Tarcísio e Ciro negam plano golpista de Bolsonaro após eleições de 2022 em depoimento ao STF

Governador de São Paulo declarou que nunca presenciou ou foi informado de qualquer intenção golpista por parte do ex-presidente Jair Bolsonaro

Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), prestou depoimento em ação que apura tentativa de golpe de Estado

O governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas, e o senador Ciro Nogueira (PP-PI) prestaram depoimento nesta sexta-feira (30) ao Supremo Tribunal Federal (STF) no processo que apura a suposta tentativa de golpe de Estado após a derrota de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2022. Ambos negaram qualquer conhecimento de intenções golpistas por parte do ex-presidente.

As oitivas foram conduzidas no âmbito das investigações da 1ª Turma do STF, que ouviu testemunhas indicadas pela defesa de Bolsonaro. Segundo os ministros da Corte, o objetivo é apurar se houve articulações para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Tarcísio: “Jamais houve menção a ruptura”

Ex-ministro da Infraestrutura e governador de Sâo Paulo eleito em 2022 com apoio direto de Bolsonaro, Tarcísio de Freitas declarou que nunca presenciou ou foi informado de qualquer intenção golpista. Segundo ele, os encontros com o ex-presidente após as eleições foram marcados por tristeza e resignação.

“Jamais [tive conhecimento de intenções golpistas]. Nunca. Assim como nunca aconteceu no meu período de ministério. Nas visitas que fiz ao presidente nesse período de transição, ele jamais tocou nesse assunto. Encontrei um presidente triste, resignado. Esse assunto nunca veio à pauta”, afirmou.

Tarcísio explicou que, após a eleição em 30 de outubro, viajou aos Estados Unidos para descansar e retornou cerca de dez dias depois para iniciar a transição de governo em São Paulo. Durante esse período, frequentemente viajava a Brasília, onde visitava Bolsonaro no Palácio da Alvorada.

“Toda vez que ia a Brasília, passava no Alvorada para prestar meu respeito e solidariedade. Conversávamos sobre preocupações com o futuro do país, como a continuidade de um governo que terminou com superávit mesmo tendo enfrentado crises como a hídrica, Brumadinho e a guerra na Ucrânia”, disse.

Ele também destacou que discutiu com Bolsonaro a montagem de sua equipe de governo em São Paulo, mas nega qualquer relação do ex-presidente com os atos golpistas de 8 de janeiro.

“Ele sequer estava no Brasil nesse período”, reforçou.

Ciro Nogueira: “Tudo foi feito dentro da normalidade”

Já o senador Ciro Nogueira, ex-chefe da Casa Civil e presidente do Progressistas, também rejeitou qualquer articulação golpista e destacou que foi o próprio Bolsonaro quem o nomeou para liderar a transição governamental.

“Por determinação do presidente, a Casa Civil ficou responsável por coordenar a equipe de transição para fornecer todos os dados sobre a situação do país. Isso mostra que houve respeito institucional”, afirmou.

Ciro relatou que, após o segundo turno, esteve com o presidente em várias ocasiões e testemunhou um comportamento recluso, em virtude de questões de saúde e do impacto emocional com o resultado das eleições.

“Ele ficou um pouco deprimido, teve um problema na perna e se recolheu por um período no Palácio. Ia até lá quando precisava despachar algo com ele, mas tudo foi dentro da normalidade. Em nenhum momento houve obstáculo à transição”, disse o senador.

Sobre os atos de 8 de janeiro, Ciro foi enfático: “Não tenho conhecimento de qualquer ligação do presidente com os fatos daquele dia. Muito menos incentivo ou incitação a práticas antidemocráticas.”

Outras oitivas

Além de Tarcísio e Ciro, outras testemunhas indicadas pelas defesas foram ouvidas, entre elas Ana Paula Marra, secretária nacional de assistência social, que relatou uma reunião no dia 6 de janeiro de 2023 com Anderson Torres — então secretário de Segurança Pública do DF — para tratar da desmobilização do acampamento em frente ao QG do Exército. Ela negou qualquer menção a planos golpistas.

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que também estava previsto para depor, foi dispensado pela defesa do ex-ministro Anderson Torres.

Na semana anterior, os ex-comandantes das Forças Armadas, general Freire Gomes (Exército) e brigadeiro Baptista Júnior (Marinha), confirmaram em seus depoimentos que Bolsonaro e o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, discutiram com os militares a chamada “minuta do golpe”.

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Supervisor da Rádio Itatiaia em Brasília, atua na cobertura política dos Três Poderes. Mineiro formado pela PUC Minas, já teve passagens como repórter e apresentador por Rádio BandNews FM, Jornal Metro e O Tempo. Vencedor dos prêmios CDL de Jornalismo em 2021 e Amagis 2022 na categoria rádio

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