PL que barra casas no Aeroporto Carlos Prates opõe vereadores de BH; entenda cenário

Texto para permitir que apenas atividades voltadas ao desenvolvimento econômico sejam instaladas na área do antigo terminal aéreo

Desativação do Aeroporto Carlos Prates aconteceu no início deste ano, em meio a sucessivos acidentes

O impasse entre a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e uma ala de vereadores da cidade a respeito da destinação do terreno do Aeroporto Carlos Prates, na Região Noroeste da cidade, ganhou novo capítulo. O poder Executivo quer utilizar o espaço para erguer casas populares, mas defensores da manutenção do terminal aéreo tentam emplacar projeto de lei (PL) que altera o zoneamento do espaço e impede a construção de um novo bairro.

Nesta terça-feira (10), o vereador Pedro Patrus (PT), relator do texto em uma comissão da Câmara Municipal, enviou requerimentos solicitando informações a uma série de secretarias municipais e entidades. O movimento, na prática, atrasa a tramitação do PL e ajuda a prefeitura a dar continuidade aos planos habitacionais.

Patrus admite que os pedidos de informação servem para “ganhar tempo” a fim de ampliar os debates com as comunidades afetadas com os rumos do aeroporto. O texto que altera o zoneamento da área está na Comissão de Direitos Humanos da Câmara de BH e, antes de chegar ao plenário para a votação em primeiro turno, terá de passar pelo comitê de Mobilidade Urbana, Indústria, Comércio e Serviços.

A eventual alteração na classificação do terreno permitiria que o espaço no Carlos Prates abrigasse apenas atividades voltadas ao desenvolvimento econômico. A mudança abriria caminho para o retorno das atividades aéreas, encerradas em 1° de abril.

Patrus, no entanto, diz que a proposta é “nociva” para a cidade.

"(Seria) uma alteração de zoneamento sem passar pelo Conselho Municipal de Política Urbana (Compur), que dá parecer sobre essas mudanças, sem conversar com a população e com a cidade. É um projeto de vereadores que insistem que o aeroporto continue a ser aeroporto - e contra habitação popular, praças, parques, UPAs, posto de saúde e escolas que seriam construídas naquele espaço”, protesta, à Itatiaia.

Os pedidos de informações foram solicitados um dia depois de o governo federal publicar, no Diário Oficial da União (DOU), o documento que transfere, à Prefeitura de BH, a guarda provisória do terreno. A expectativa é que a cessão definitiva do espaço seja assinada ainda neste ano, durante visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à capital de Minas Gerais.

Defensor do retorno das atividades do aeroporto, o vereador Braulio Lara, do Novo, critica a resistência à mudança no zoneamento.

“O que a gente tem visto é um grande esforço do Partido dos Trabalhadores e do prefeito Fuad Noman de atrasar a tramitação desse projeto de lei para salvar o Aeroporto Carlos Prates e, assim, ganharem tempo para ir tratorando toda uma vontade de fazer, a qualquer custo, casas populares no local”, defende.

Primeiro turno pode ser em dezembro

Apesar dos pedidos de informação, a tendência é que, no mês que vem, o PL do Aeroporto Carlos Prates siga para a Comissão de Mobilidade Urbana. Assim, seria possível votá-lo em primeiro turno em dezembro.

Na lista de entidades instadas por Pedro Patrus a opinar sobre o tema, estão, por exemplo, as secretarias municipais de Política Urbana e Meio Ambiente, bem como o Conselho Regional de Arquitetura e Urbanismo (CAU-MG) e a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).

Segundo o petista, o objetivo é conseguir manifestações acerca da “pertinência”, ou não, de tornar o terreno no Carlos Prates um espaço exclusivamente dedicado ao desenvolvimento econômico.

“Queremos ter a opinião desses órgãos para o nosso parecer, que deve ser contrário a esse projeto. É um projeto sem a participação popular, contra habitações populares e outros benefícios para a cidade”, sustenta.

Braulio Lara, por sua vez, se ampara em um abaixo-assinado que reivindica a reabertura das pistas de pousos e decolagens.

“Belo Horizonte tem o segundo maior polo formador de pilotos, entre outras coisas que o Aeroporto Carlos Prates nos traz. E a prefeitura quer jogar essa história no lixo. Isso é um absurdo”, assinala.

‘Minha Casa, Minha Vida’

No mês passado, o ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Alexandre Padilha (PT), aproveitou uma passagem por BH para debater a participação federal na construção das moradias. A ideia é utilizar o programa “Minha Casa, Minha Vida”. Segundo ele garantiu à época, as tratativas estão por “detalhes finais”.

“Belo Horizonte tem uma carência de moradia popular muito grande e estamos com um projeto no antigo aeroporto para construir 4,5 mil unidades. Temos mais um pleito do Minha Casa, Minha Vida, de mais 3 mil unidades. Isso não é de um dia para o outro, mas são quase 7,5 mil unidades, o que daria um alívio muito grande”, projetou, à ocasião, o prefeito Fuad Noman (PSD).

A ideia, inclusive, é que o projeto para o Aeroporto Carlos Prates seja um dos “carros-chefes” do PAC Seleções, modalidade do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) voltada a intervenções prioritárias sugeridas por estados e municípios.

Graduado em Jornalismo, é repórter de Política na Itatiaia. Antes, foi repórter especial do Estado de Minas e participante do podcast de Política do Portal Uai. Tem passagem, também, pelo Superesportes.

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