PEC que acaba com refendo para privatizações de estatais é travada pela oposição na ALMG

Essa foi a terceira semana que deputados de oposição do governador Romeu Zema tentam impedir que a PEC seja votada na Comissão de Constituição e Justiça da ALMG

Governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo).

Após mais de duas horas de obstrução do bloco de oposição ao governador Romeu Zema (Novo) na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), a votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que elimina a obrigatoriedade de referendos populares para autorizar a privatização de empresas estatais — como a Copasa e a Cemig — foi adiada mais uma vez na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

A proposta entra, nesta segunda-feira (30), na terceira semana de obstruções desde que voltou à pauta da CCJ. O presidente da Comissão, deputado Doorgal Andrada (PRD) acatou o pedido da parlamentar Bella Gonçalves (PSOL), que alegou falta de quórum para prosseguir com a reunião.

O texto, de autoria do governador Zema, é considerado prioritário pelo governo. Além de extinguir o referendo popular, a PEC 24/2023 derruba também a exigência de quórum qualificado de três quintos dos deputados para aprovação da desestatização de empresas estatais.

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Durante a obstrução, os deputados do bloco Democracia e Luta questionaram a condução da reunião, por parte da Mesa Diretora, e apresentaram requerimentos para em votação nominal, ou seja, aberta, — todos derrubados pela base governista.

“Há um debate sobre soberania e com que facilidade o governador está conseguindo pautar uma PEC que irá tirar a soberania de Minas Gerais. Onde a energia e a água foram privatizadas, a movimentação é inversa. Não há um lugar do mundo em que deu certo”, disse a deputada Beatriz Cerqueira (PT).

Engajamento da sociedade civil

No site oficial da ALMG, mais de onze mil pessoas afirmaram ser contra a proposta do governo, enquanto apenas 315 afirmaram serem favoráveis.

Para o deputado estadual Professor Cleiton (PV), o engajamento da sociedade civil mostra que a população quer continuar participando das discussões que envolvem as empresas públicas.

“Qual o medo de fazer o referendo? De perguntar ao povo mineiro o que ele quer em relação às empresas? Qual o medo de consultar a população para ela decidir sobre aquilo que a pertence?”, questionou em Plenário.

De acordo com o deputado estadual Lucas Lasmar (Rede), a estratégia é ganhar tempo para conseguir um acordo e “diminuir danos” em relação à tramitação da PEC.

“Vamos continuar fazendo obstrução, entrando com requerimento, para que a gente possa atrasar ainda mais essa PEC do governador que quer vender a Cemig e a Copasa sem o referendo”, pontua.

Adesão ao Propag

O governo pretende abater através das federalizações pelo menos 20% da dívida com a União, para conseguir máximo benefício do Programa de Pleno Pagamento da Dívida dos Estados (Propag).

Porém, a Copasa e a Cemig, que estão incluídas nas propostas de federalização, precisam ter aprovação em referendo popular para serem privatizadas ou federalizadas. Uma mudança na lei seria necessária para pular esta etapa, o que é considerado pelo governo uma forma de facilitar e acelerar o processo de adesão ao Propag, que tem que ser totalmente concluído na ALMG até o final de outubro.

A retomada da tramitação da PEC foi anunciada no início deste mês pelo presidente da Assembleia, deputado Tadeu Leite (MDB), após ficar parada na Casa desde fevereiro.

Graduada em Jornalismo pela Universidade Federal de Minas Gerais, com passagem pela Rádio UFMG Educativa. Na Itatiaia, já foi produtora de programas da grade e repórter da Central de Trânsito Itatiaia Emive.

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