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PCMG indicia 10 envolvidos em espancamento e morte de homem em Juiz de Fora

Vítima foi acusada de abusar sexualmente de uma criança. No entanto, crime não foi confirmado nas apurações da PCMG

A Polícia Civil identificou 13 pessoas no envolvimento da morte de um homem, de 38 anos, no Bairro Santa Cecília. Dez foram indiciados por homicídio qualificado.

No dia 10 de janeiro de 2025, ele foi brutalmente espancado por suspeita de ter abusado sexualmente de uma criança de 10 anos. O fato não foi confirmado durante as investigações da Polícia Civil.

Das 10 pessoas indiciadas, seis estão presas e já se encontram no sistema prisional, inclusive a mãe da criança, de 34 anos, o companheiro dela, de 26, e o pai dele, de 57 anos. Um dos presos estava na viatura policial que se envolveu em um acidente de trânsito na sexta-feira (31)

Outras quatro ainda estão foragidas. Além disso, três adolescentes que também participaram do crime vão responder por ato infracional análogo ao homicídio na Vara da Infância e Juventude.

Imagens em redes sociais ajudaram na identificação dos envolvidos

A titular da Delegacia Especializada de Investigação de Homicídios, Camila Müller, explica como aconteceu o crime.

Após o fato, a mãe saiu à rua, chamou um outro responsável que ela conhecia de um outro bairro para tentar localizar. No primeiro momento, eles rodaram pelo bairro de carro e não conseguiram identificar quem teria sido esse suposto estuprador. Aí, algumas horas depois, salvo engano, lá pras 21h30, avisaram à família onde ele estava. Quando a família chegou, com a criança, porque ela levou a criança junto com ela, essa pessoa já tava sendo agredida por populares e aí foi agredida até virar óbito”.

As imagens do espancamento que foram divulgadas em redes sociais foram utilizadas para identificar os envolvidos no crime.

“A gente conseguiu identificar todos os envolvidos que apareceram nos vídeos, porque a vítima estava sendo agredida até momentos antes daquele vídeo que se espalhou em rede social via WhatsApp. Três deles são adolescentes, representamos toda a prisão de todos eles e a Justiça decretou a prisão. A maioria deles veio aqui, prestou depoimento, mas relataram ‘eu só dei um chute’, ‘agredi’, ‘a mãe que falou que ela tinha sido estuprada’, quando não tem indício nenhum de que aconteceu, de fato, esse crime anterior de uma violência sexual.”

Conforme a polícia, a vítima não era uma pessoa malvista no bairro e tinha uma única passagem em 2009 por estelionato.

Denúncia de estupro não foi confirmada, afirma titular da Deam

A possível ocorrência de um abuso sexual cometida pela vítima foi tema de uma investigação na Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (Deam). A apuração constatou que não houve esse crime, como detalha a delegada Alessandra Azalim.

“A criança foi submetida a exame de corpo de delito posteriormente aos fatos. Foi detectado apenas um arranhão no braço que, segundo a própria criança, teria sido provocado por um cachorro. Ouvindo o relato espontâneo da criança não restou configurada esta questão do estupro. Isso a gente também verifica também através de outros elementos que estão presentes no inquérito policial. O próprio relato da mãe, que foi ouvida, ela fala que não houve um estupro e eles não teriam certeza de que foi a vítima quem teria segurado no braço da criança. A gente tem que tomar cuidado na hora de falar se é um estupro. O agarrar tem uma conotação de segurar no braço ou uma conotação com fim libidinoso para satisfação da lascívia de alguém? Porque muda. Agarrou o braço da criança não quer dizer que seja um estupro, pode ser outro tipo penal. No primeiro momento a gente pode dizer que não houve a prática do estupro”, disse Alessandra Azalim

O risco de fazer ‘justiça com as próprias mãos’

Devido a situação, as delegadas alertam para sobre os perigos de fazer justiça com as próprias mãos. Segundo Camila Miller, estão ocorrendo muitos casos onde as pessoas deixam de buscar as autoridades para a investigação adequada.

“Eu acho muito importante frisar que a Polícia Civil, as forças de segurança vão atuar com todo o seu afinco para evitar esse tipo de prática que a gente tem visto que tem acontecido pela cidade. Ao invés de procurar a polícia, aciona um suposto justiceiro do bairro para fazer justiça com as próprias mãos. E é extremamente temerário ver o que aconteceu com a vítima agora que, por sem motivo, foi espancado por diversas pessoas e acabou falecendo. Então, é muito importante que a população se atente a isso, porque dessa vez foi ele, mas pode ser você, seu irmão, enfim, acusado injustamente. Então, a gente tem que ter muita responsabilidade para apontar alguém”, ressaltou.

A delegada Alessandra Azalim reiterou o cuidado com a crença em divulgações em redes sociais que não são verdade.

“Então, a gente faz um alerta à sociedade que, quando você toma conhecimento de um fato criminoso, é levar ao conhecimento das autoridades, levar ao conhecimento da segurança pública para que as forças de segurança possam atuar e averiguar, instaurar um procedimento, ou agir na forma devida. E não fazer exercício arbitrário das próprias razões, e ficar divulgando notícias falsas nas redes sociais também. Isso tem acontecido muito em Juiz de Fora e traz consequências drásticas”, completou.

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Joubertt Telles é graduado em jornalismo pelo Centro Universitário Estácio Juiz de Fora, em 2010, e possui curso de Processo de Comunicação e Comunicação Institucional pela Fundação Getúlio Vargas. Trabalha na Itatiaia Juiz de Fora desde 2016, como repórter e apresentação. Prêmio Sindicomércio de Jornalismo 2017, na categoria rádio. Prêmios do Instituto Cultura do Samba como destaque do jornalismo local, em 2016 e 2017. Já atuou na Rádio Globo Juiz de Fora, TVE e Diário Regional, além de ter desempenhado função de assessor parlamentar na Câmara Municipal de Juiz de Fora.
Natural de Juiz de Fora, jornalista com graduação e mestrado pela Faculdade de Comunicação da UFJF. Experiência anterior em Rádio, TV e Internet. Gosta de esporte, filmes e livros. Editora Web em Juiz de Fora desde 2023.
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