Brasil e Argentina se enfrentam nesta terça-feira (25), às 21h (de Brasília), no estádio Mâs Monumental, em Buenos Aires, pela 14ª rodada das Eliminatórias para a Copa. No entanto, o jogo não ocupa o principal destaque do site do Diário Olé. A área ‘mais nobre’ do portal abre espaço para uma reportagem especial detalhando casos de racismo na América do Sul.
O texto traz detalhes do primeiro caso de racismo registrado no continente, o primeiro ataque ao Brasil e exemplos de ofensas sofridas por Vinícius Júnior, atacante brasileiro e do Real Madrid-ESP.
Além do contexto histórico, a reportagem também utiliza números de uma organização brasileira. De acordo com o último relatório do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, datado de agosto de 2024, foram 576 casos envolvendo racismo de 2014 a 2023.
A reportagem, intitulada ‘Um mal que dura 100 anos: o racismo na América do Sul, desde os “africanos” uruguaios e os brasileiros pintados de branco até a luta de Vinicius Jr’ é extensa e ocupa o principal destaque da capa do portal argentino.
Primeiro caso em 1916
Foi na Argentina, ainda antes da criação da Confederação de Futebol Sul-Americano (Conmebol), o primeiro caso de racismo registrado. A partida entre Chile e Uruguai, que terminou com vitória uruguaia por 4 a 0, foi marcada por ataques a dois uruguaios: Isabelino Gradín e Juan Delgado.
O Olé destaca também que o constrangimento foi também midiático. Registros do jornal “El Mercurio”, do Chile, mostram o seguinte trecho: “Há dois africanos negros que são jogadores profissionais entre os uruguaios e dois brancos que também deveriam ser incluídos nesta categoria”. A reportagem ainda pede que o Chile peça os pontos da partida por ter ‘escalado africanos’.
Racismo impediu Brasil e Argentina há 105 anos
Uma manifestação racista, feita por uruguaios, impediu que a partida entre Argentina e Brasil fosse realizada em 1920 e provocou a primeira grande briga entre os históricos rivais com o racismo sendo o motivo.
No dia 6 de outubro, quando seria disputado o amistoso entre Brasil e Argentina, chegou à delegação brasileira a edição do jornal “A Crítica” de três dias antes em que o jornalista uruguaio Palacio Zino, que esteve no Rio de Janeiro cobrindo o Sul-Americano de 1919, publicou um artigo com o título: “Monos em Buenos Aires – um saludo a los ilustres huespedes” (imagem abaixo)
O artigo, que tinha como ilustração uma charge de Taborda, outro uruguaio, em que os jogadores brasileiros apareciam como macacos, com a camisa da Seleção, era carregado de racismo e preconceitos contra os brasileiros e brasileiras, que eram tratadas como mulheres fáceis e infiéis.
Friedenreich
Outro ponto citado foi a história do atacante brasileiro Arthur Friedenreich. Tratado como “O Pelé antes de Pelé". Neto de imigrantes alemães e filho de uma lavadeira negra, Friedenreich se tornaria o primeiro mestiço a atuar pelo Brasil. O atacante, que chegou a ter 1.329 gols contabilizados na carreira, pintava o rosto de branco e alisava os cabelos para não se mostrar negro.
Omissão de episódio racista
O Olé não cita a capa racista que fez circular em 31 de julho de 1996. À época, a Seleção Argentina disputava os Jogos Olímpicos de Atlanta. Após vencer após vencer Portugal, o jornal colocou na capa “Que venham os macacos”, já que jogaria contra Brasil ou Nigéria. O episódio causou conflitos diplomáticos e, no dia seguinte, foi publicada uma retratação oficial por parte do jornal.
Cenário atual e ataques contra Vini Jr
A reportagem é finalizada com uma descrição do atual cenário. Além dos números do Observatório do Racismo, há registro dos ataques sofridos por Vini Jr na Espanha em clássicos contra o Atlético Madrid. Há também destaque para as falas do ex-goleiro paraguaio Chilavert, que diz que os brasileiros “são os piores racistas”.
O texto destaca que há uma legislação própria para tratar do racismo no Brasil. Cita também que a questão dentro do próprio país é observada, como em 2005, quando Tinga foi alvo de injúrias raciais durante o jogo entre Internacional e Juventude, em Caxias do Sul. Alício Pena Júnior, árbitro da partida, relatou que a torcida do Juventude imitava um macaco sempre que o volante tocava na bola.