Um acordo judicial foi firmado entre a Advocacia-Geral da União e a família do jornalista Vladimir Herzog, morto em 1975 nas dependências do DOI-CODI - um órgão de repressão e inteligência ligado ao Exército durante a ditadura militar brasileira (1964-1985), em São Paulo.
O pacto foi formalizado menos de cinco meses após a ação ser ajuizada, celebrado no âmbito da ação movida pela família neste ano e prevê o pagamento de cerca de R$ 3 milhões, além da manutenção da reparação econômica mensal já recebida pela viúva, Clarice Herzog.
Para o advogado-geral da União, Jorge Messias, o entendimento firmado representa a reparação de violações cometidas durante o período autoritário. “A reparação à família de Vladimir Herzog promove justiça em relação a um dos episódios mais bárbaros da ditadura, além de reafirmar a disposição do atual governo federal de promover os direitos humanos, a memória e a verdade históricas”, afirmou.
A procuradora-geral da União, Clarice Calixto, destacou o simbolismo do acordo. “Com esse gesto, demonstramos que somos capazes de nos importar, de nos indignar profundamente. Respondemos à provocação de Herzog, que dizia que, quando perdemos a capacidade de nos indignar com as atrocidades praticadas contra outros, deixamos de ser seres humanos civilizados”, disse.
Vladimir Herzog
Vladimir Herzog foi um jornalista, professor e diretor de televisão brasileiro, cuja trajetória ficou marcada pela luta pela liberdade de expressão e pelos desdobramentos do regime militar no Brasil.
Nascido na Iugoslávia em 1937, ele imigrou com a família para o Brasil fugindo do nazismo. Formado em Filosofia pela USP, construiu carreira no jornalismo, passando por veículos de comunicação como o jornal O Estado de S. Paulo e a TV Cultura, onde chegou ao cargo de diretor de jornalismo.
Em 25 de outubro de 1975, Vladimir Herzog foi convocado para prestar depoimento nas dependências do DOI-Codi. No dia seguinte, foi encontrado morto sob a alegação oficial de suicídio.
As investigações apontaram que Herzog foi torturado até a morte. A missa celebrada em sua homenagem na Catedral da Sé, em São Paulo, reuniu milhares de pessoas e marcou um ponto de virada na resistência à ditadura militar.