A relatora da CPMI do 8 de Janeiro, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), não descarta a possibilidade de realizar uma acareação entre o ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, com o ex-diretor-adjunto da Abin, Saulo Moura da Cunha - que prestou depoimento à comissão na última semana.
A decisão foi anunciada pela relatora, em entrevista à Itatiaia, depois que Torres negou ter recebido alertas sobre o risco de atos golpistas com a depredação dos prédios públicos da Praça dos Três Poderes no dia 8 de janeiro. O ex-ministro de Bolsonaro presta depoimento à CPMI nesta terça-feira (8).
A relatora Eliziane Gama afirmou que Anderson Torres precisa ser responsabilizado, uma vez que, segundo ela, o então secretário de Segurança Pública do Distrito Federal havia sido informado sobre a possibilidade dos atos golpistas.
“Os alertas também foram enviados para o telefone do Anderson Torres. Ele não pode se eximir dessa responsabilidade por estar de férias. Ele tem que ser responsabilizado porque recebeu alertas com antecedência e, mesmo assim, resolveu se ausentar do Brasil”, afirmou Eliziane Gama.
Na semana passada, o ex-diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência Saulo Moura da Cunha revelou, em depoimento à CPMI dos Atos Antidemocráticos, que a Abin produziu 33 alertas de inteligência entre os dias 2 e 8 de janeiro deste ano, quando ocorreu a depredação de prédios públicos na Praça dos Três Poderes.
Blitze da PRF
A relatora Eliziane Gama também comentou sobre a possibilidade de uma acareação entre Anderson Torres e o delegado da Polícia Federal, Leandro Almada, que o acusou de determinar que a corporação, junto da Polícia Rodoviária Federal (PRF), atuassem de forma conjunta na realização de blitze em rodovias no dia do segundo turno das eleições.
“Num primeiro momento, a acareação é dele [Anderson Torres] com o Almada. Claro que a gente pode evoluir em alguma coisa também referente a Abin. Mas, de fato, ele se contrapõe sobre esses informes”, lembrou a senadora.
O delegado da Polícia Federal Leandro Almada era superintendente da PF na Bahia, e acusou Anderson Torres de determinar que a corporação. junto com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) atuassem de forma conjunta - realizando blitzes no estado no segundo turno das eleições de 2022.
Anderson Torres afirmou, em depoimento à CPMI, que não houve interferência do Ministério da Justiça e Segurança Pública, que era chefiado por ele, no esquema operacional da PRF e da Polícia Federal no segundo turno das eleições.
Segundo ele, a orientação da pasta era para que as polícias coibissem eventuais crimes eleitorais. Anderson Torres frisou que nenhum eleitor foi impedido de exercer o direito ao voto e afirmou que nunca questionou o resultado das eleições, ressaltando que foi o primeiro ministro a colaborar com o governo de transição.