sem prejuízo cognitivo.