O ex-boxeador José Adilson Rodrigues dos Santos, o Maguila, morreu nessa quinta-feira (24), aos 66 anos, em São Paulo. Ele sofria de uma doença chamada encefalopatia traumática crônica (ETC), associada ao pugilismo, e teve seu cérebro doado à Universidade de São Paulo (USP) para estudos.
Ele havia manifestado, em 2018, o desejo de doar o órgão quando morresse, a fim de ajudar as pesquisas sobre a doença que era acometido. A decisão foi endossada pela família de Maguila, algo que é exigido nos casos de doação de corpos para pesquisa.
Em Minas, é possível realizar essa doação para a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Em conversa com a Itatiaia, Kennedy Martinez de Oliveira, professor de Anatomia Humana Topográfica da Faculdade de Medicina da UFMG, explicou como é este processo.
Na universidade, o programa é chamado de “Vida Após a Vida” e já existe há 25 anos. Para doar o corpo, é necessário que a pessoa tenha no mínimo 18 anos e, assim que manifestar o desejo da doação pelo telefone (31) 3409-9739, é preciso ser cumprido uma série de requisitos. Primeiro, a pessoa é entrevistada por Kennedy, que é o coordenador do programa. Geralmente, segundo ele, são feitas entrevistas coletivas a fim de sanar todas as dúvidas.
No dia dessa conversa, geralmente feita às quintas e sexta-feiras, é necessário levar o documento de identidade e duas fotos 3x4. Em seguida, é assinado o termo de doação, com consulta da família - cônjuge, pai, mãe e filhos -, que será levado ao cartório.
Quando a pessoa morre, a família deve entrar em contato o mais rápido possível com a universidade, para que o corpo seja levado no melhor estado de conservação possível. Ele só não será aceito no caso de doenças priônicas e de mortes violentas.
Após a família entrar em contato, caso seja desejado, haverá o velório, em uma cerimônia curta, para preservar o estado do corpo. Em seguida, um carro oficial da universidade ou de alguma funerária que presta esse serviço à UFMG irá até o local para buscar o corpo e levá-lo à Faculdade de Medicina da UFMG, localizada na Av. Prof. Alfredo Balena, bairro Santa Efigênia, região Leste de Belo Horizonte.
Mais tarde, um representante da universidade entrará em contato com a família para marcar um horário para ir ao cartório e confeccionar o termo de cessão. Na certidão de óbito do doador constará que o corpo dele foi destinado à Faculdade de Medicina para fins de pesquisa e estudo.
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Por que é importante a doação de corpos?
Conforme explicou o professor, “não há nenhum substituto para o cadáver” nas aulas da universidade. A UFMG utiliza de diversas tecnologias para aprendizagem dos alunos, porém, os corpos são de suma importância para o ensino das mais diversas especialidades da Medicina e de outros cursos.
“O corpo é trabalhado na pesquisa, no ensino e também na extensão, através de diversas simulações de procedimentos cirúrgicos. Os especialistas vêm, fazem seus treinamentos no corpo e, com isso, além de treinar efetivamente, por exemplo, os acessos cirúrgicos, é a possibilidade desenvolverem técnicas, mecanismos, estruturas, para uma série de situações”, explicou Kennedy.
Os corpos duram, em média, 10 a 12 anos na universidade, a depender do método usado na conservação. Há, por exemplo, a prática do fresh frozen cadaver (cadáver fresco resfriado), usado para simulações cirúrgicas. Vale lembrar que, nesses casos, a universidade toma todos os cuidados e realiza os exames necessários. Depois de usado, a universidade entra em contato com a Prefeitura de BH, que indica o cemitério ideal para dispor os restos mortais.
Todas as informações sobre o programa Vida Após a Vida estão disponíveis no site da Faculdade de Medicina da UFMG. Caso esteja interessado, basta acessar este site para saber todas as informações.